Manuel Dâmaso
Sargº.Môr Paraqª.
Azeitão
Em 1969 estava eu na minha segunda comissão na Guiné, Tinha-me oferecido por estar à bica para ser nomeado para Moçambique e estar convencido que a duração da comissão ainda era de 18 meses, camaradas tinham-me dito que as operações em Moçambique eram muito longas, andava-se muito e passava-se muita sede, mais uma vez fruto da minha outra especialidade de mecânico, devido ao desempenho na comissão anterior, tinha sido colocado no Pelotão de Manutenção Auto que pertencia à CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas).
Estava nesta situação havia cerca de um mês e meio, inopinadamente no 29 de Maio a uma sexta-feira fui ler a Ordem de Serviço antes de sair do Quartel como militar que se preze deve fazer, qual não foi o meu espanto, ao ler que eu sem ninguém me ter dito “água vai”, tinha sido transferido para a CCP 122.
Legenda: Alguns elementos da CCP 122 onde eu aterrei, militarem muito aguerridos
A CCP 122, quando fui para lá estava a ser comandada por um tenente, e vinha com uma série de êxitos eram muito experientes, tinham passado por Gandembel e por outros buracos idênticos obtinham resultados das operações semanais que vinha realizando, fazendo muitas baixas, capturas de guerrilheiros e muito material de guerra.
Legenda: Pessoal e Material capturados pela CCP 122 na operação “Titão” no Morés em 24 de Abril de 1969 (Foto H BCP 12)
O tempo de espera em Mansôa era ocupado com uns jogos de matraquilhos
Legenda: Mesa de Matrecos
Havia também um ponto crítico chamado de a Serração
Em Mansabá dormia numa camarata cuja parede era arejada por buracos quadrados, os catres estavam equipados com uns colchões muito velhos e sujos e sujos.
Um belo dia num Sábado em Bissau estava em casa depois de ter tomado banho, estava à mesa e apareceram-me uns bichinhos achatados a passear sobre os meus sobrolhos, fiquei mais que encavacado, foi uma “chatice”, só depois associei o caso aos colchões velhos.
Legenda: A Caserna esburacada dos “chatos” em Mansabá (Foto H BCP 12)
Foi uma experiência porque desconhecia que as perdizes pousavam sobre as árvores, no Alentejo nunca tinha visto, recentemente alguém me disse que as viu levantar muitas vezes de oliveiras e chaparros, em miúdo encontrei ninhos de perdizes, enjeitavam com muita facilidade, os perdigotos camuflavam-se bem e eram muito difíceis de apanhar.
Legenda: Uma galinha-do-mato
Legenda: Uma perdiz Africana
Legenda: Largada de Pára-quedistas na Guiné (Foto Álbum de memórias do BCP 12)
Legenda: Uma DO 27 a levantar voo
Legenda: Uma acácia rubra igual à que existia em Mansabá
Durante o mês de Junho a Companhia continuou com o ritmo operacional de uma operação por semana, Mansabá tinha uma coisa boa que era uma água levezinha como não bebi na Guiné em lado nenhum, cheguei a levar água para Bissau em garrafões de 10 litros, nunca mais esqueci Mansabá por ter sido a minha primeira experiência na Guiné da guerra a sério, mesmo nas duas operações em que tomei parte, apesar de não ter dado um único tiro, fizeram-se prisioneiros, apanhou-se muito material de guerra, queimaram-se cubatas e destruiu-se arroz, mas presenciei situações que me recuso a transcrever e que me marcaram, vi como a guerra transforma os seres humanos em “bichos” perdendo a vertente humana, a partir daí pela maneira como fui lançado para a situação, ia sempre que era nomeado, mas não se pode dizer que me sentisse muito feliz por lá andar.
A minha estadia em Mansabá não chegou a um mês, porque fui para lá no dia 30 de Maio e no dia 28 de Junho já estava a caminho de Teixeira Pinto, gostei de ter conhecido Mansabá comparada com outros buracos por onde andei era um oásis, passei lá pela estrada quatro anos depois, indo do K3 (Farim) para Bissalanca em 2 de Junho de 1973, regressando de Guidage da Operação “Mamute doido”, da estrada observei que tinha aumentado muito em casernas novas.
Saudações Aeronáuticas
Dâmaso