Victor Sotero
SargºMor EABT
Lisboa
Meu Comandante:
As minhas saudações ao "Comando", à "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nas suas "abertas" nos vão visitando.
Aproveitando também esta "aberta" eis-me numa aterragem com uma estória para contar.
A minha especialidade sempre foi difícil para promoções. Havia primeiros sargentos com quase 17 anos de posto.
Eu, como sargento ajudante era o mais velho. Se saísse para fora do ramo, daria lugar a algumas promoções.
Porque se tinha dado uma vaga no Centro de Apoio Social de Oeiras (CASO-OEIRAS), a Direcção do IASFA (Instituto de Acção Social das Forças Armadas)
solicitou à Força Aérea disponibilidade para a colocação de um sargento em Oeiras.
Chamado à DSP (Direcção do Serviço de Pessoal), foi-me explicada a situação da especialidade e claro que aceitei a proposta até com algum orgulho.
Dias depois, uma mensagem, uma guia de marcha, passagem pela Base do Lumiar e lá estou a apresentar-me na Direcção do IASFA, à Rua Pedro Nunes.
Foi-me dito que o meu destino era Oeiras e que a colocação seria no Aprovisionamento.
Chegado a Oeiras, apresentações como é normal.
No dia a seguir eu já estava sentado a uma secretária enviando FAX`s e E-MAIL`s para firmas que não conhecia fazendo convites a diversos fornecimentos
de material. Eu queria "correr" com as firmas que já forneciam materiais diversos à muitos anos ao CASO-OEIRAS. Queria também fazer baixar as despesas com estas novas firmas.
Este serviço de prospecção demorou ainda algum tempo.
Sabia que estava destinada uma carrinha Renault com matricula civil, mas entretido no meu novo "papel", não estava preocupado.
O Chefe da Secção de transportes, um sargento ajudante do exército na reserva, que se dizia gostar muito de "passear" pelo corredor da Direcção, telefonou-me algumas vezes para
ir levantar a carrinha.
Ao fim de uma semana, e porque ainda não me tinha preocupado em levantar a viatura, o camarada ajudante pega na carrinha e vai ao meu serviço.
Quer entregar-me a carrinha, os documentos, o cartão de combustível, e o cartão para as portagens dentro de um envelope.
Do que me havia de lembrar?
-Oh, companheiro, onde é que a carrinha tem Estado?
-Não te preocupes, ela tem estado na oficina e não tem feito serviço nenhum.
-Não, o que eu quero saber é onde é que ela tem Estado.
-Ela tem aqui uma pequena amolgadela mas não há problema. Fez-se uma revisão. Está muito boa de motor, é só meter gasóleo.
-Porra, oh camarada, eu só quero saber onde ela tem Estado, mais nada!
O camarada ajudante virou-me costas e apesar de o ter chamado diversas vezes, nem para trás olhou.
O meu chefe, um Capitão da Força Aérea tendo percebido as minhas perguntas, por detrás dos vidros de uma janela ria-se "que nem um perdido" juntamente com as duas funcionárias civis que nos acompanhavam no serviço de Aprovisionamento.
Boa!... Boa!... diziam.
Eu ria-me também, mas com o "desgosto" deste camarada não me ter sabido dizer onde é que a carrinha tinha Estado.
Peguei na carrinha e fui direito à secção de transportes. Reparei que o ambiente era algo pesado.
Chamei o camarada ajudante à rua e perguntei-lhe "armado em vitima".
-Então o camarada estava a brincar comigo?
-Então a carrinha não tem colocado nos pára-choques a placa com a palavra Estado?
Olhou, pensou por breves instantes e sorriu.
Depois, deu-me uma palmadinha nas costas e disse:
Ficas guardado para a próxima!
Ficamos amigos, mas de vez em quando lá lhe ia perguntando em ar de gozo.
-Onde é que a carrinha tem Estado?
Despeço-me do "Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "Zés" que nos visitam com um até breve.
Sotero