segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Voo 2587 QUANDO O "PATACÃO"SE TORNAVA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO.




Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa




Pedindo autorização à torre para mais uma aterragem, saúdo o “Comando”, a “linha da Frente” e todos os “Zés” que nos vão “espreitando”.
Aeródromo Base nº3-Negage, porta de armas.
Pela frente, uma enorme língua de alcatrão com cerca de 5 Kilómetros que nos levava até à Vila.
À saída da porta de armas, um campo de futebol de terra batida sempre bem “arranjado”,sob o nosso lado esquerdo.
Um pouco mais e escondida pelo capim, uma enorme lagoa. A lagoa do Congo Agrícola.
A meio do mês, quando o “patacão” já não abundava e as saídas para a vila ou para a sanzala se tornavam mais raras, havia sempre motivos que tornavam os “zés”, mesmo sem dinheiro, uns ricos “zés”.
Enquanto uns lavavam a roupa da semana nas celhas, outros deixavam-se passear pela vila e outros ainda, com gosto pela jardinagem, tratavam dos jardins junto dos alojamentos.
Aos fins-de-semana e do meio do mês até ao fim, havia calma nos alojamentos.
Por esta altura, normalmente aos sábados, havia quase sempre futebol. Por vezes, eram manhãs ou tardes inteiras.
O domingo era sempre para descansar mas eu sabia que a lagoa do Congo Agrícola tinha peixe.



Legenda:O Sotero, pescando no pequeno pontão da grande lagoa do Congo Agricola.
Foto:Victor Sotero(direitos reservados)

Legenda:Na camarata, da esquerda para a direita: Sotero, Tavares, Carreira, Fur Lageira, (falecido) 2º Sargento Baptista e ? alentejano MMA.
Foto:Victor Sotero(direitos reservados)

A Maria Camacho tinha-me dito que havia muito peixe pequeno.
Na Esquadrilha de Abastecimento, havia um colete de sobrevivência abatido, que pertencia a um piloto falecido num acidente de T-6.
Retirei do colete uma pequena caixa de plástico com os apetrechos próprios para a pesca e lá comecei as minhas “grandes” pescarias no Negage com um pequeno caniço.
Na lagoa, um pequeno pontão feito de tábuas e alguns troncos de árvores. Por aqui, as raparigas da sanzala também lavavam a roupa dos “maridos”.
Os peixes eram pequenos e parecidos com carapaus. Em pouco tempo, apenas com um anzol, se pescava uma boa quantidade que por vêzes alguns ia parar à sanzala para serem secos nos “telhados” de capim das palhotas.
A maior quantidade ia para a minha camarata, claro. Um pequeno fogão, a frigideira emprestada pelo Clube de Especialistas, o óleo que era dado pela messe bem como o pão. A grade de cerveja Nocal ou Cuca, bem fresquinhas e alguns convidados.
Passava-se assim um fim-de-semana quase “teso” mas rico na amizade e camaradagem que não nos faltava “naquele” tempo já tão distante. Apanágio e respeito que hoje não há, infelizmente.
Despeço-me, meu “Comandante”
Despeço-me também da “Linha da Frente” e dos “Zés” que nos vão “espreitando”.

Atré breve.

Sotero