quinta-feira, 8 de março de 2012

Voo 2751 O GRANDE COMANDANTE MOURA PINTO.




Jorge Mariano
Alf.Engº.Quimº.
Coimbra





O Grande Comandante Moura Pinto… a PA … e o Gen. Spínola



Como estarão recordados a BA12 em 1972 sofreu um ataque sem consequências de2 RPG disparados do fundo da pista do lado nascente. A consequência disso foi a segurança da Base ter sido alterada criando-se novas normas. O Senhor Major Paraquedista que comandava a PA da BA12, foi encarregado de elaborar as novas regras que incluíam um novo controlo para acesso das viaturas.
Logo no primeiro ou segundo dia de entrada em vigor das novas regras eu estava de Oficial de Dia á Base.
Quando eu estava de Oficial de Dia circulava toda á noite pelos postos, pelos bares por todo os locais onde alguém estivesse acordado, porque sempre senti que o gabinete do Oficial de Dia á Base era o local menos seguro da Base.  Depois, por volta das 6h da manhã regressava ao Gabinete pedia para me acordarem ás 7h30 e deitava-me e “passava pelas brasas” cerca de uma hora até ir assistir aos pequenos almoços.
Como por certo se recordam o Gen. Spínola entrava todos os dias  na base por volta das 6h30 da manhã e partia normalmente de heli para os locais, onde havia operações,  que tinham sido atacados na véspera ou outros.
As “estúpidas” das novas normas que tinham introduzido, obrigavam todas as viaturas militares que chegavam á porta de armas a parar, identificar o condutor, identificar os ocupantes e depois seguir. Contudo as viaturas, mesmo que civis, dos fornecedores da base essas não precisavam de ser identificadas, eram conhecidas, entravam sem parar.
 







Legenda: Porta de Armas da Base Aérea nº 12,em Bissalanca,Guiné.
Foto:Especialistas da BA 12 (direitos reservados)

Pois bem nesse dia, chegaram á porta de armas, a viatura, julgo que do padeiro, seguida da viatura do Gen . Spínola e que aconteceu?
De acordo com as normas o praça PA levantou a cancela e cumprimentou o padeiro que nem parou, e baixou a cancela e foi identificar o condutor do carro do General.
Estão todos a ver a situação que se gerou!
O General ficou escamado e perguntou ao praça se não o conhecia. Ele respondeu que conhecia sim senhor, que era o nosso General mas que tinha ordens para identificar o condutor.
Aí o General enervado manda chamar o Sargento da Guarda. (o  sargento que estava de serviço era o Sargento da messe, estava nessa altura nos pequenos almoços…!!!) .
O PA que estava junto ao carro pergunta para o outro junto á Casa da Guarda:
Oh! Pá viste o nosso sargento? Responde o outro:
- Já não vejo há um bocado, mas espera que vou chamá-lo. 
Em dificuldades os nossos praças ligam á Central telefónica da Base, e o General ouve nos altifalantes:
- Atenção, Atenção chama-se o Sargento de Serviço á Porta de Armas!!
O General ficou furioso e então ordena ao praça PA:
- Grite “Ás Armas!!!”
Não sei se o rapaz gritou, o que sei é que não aconteceu nada…Ninguém formou…!!!
Bom lá levantaram a cancela deixaram passar o General e foram-me acordar. O General ia “louco” , parece que junto á Placa gritava gesticulava. E em boa verdade não era para menos…  Eu fui logo ler as normas e verifiquei que não tinha que formar com a Guarda. Quanto se gritava “Ás Armas”! quem tinha que formar e comandar a Guarda, era o Sargento de Dia.
Passado para aí 1hora recebo um telefonema do nosso Comandante Moura Pinto que me pede para ir ao Gabinete dele.
Entrei e diz-me ele: -  Oh! Mariano já sabe da chatice com o nosso General?!
Respondi que sim, que por acaso até estava no Gabinete mas que não dei fé de nada do que se tinha passado!...
E pergunta o Cor Moura Pinto:
- e o Sargento onde estava?! Respondi : - Como sabe, meu comandante, quando se está de serviço acumulam-se  as atribuições normais que cada um tem e neste caso o sargento de Dia era o sargento da messe, e estava a dar o pequeno almoço o pessoal.
- Bom uma chatice!!! (afirmou…).  E continuou:
Bom, você vai ter de participar do Sargento, ouvi-lo e depois manda o auto para mim. E olhe, vamos ver se o nosso General se esquece…Se ele se esquecer, nós também! Se ele não se esquecer, lá teremos de dar uma “porrada” no sargento.
Assim se passou. Ouvi o sargento, informei-o particularmente destas condições e, 2 ou 3 meses depois, como o General se esqueceu, rasgou-se o processo.
Grande homem e grande sentido de Justiça tinha o nosso Comandante.


 VB: Recordo-me perfeitamente desse dia em que a Base foi atacada.
Vinha do Clube de Especialistas onde tinha ido comprar umas bebidas e uns bolos para a malta que estava no quarto que habitávamos juntos. De repente ouço a saída de foguetes e de imediato o seu rebentamento.
Soou o alarme da unidade e era ver a rapaziada toda a correr para a vala de proteção que se situava entre as ruas e os quartos.
Sobre o Com. Moura Pinto, era na realidade um SENHOR. De uma delicadeza extrema e respeito por todos, independentemente da sua patente.
Paz á sua alma.