domingo, 18 de março de 2012

Voo 2769 TANCOS OUTRA REALIDADE (2)




António Dâmaso
Sargº.Môr Paraqª.
Azeitão




O Curso de Pára-quedismo (2)


O Voo de adaptação


Ainda um pouco de história das Tropas Pára-quedistas.




Legenda:Pioneiros do Curso de Espanha na Serra da Cargueira (foto da Revista Pára-quedista N.º 8 JUN 2001)





Legenda:16 de Julho de 1959, PR passando revista à guarda de honra na BA 3 comandada pelo Major PQ Robalo



Legenda:Porto 1 de Outubro de 1959 (foto Revista Os Pára-quedistas n.º 20 de Março de 2009




Legenda:Um curso de Pára-quedismo equipando na Placa da BA 3 para mais um salto (Revista Os Pára-quedistas N.º 25 de Agosto de 2010)
Praticamente passados 50 anos, ainda conservo algumas memórias intactas:
 Depois de mês e meio no duro, era uma sexta-feira, na parte da manhã efetuarem-se a prova física que depois de efetuadas com aproveitamento, havia uma sensação de bem-estar  generalizada, a parte mais difícil tinha sido ultrapassada, na parte da tarde vinha outra experiência, contada mas não vivida pelos candidatos a Páras.
Chegou o desejado voo de adaptação, depois da formatura das 14 horas, lá fomos em passo de corrida para a Placa da BA 3, formaram-se as patrulhas que eram constituídas por dez a doze elementos e recebemos ordem por patrulha, a ir ao camião dos pára-quedas, levantar um saco contendo um conjunto de dois pára-quedas o dorsal e o ventral (reserva), ficamos todos formados alinhados com os sacos afrente dos pés, depois veio a ordem seguida por gesto de equipar, os Junkers roncavam aquecendo os motores, era mais uma rotina porque já tinham-mos ensaiado o equipar várias vezes, sabiam-mos de cor e salteado os nomes de cada tira do arnês, depois de equipados vieram dois monitores um por trás e outro pela frente inspecionando se o pessoal estava todo bem equipado, aquela inspeção transmitia-nos segurança, depois a ordem de numerar e a seguir as primeiras patrulhas receberam ordem de embarcar e restantes ordem de “costas com costas sentar”.

Dirigimo-nos aos aviões para embarcar, já tinham-mos simulado embarques equipados, mas aquilo agora era a sério porque havia o ruído dos motores dos aviões, entrámos e ocupámos os nossos lugares de acordo com a numeração, pares à direita e impares à esquerda, os aviões foram-se fazendo à pista, começaram a rolar com os motores acelerados, para mim e para a maioria era o batismo de voo, o avião ia percorrendo a pista até que senti que o avião estava no ar, era uma sensação agradável, mas só me senti mais descansado vi que estava uma altura que em caso de avaria permitia a utilização do pára-quedas, o avião ia ganhando altitude aquela sensação de alegria foi ligeiramente alterada com outra desconhecida, apareceu o fenómeno dos “poços de ar”o avião ia muito bem na horizontal e de repente parecia afundar-se, aquilo era depois de almoço, tive a sensação de que o estômago me saltava pela boca e houve um que não aguentou o almoço no estômago, lá foi o capacete servir de saco de enjoo.
Para desanuviar o Monitor, com cara de gozo. Mandou a malta cantar o Hino e depois a marcha dos pára-quedistas, aquilo animou o pessoal, depois apareceu o que já esperavam-mos:
Acendeu-se a luz vermelha, queria dizer que estávamos a 4 minutos? Da zona de saltos, seguiram-se as vozes sempre acompanhadas de gestos de levantar! Enganchar! Verificar equipamento e numerar, estava tudo pronto, veio uma pergunta que exigia uma resposta convincente:
-Vamos Saltar? Resposta alta e bom som; - Vamos! …Apareceu a luz verde com um toque de campainha, depois o Monitor deu ordem ao militar que estava à frente da coluna.
- Em posição! … Este deu um passo em frente, atirou o gancho e a tira extractora para a frente, rodou para a direita e avançou mais um passo, de modo a que a biqueira da bota ficasse saída da porta do avião, ao mesmo tempo que assentava a nádega no calcanhar contrário, e as mãos com os dedos esticados e unidos, num gesto do centro para fora, iam fixar-se nas ombreiras da porta, este ritual todo porque a porta do avião tinha pouca altura e havia a necessidade do para-quedista quando na saída ficar o mais afastado possível da fuselagem do avião.
O militar cumpriu à risca aquilo que tinha treinado inúmeras vezes, estava em posição só faltava o Clix que era a voz de Já.
Esta não veio e em vez disso o monitor perguntou-lhe que se ele o mandasse saltar se saltava? Claro que respondeu alto e bom som que saltava, só que este estava bem agarrado para não ter a tentação de saltar, constava que num voo de adaptação um militar em situação idêntica tinha mesmo saltado, daí os monitores estarem preocupados em os segurar, o primeiro tinha passado no teste, recebeu ordem de levantar, desenganchar e ir para a frente do avião, este procedimento repetiu-se a todos os elementos da patrulha, no final tinham passado no teste, estavam adaptados, voltaram a cantar mais uma marcha e regressámos felizes por ter concluído mais uma etapa, veio a aterragem, equipados que é uma coisa que os pára-quedistas não gostam, quando se metem num avião é para saltar, mas por vezes devido a condições atmosféricas desfavoráveis o bom senso determina que se cancelem os saltos.






Legenda:Um JU 52 a descolar.
Foto: H das TP



Legenda;Uma patrulha de Pára-quedistas dentro de um JU.
Foto: H das TP



Legenda:Conjunto de Pára-quedas T 10, utilizado no meu Curso




Legenda:JU 52 em pleno voo.
 Foto: Memórias das T. Pára-quedistas



Legenda:Hino e Marcha dos Pára-quedistas publicado na Revista o Pára-quedista n.º 3 de Março de 2000

Saudações Aeronáuticas

A. Dâmaso

VB: Bom-Dia António.
Mais uma vez nos presenteias como mais uma bela passagem tua pela grande elite militar que são as tropas paraquedistas. Estes teus textos são de uma riqueza tão grande que nos conseguem colocar na realidade dos factos.
Venha o próximo.