segunda-feira, 4 de julho de 2011

Voo 2398 RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (2)




ANTÓNIO DÂMASO
SARGº.MOR PARAQª.
AZEITÃO


O BATISMO DE FOGO NA GUINÉ

Depois de eu ir para a Companhia, às sextas faziam-se operações relâmpago de heli-assalto com a duração de um dia na zona de Bula em Choquemone, uma dessas operações calhou numa sexta dia 13 de Junho que até era dia de Santo António, efeméride que no momento não me lembrei, saímos de Mansabá fomos transportados em viaturas, passámos por Mansôa, seguimos pela estrada em direcção a Bissau paramos numa Tabanca quase paralela a Encheia, conhecia o local por já ter transportado para lá Companhias de Páras, era um local de eleição para lançar Héli-assaltos na zona a partir dali, uma vez levei uma Companhia de manhã e à tarde tive de ir buscá-la por falta de tecto (céu limpo) para actuar, outra vez fui mesmo pela picada até junto ao rio Mansôa recolher uma Companhia, na margem do rio frente a Encheia, dessa vez tive de levar uma escolta de dois homens por viatura.

Fomos heli-transportados para o Objectivo que era a bolanha de Jundum Choquemone, tratava-se da operação “Orfeu” na qual tomaram parte a CCP 122 a 3 grupos e combate e a 15.ª C de Comandos, não vi ninguém dos Comandos mas de acordo com o RO, eles estiveram no terreno, lembro-me de ir no Héli momentos antes do assalto e ter pensado: Sexta 13, alguém se vai lixar, espero que não sejamos nós, e não fomos, foram eles, também com bombardeamento prévio e apoio do Heli-canhão, para dissuadir os mais teimosos não podia ser de outra maneira.
Legenda: Zona de Jundum Operação “Orfeu”

Legenda: Um avião T6 em voo na Guine (Foto do Pára Albano Martins Álbum de memórias do BCP 12)

Legenda: Uma parelha de aviões FIAT em voo, na Guiné não voava assim juntinhos


Legenda: Uma largada Héli na Guiné, (Foto Mor S Rosa Álbum de memórias do BCP 12)

Fui largado na ponta sul da bolanha, cujo efectivo era de 20 homens que correspondia a quatro Hélis, apesar de periquito naquelas andanças, era o mais antigo como tal tive de assumir o comando, recebi ordem do PCA, (posto de comando aéreo) que andava lá em cima a comandar a operação para me dirigir para norte ao encontro do resto do pessoal da Companhia, mandei o Cabo Oitenta com a sua MG para a frente meti-me atrás dele e lá fomos, embora fosse um iniciado, sabia da competência daqueles homens, já tinham passado Gandembel e por outros buracos idênticos, estavam endurecidos pela guerra, sentia-me seguro e integrado.

Os que saltaram a norte entraram logo em acção, quando se deu a reunião já tinham alguns prisioneiros e cheguei a tempo de ver sacar mais dois de dentro de uma vala cheia de água, onde se encontravam a respirar por uma cana de capim, um militar mais atento viu as bolinhas de ar à superfície e os guerrilheiros não escaparam.

Legenda: Uma DO em voo, uma faz tudo (Foto Álbum de memórias dos pára-quedistas)

Já se encontravam alguns elementos a juntar o material apreendido, para depois carregar nos Hélis, eu recebi ordem para destruir as palhotas do acampamento, andava por lá um casal de velhotes confusos com o aparato, a meu ver atendendo à idade, acho devia ter havido um pouco mais de condescendência na maneira de os tratar, fui educado a respeitar os mais idosos, os buracos causados pelas bombas largadas ainda fumegavam, preocupei-me primeiro em manter a segurança s só depois foi a destruição do acampamento pelo fogo


Legenda: Pára-quedistas na destruição de um Acampamento (Foto Álbum de memórias do BCP 12)


Legenda: O comandante da CCP 121 a carregar armamento no Héli na operação “Adónis” em 1969 (Foto H BCP 12)

Como a operação foi resolvida num dia em poucas horas, fomos recuperados para João Landim, local onde eu já tinha ido muitas vezes levar e recolher Companhias de Páras e depois via auto para Bissalanca, ainda deu para fazer uma visita à família.


Legenda: Héli em aproximação para recuperação (Foto Cabo Pára Lopes Álbum de memórias do BCP 12)


Legenda: Recuperação Héli (Foto Cabo Lopes Álbum de memórias do BCP 12)

Dali em diante comecei a conhecer mais de perto, alguns pilotos dos Hélis que até ali conhecia de vista e que nos transportaram, uma vez que ia sentado ao lado do piloto.


Legenda: Alguns dos pilotos de Héli que me transportaram para as operações e na recuperação (Foto cortesia do Alf. Jorge Félix com a devida vénia)

Resultados da operação “Orfeu”:

17- Guerrilheiros abatidos,

12 -Guerrilheiros Capturados,

1- Metralhadora pesada Guryunov,

1 -Morteiro 60,

1 -LGF RPG 7,

1-Espingarda automática Kalashnikov,

1-Espingarda semi-automática Simonov,

1-Carabina Mosin Nagant,

1- Espingarda Mauser,

2- Carabinas Zbrojovska,

1- Pistola-metralhadora Beretta,

1- Pistola-metralhadora Schmeisser,

2- Pistolas-metralhadoras M-25,

1- Pistola-metralhadora Thompson,

6- Pistolas-metralhadoras PPSH,

36 Granadas diversas,

5- Minas A/P,

32.100 -Munições para armas ligeiras,

Material diverso, fardamento, medicamentos, etc.

A CCP 122 sofreu 4 feridos ligeiros, eu não dei um único tiro porque não tive ninguém na mira de fogo, mas deu para verificar que a margem direita do rio Mansôa era perigosa e que a linha entre a vida e a morte era muito ténue o que obrigava a matar para não morrer, o comportamento dos militares tornava-se quiçá mais desumano em tal situação.

Saudações Aeronáuticas

Dâmaso