terça-feira, 28 de maio de 2013

Voo 2794 A ALEGRIA DE UM REENCONTRO.






Victor Barata
Esp.Melec/Inst,/Av.
Vouzela





Não me recordo quando nem que é o seu autor, mas certo dia li num livro qualquer esta frase: - “A NOSSA VIDA É UM HISTORIAL DE RECORDAÇÕES.”
Pois de facto assim é,tenho tido muitas e recentemente uma que foi uma verdadeira surpresa.
Terei que recuar no tempo para que a situação seja devidamente compreendida.
No dia 13 de Outubro de 1971,pelas 23:55h,no aeroporto militar do Figo Maduro, embarquei num DC-6 da Força Aérea portuguesa com destino ao aeroporto de Bissalanca,na Guiné para cumprir uma comissão de serviço militar na Base Aérea nº 12 designada pelo mesmo nome do referido aeroporto.
Depois de fazer escala na Ilha do Sal em Cabo Verde, aterramos em Bissalanca pelas 8:00h da manhã.
Desembarquei e quando entro no terminal, de imediato sou abordado por um companheiro Especialista que me pergunta:
- É pá,que especialidade é a tua?
- Sou Melec de Instrumentos e Aviões, respondi eu um pouco interrogado com a sua interpelação, pois ainda estava com a mala na mão e a chegar para a “guerra” e de repente, sem falar com ninguém oficialmente aparece-me este gajo com esta pergunta, com um aspecto de “apanhado do clima”… Agarra-me no braço, ajuda-me a levar a bagagem e no trajecto diz-me:
-É pá eu também sou da tua especialidade e já estou a "lerpar" dois meses de comissão, vais fazer-me um favor, vou levar-te ao Cmt.de Esquadra e tu dizes que me vens substituir.
Acabadinho de chegar, não conhecendo nada, sem me apresentar, quer civil, quer militarmente a ninguém e de repente aparecer este gajo com esta história, fiquei um pouco intrigado e pensativo. Mas ali não dava tempo para pensar em nada que não fosse alinhar com ele. Foi o que fiz, disse-me o nome completo (António…Pratas) e lá me fui apresentar ao Cmt.Esqª. Cap.Ferreira.
Eu que nunca tinha trabalhado com as aeronaves, pois só tinha a teoria dos cursos que me tinham ministrado em ano e meio, ouço dizer-lhe:
-Ok,então o Pratas pode tratar desquite e, virando-se para mim, a partir de amanhã apresentação na linha da frente das DO-27. Fiquei sem pinga de sangue…linha da frente?
Então…não tenho pratica nenhuma e vou para a guerra? O Pratas dava-me toques no sentido de não dizer nada. Bom,saímos e ele nem me deu tempo para tecer qualquer tipo de comentário,disse-me de imediato:
-Não te preocupes que eu ainda cá estou umas duas ou três semanas e vou andar sempre contigo a meter-te na engrenagem.
Sinceramente que pensei de imediato que ao acabar de chegar já estava entalado.
Não,de facto o Pratas cumpriu a sua palavra e posso dizer que,embora não ficasse a saber muito, mas quando ele partiu deixou-me minimamente preparado para o que mais tarde vi a verificar ser o essencial.
Este meu Companheiro deve ter deixado a Guiné em finais de Outubro ou princípios de Novembro de 1971,sem que nunca mais o tivesse encontrado ou soubesse do seu paradeiro,apenas sabia que era do norte do país.
 Mas herdei da FAP uma particularidade muito grande,a AMIZADE E O SAUDOSISMO. Então não me contive enquanto não encontrei o Pratas. Á cerca de dois anos, através das páginas brancas e depois de “bater” a algumas portas erradas, consegui ouvir a sua voz através do telefone.
- Estou,és o Pratas?
-Sou,quem é que fala?
-É o Victor Barata, o gajo que te foi substituir á Guiné.
Depois do diálogo inerente a este tipo de situações, ficou a promessa de nos encontrar-mos rapidamente. Por razões diversas, esse encontro nunca se realizou.

Legenda: Um reencontro após quarenta e dois anos de separação entre mim e o Pratas
Foto: Cortesia do Miguel Pessoa 


Acontece que no passa dia 25,por altura do Encontro dos Especialistas da BA 12 m Aguiar de Sousa, que o destino que numa simples apresentação nos cumprimentasse-mos!
Bom, não sei o que vos dizer. Foi de uma alegria indescritível, foi um correr de contar o acontecimento a quem podia fazê-lo.
No fundo foi um reencontro depois de 42 anos entre dois homens que se conheceram num dia,conviveram 15 e que fizeram uma amizade perdida reencontrada neste dia 25.
Ficou a promessa de, agora sim, nos reencontrar-mos mais vezes.
Um forte abraço Pratas.

Victor Barata




2 comentários:

  1. Interessante a hitória da chegada do Victor Barata à Bissalanca. Deve ter sido muito feliz o momento desse reencontro. Tive pena de não ter podido estar presente, conforme tinha prometido, mas nessa semana fui com a Giselda e Miguel ao encontro da Tabanca do Centro e no dia seguinte ao aniversário da BETP. Outra saída na mesma semana já era demais para a minha resistência. Para todos,um abraço, pois os "Especialistas" da Guiné e os das tipulações DC4 e DC6,ficaram-me no coração,foram com os que mais convivi.Mª Arminda

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  2. Bom Dia Maria Arminda,na realidade a sua presença no seio desta grande família,é sempre uma HONRA.
    As suas palavras carregadas de um sentimento profundo que todos nós sentimentos,se nós estamos no seu coração,pode querer que a Maria Arminda,assim como todas as Enfermeiras (GRANDES MULHERES DE GUERRA!).estarão SEMPRE no nosso coração também.
    Ainda vão ter que nos acompanhar no nosso último voo!
    Obrigado AMIGA E COMPANHEIRA!

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