sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Voo 2624 A PRENDA DE NATAL DO FERNANDO MOUTINHO.







Fernando Moutinho
Cap.Pil.Av.
Alhandra




Natal de 2012


Ao viver este Natal de 2012 não pude deixar de recordar o Natal de 1966, em Angola.
1ª Viagem a Teixeira de Sousa
Esta aventura tem que se lhe diga.Eu e outro piloto bastante conhecido, tínhamos chegados à B.A. 9 pouco antes do Natal
No Dia de Natal de 1966, estávamos de alerta os dois.Como não tínhamos família connosco ficamos de serviço nessa noite.
Mas, nessa mesma noite, houve um ataque a Teixeira de Sousa, na fronteira Leste de Angola. Num local até aí calmo aparece esta provocação.
Reacção: enviar uma parelha de F-84 para patrulhar a zona para mostrar força e moralizar a população.
Claro que, como estávamos de alerta, fomos nomeados para a missão.Enquanto colocavam depósitos suplementares, os nossos conhecidos “pylons” (a viagem era longa) tentamos obter cartas aeronáuticas para preparar a viagem. A Região Aérea forneceu-as. Fizemos os cálculos e descolamos um pouco após o almoço.
Deve dizer-se que, até aí, nunca os F-84G se tinham afastado da zona de Luanda.
A viagem seria: sobrevoar Henrique Carvalho (no Leste), continuarmos até Teixeira de Sousa, sobrevoar esta povoação e aterrar em H. Carvalho.
Fizemos a viagem a 20.000 pés, por cima de nuvens e, de acordo com os nossos cálculos, iniciámos a descida consoante calculávamos a 20 milhas fora mas, devido à distância (julgávamos nós) e à baixa qualidade das ajudas rádio, a essa distância, ainda não se sintonizava o radiofarol HC nem se falava com a Torre.
Saímos das nuvens cerca de 2000 pés acima do terreno e, surpresa: quando devíamos estar a ver a Base – nada. Chamamos – sem resposta.
Estávamos praticamente “perdidos” mas com combustível. Avistámos uma picada e seguimo-la e, pouco depois, uma povoação que, felizmente, como era costume em Angola, tinha o nome escrito no telhado. Essa povoação estava no mapa mas cerca de 50 milhas antes de H. Carvalho. Era esquisito mas nada se poderia fazer nessa altura. Seguimos a picada e… H. Carvalho.Falamos com a Torre e, foram surpreendidos – não tinham sido avisados da nossa chegada e tinham o radiofarol desligado – era Dia de Natal e não tinham movimento. Expliquei-lhes a nossa missão pedindo-lhe que colocassem os candeeiros de iluminação na pista pois chegaríamos já de noite.
Sobrevoamos o aeródromo e fomos para Teixeira de Sousa onde demos duas ou três voltas para nos mostrar ao ”IN” e ao mesmo tempo animar as nossas “hostes”.
Começamos o regresso já ao lusco-fusco e já perto de HC, verifico que não tenho recepção do radiofarol. Incrível! Chamo a Torre e respondem-me, alguém tinha desligado a rádio ajuda.
Enquanto iam ligar o equipamento, continuamos o voo e passados alguns minutos como a noite estava muito escura apercebo-me do clarão dos potes de iluminação. Acabamos por aterrar em segurança mas já “apertados” em termos de combustível – daria para cerca de 10 minutos. Tempo de voo 2:55 h.
O problema da Torre deveu-se à mudança de turno, rotina e ser domingo e Natal ninguém foi avisado do voo extraordinário.
Após mais 2 voos de soberania na área, regressamos a Luanda no dia 29 tendo corrido tudo normal.
 

Legenda: Na Foto podem ver-se os F-84 com depósitos ditos pylon.
Foto: Cortesia dos Chamuanzas.


Esta viagem teve vários problemas, alguns impensáveis – Nada se saber em H. Carvalho foi o mais incompreensível.
Faltava explicar o erro de navegação. Em Luanda e com calma tento compreender onde esteve o erro. As 2 cartas aeronáuticas fornecidas pela região Aérea eram de origem americana e fiáveis. Juntei as cartas, refiz os cálculos mas os resultados mantiveram-se. Até que reparei que o erro correspondia a ± 60 milhas náuticas. “Acendeu-se uma luz” - correspondia a 1 grau nos paralelos.Conclusão, as cartas fornecidas não se podiam justapor, faltava exactamente uma faixa de 60 milhas náuticas de terreno.
Mais um erro em que me sinto também culpado mas não espectável.

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