quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Voo 2456 " LINHA DA FRENTE".





Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa



Plano de voo

Ota para Base Aérea nº6, Montijo
A meu lado o mecânico Armando Cascais, tisnado pelo Sol da ilha Terceira. No banco traseiro, o Castelo Branco que também da ilha Terceira da freguesia de S.Sebastião nos vai enviando “ramos de hortênsias” de variadas cores.
Através dos auscultadores chega-me a voz do controlador “Salgadinhos, Gin, Moscatel, Sopa de peixe, Bacalhau com natas, Lombo de porco recheado com Farinheira e Ameixa, Batata assada, Legumes salteados”! Autorizado a descolar, vento calmo.
Suavemente avanço a manete do gás até o ponteiro se imobilizar nas 2.500 R.P.M.
O pequeno Auster vibra nervosamente com este aumento de potência. Num momento a que a rotina me habituou, os meus olhos percorrem atentos os mostradores do pequeno painel de instrumentos.
“Tudo O.K.” – penso para comigo enquanto alivio a pressão dos pés nos travões. O avião começa lentamente a rolar pela pista ganhando velocidade até se elevar docemente no espaço.
O Cascais acena-me com a cabeça fazendo o tradicional sinal com o polegar bem levantado para cima.
Pela pequena janela semi-aberta aspiramos o odor refrescante de terra húmida.
Como está distante mas paradoxalmente bem presente aquele primeiro Sábado de Setembro de 2010, nas Cortes, próximo de Leiria!...
Um leve toque do meu companheiro Castelo Branco apontando-me a massa imponente do Tejo.
O altímetro marca 750 pés, enquanto sob as asas desfilam como num pequeno presépio casas minúsculas, estradas, riachos rasgando o retalhado multicolor da terra. A lezíria, a ponte de Vila Franca de Xira, e mais à frente a Vasco da Gama.
Quanto tempo temos? – Pergunta-me o Cascais.
Respondo-lhe com um sorriso, enquanto vou dando uma mirada rápida ao cronómetro.
Avista-se ainda longe a fita de alcatrão da Base do Montijo.
O Sol já vai alto e por entre pequenos cúmulos o nosso Auster reflecte-se como num espelho nas calmas águas do Tejo, naquele Tejo, testemunha da tantos feitos heróicos dos aviadores portugueses.
Sobrevoamos neste momento o Montijo. Junto à porta de armas, há cabeças que se erguem para nós, olhos que nos seguem com certa curiosidade.
Rápidamente começamos a cantarolar uma contagem decrescente os segundos que faltam para aterrar.
Demos início à volta para a final ao mesmo tempo que o ronronar do motor agora reduzido se vai tornando mais ténue até mal se ouvir.
Sintonizados com a torre de controle ouvimos o controlador. “Requeijão com doce de abóbora, Salada de frutas, café, digestivos, vinho, cerveja, whisky velho”. Autorizada aterragem. Vento calmo. Visibilidade 10 Km, humidade 86% pista em uso 069.
Um estremecimento mais forte e aterrámos!
Saímos rapidamente da pista e rolamos para o estacionamento.
Magnetos desligados, cintos desapertados, portas abertas e saltamos para terra firme.
Uma viatura da Base esperava-nos para nos levar à porta de armas, local da concentração dos “Zés” que operam na “Linha da Frente”
Abraços, muita alegria de quem não se via à um ano. Fotografias de grupo.
São neste momento 10 horas da manhã do dia 3 de Setembro de 2011.
Temos ainda muito que andar e visitar para além do almoço que nos está destinado.
O nosso regresso à Ota está previsto para depois das 17 horas.

Sotero


Legenda:O "piloto" e a Auster.
Foto: Victor Sotero (direitos reservados)

VB: Muito bem Sr. Comandante, vamos fazer votos que o voo de regresso seja igual a este.