quarta-feira, 11 de abril de 2012

Voo 2816 TANCOS OUTRA REALIDADE (3)




António Dâmaso
Sargº.Môr.Paraqª
Azeitão



Ao Comando da Base solicito autorização para mais uma aterragem para manutenção.
Junto envio  uma reportagem das minhas memórias de há 50 anos que agradeço a gentileza editar e publicar.


CURSO DE PARA-QUEDISMO (3)


SEMANA DE SALTOS





Legenda: Vista parcial do RCP à época.
Foto; H TP


Legenda: Um dos JU em serviço na época, tinha para mim um defeito que era as reduzidas dimensões da porta :Foto: H TP.

O voo de adaptação tinha acontecido a uma sexta da parte da tarde, meteu-se o fim-de-semana, que foi longo, parecia que o tempo teimava em ser lento.
Lá chegou a segunda-feira, naquele dia até mesmo os mais dorminhocos, não esperaram que o plantão os viesse acordar depois do toque de alvorada, muito antes já andava o pessoal todo de pé, sentia-se uma espécie de nervoso miudinho de ir saltar para o espaço, era um dia diferente e todos o sentiam, ia-se dar início à tão desejada semana dos saltos.
Depois da formatura das 8 horas lá fomos em passo de corrida até à placa da BA 3,uma vez chegados, formados e alinhadinhos ficámos à espera das ordens que não tardaram em vir:
Carregar material; Equipar; Inspeção; Numerar, os aviões começaram a aquecer os motores, ouviam-se os “rateres” seguidos de fumarada, o tempo estava bom, o vento ainda não tinha “levantado “o que nos trazia alguma tranquilidade, também lá apareceram umas jovens enfermeiras que tal como nós iam experimentar novas sensações, a minha patrulha era a segunda não houve tempo para engonhar foi sempre a andar, entramos para o avião com disposição para dar o pontapé no espaço.
O avião fez-se à pista, acelerou os motores a fundo e arrancou, foi ganhando velocidade até que ficou com as rodas no ar, O Regimento, Base 3 e Engenharia ficaram para trás, como era o primeiro salto, a altitude foi para os 600 metros, luz vermelha acesa e ordens para levantar, enganchar, verificar equipamento e numerar, estava tudo OK o pessoal estava desejoso de sair do avião, acendeu-se a luz verde e veio a voz de em posição para o primeiro, assim que o avião atingiu a vertical do “T”, veio a voz de Já e com cadencia fomos todos saindo às vozes de ,Em posição e já.
Mal saí do avião senti-me empurrado pela deslocação do ar e rodei para a esquerda, apertado de braços contra o peito acima do Reserva e pernas unidas, senti-me sacudido pelos choques de abertura, estes acabaram e havia trabalho a fazer que era verificar se o para-quedas tinha aberto sem problemas, tínhamos treinado para resolver as várias situações prováveis em caso de deficiência na abertura, mas olhei para cima estava tudo na “ponta da unha”, verificada a redondeza não havia camaradas por perto, chegou a vez de apreciar aquela sensação de rei do Universo que só se sente no primeiro salto, alguns extravasaram a alegria com comentários como “isto é uma maravilha”, não houve muito tempo havia trabalho a fazer, veio uma voz das minhas costas: -“Chega-te para lá”! Tive de manobrar para me afastar e ver a deriva, ver para onde o vento me estava a levar e qual o tipo de aterragem que tinha de executar, tomei a posição de aterragem e aguardei o contacto com o solo que foi suave, estava dado o primeiro salto.



Legenda: Aproximação ao solo.
Foto: H TP.

Legenda: Uma aterragem com rolamento e sem vento.
Foto: H TP.

Legenda:Esta
 foto ilustra as posições nas várias fases de abertura automática.
Foto: H TP.

Desequipámos, recolhemos os para-quedas e lá fomos todos contentes para o local da reunião, quando a turma estava reunida fomos a penantes até ao Cais do Arrepiado para fazer a travessia de jangada até Tancos Civil onde nos aguardava uma viatura para nos transportar para a Unidade.Depois das 14 horas lá fomos novamente até à Placa da Base, já se fazia sentir uma aragem mas ainda dentro dos chamados limites de segurança, lá fomos saltar novamente e este salto já não foi igual ao primeiro, depois do para-quedas abrir verifiquei que tinha um enrolamento dos cordões e como me foi ensinado manobrei para o desfazer, depois verifiquei a deriva e constatei que estava vento que me levava para mais longe, tomei a posição de aterragem e preparei-me bem apertado para o impacto com o solo, fiz o rolamento mas não me consegui aguentar de pé, fui puxado para o chão com alguma violência e lá fui arrastado uns bons metros, aquele para-quedas tinha muito diâmetro, estávamos sujeitos aos arrastamentos, no Campo de Saltos existiam sulcos de arrastamentos com centenas de metros.


Legenda: Foto que ilustra um salto num dia de vento em que a totalidade dos para-quedistas estão a ser arrastados pelos para-quedas.
Foto: Revista Boina Verde.

Os saltos foram-se seguindo até que chegou o último, foi na parte da manhã havia pouco vento, foi uma largada de vários aviões em simultâneo, aterrei perto de um laranjal ainda de reduzidas dimensões, o dono andava a correr de um lado para outro a lamentar-se:
-“Dão-me cabo de tudo!” Como que a dar-lhe razão um PQ aterrou sobre uma árvore esgaçando-lhe uma pernada.


Legenda:Salto
 num dia sem vento ou de vento reduzido junto do laranjal.Foto: H TP




Legenda:Uma
 aproximação ao solo.
Foto: H TP.

Legenda: Largada de vários aviões em simultâneo .Foto: H TP.

Legenda:Largada
 simultânea de uma esquadrilha de Junkers 

Foto: H TP.

Eram-mos, para-quedistas, só faltava a cerimónia de atribuição da Boina e do Brevete, as Boinas também foram lançadas de para-quedas e a cerimónia deu-se numa formatura mesmo no Campo de Saltos.Terminámos o curso de Para-quedismo o 16.º em 12 de Abril de 1962, tinha ganho a primeira etapa passei a ganhar 250$00 por mês que era metade do subsídio de risco aéreo, mas ainda tinha 6 meses de tirocínio pela frente para mostrar o que valia para não regressar a Lanceiros 1.


Legenda: A minha patrulha no último salto à espera da Boina verde que desceu em para-quedas, o capacete passou a servir só para saltar.Foto: A. Dâmaso.

Legenda:Os
 emblemas da época que tanto custaram a ganhar

Legenda:Foto
 de família do 16.º Curso de pára-quedismo, último curso só com militares oriundos de outras Armas.Foto: A. Dâmaso.



À SEMELHANÇA DO QUE ACONTECEU EM 2011, ESTÁ PREVISTO ORGANIZAR UM ALMOÇO EM TANCOS NO MÊS DE OUTUBRO, PARA DISTRIBUIR UM DIPLOMA COMERATIVO DO 50.º ANIVERSÁRIO DOS CURSOS QUE TERMINARAM NO ANO DE 1962.
SEGUE UMA LISTAGEM DOS INDIVIDUOS QUE SE PRETENDE HOMENAGIAR, AGRADEÇO A QUEM SOUBER DE ALGUM DESTES ELEMENTOS, DE PREFERÊNCIA VIVOS E DE BOA SAÚDE, QUE COMUNIQUE AO BLOGUE.

Os nomes que não constam são porque a Entidade organizadora já sabe a situação dos mesmos.
Saudações Aeronáuticas
A. Dâmaso