sexta-feira, 1 de julho de 2011

Voo 2392 JÁ NAQUELE TEMPO,NEM NO NATAL SE PODIA SER BOM!





Manuel Lanceiro
Esp.MMA “Canibais”
Lisboa




Pequena história II (Pai Natal)

Véspera de Natal, a meio da manhã (íamos sair de alerta à 1H00 da tarde) o chefe avisa-me o 9399 tinha acabado de aterrar com uma avaria, o piloto tinha escrito no livro “ressaltos no manche”.Ressaltos no manche; Formigueiro nos pedais; scotch descolado nas pás e vibrações no solo, eram as avarias mais comuns na nossa linha. Qualquer destas avarias era de fácil resolução.
Neste caso, foi simples, uma lavagem cuidada para retirar qualquer grão de areia, uma lubrificação abundante nas fricções do manche e o problema resolvido.
De seguida, para ver se o problema estava resolvido ou se era mais grave, fui pedir um voo de experiência.Dirigi-me ao Grupo Operacional (eu preferia ir do que telefonar, sempre bebia qualquer coisa) o primeiro Piloto que encontrei, foi exactamente o meu amigo, aquele da “cagáda mais segura da Guiné” e disse-lhe ao que vinha.

- É pá, aguenta aí, vou pedir ao Comandante para me deixar fazer este voo. Disse-me ele.
Autorização concedida, virou-se para mim e disse:
- Vamos fazer de “Pai Natal”, avisa o S.P.M. para levar, para a placa, o correio dos aquartelamentos aqui há volta.
Assim fiz. Passado um bocado, chegou um jeep cheio de sacos de correio e lá carregamos o aparelho.
Procedimentos de descolagem efectuados, autorização da torre e lá vamos nós. Passávamos à vertical dos aquartelamentos e sem aterrar deixávamos cair os respectivos sacos.
Acabámos de largar o último saco e regressámos à Base com um brilhozinho nos olhos.
Quando aterrámos, o piloto avisou-me, para evitar chatices, que não comentasse o que tínhamos acabado de fazer. Pois, para além de não ser permitido, tínhamos ultrapassado todas as normas de segurança.
No dia de Natal, lá nos encontrámos em Bissau, e nem tocámos no assunto.
No dia seguinte, já na linha, apareceu-me o meu amigo piloto e disse-me:
- Pá já viste o Capitão?
- Porra, levei uma “pissada” todo o tamanho, vamos lá a ver se me safo sem levar uma porrada. Então não é que aqueles sacanas desataram todos a mandar mensagens a agradecer-lhe o envio do correio na véspera de Natal.
- Um gajo já não pode ser bom.
Apesar de não ter responsabilidade, também fiquei “à rasca”, sabia que ia levar um raspanete.
Não esperei muito, pois passado um bocado, chegou o Capitão e foi a minha vez de levar nas orelhas à antiga portuguesa, não serviu de nada os meus argumentos natalícios.
Quando já estava a ver a vida a andar para trás, disse-me já com um ar mais calmo:
- Para a próxima, ele leva um porradão e a ti f....-te as férias.
- Estão mesmo bem um para o outro.
- Porra, já chega …
Moral da história, até para se fazer de “Pai Natal”, é preciso ter sorte”.

E a vida lá ia andando...

Manuel Lanceiro

VB: Bom Dia Manel!
Pois com certeza que as tuas histórias são sempre interessantes para a valorização deste nosso espaço, só é pequena serem pouquitas…