Victor Mesquita
Esp.EABT
Algueirão
Olá amigo Victor.
Conforme falámos vou
relatar aquela minha “aventura” penso que em Setembro de 73.
Como o meu pai não quis que
fosse para a pilotagem, pois era Capitão TOCC e disse que já chegava de
“sustos”,( pois ele no início da carreira ia morrendo quando o “Bristol
Blenheim” em que ia, se despenhou e incendiou em Espinho), quando fui em comissão
para a “Colónia Balnear de Bissalanca” decidi tirar o “Brevet” Civil. Depois de
cerca de 10 horas e das habituais dores de cabeça para conseguir aterrar com o
Auster, lá chegou o dia em que sem contar, ( pois o meu instrutor, Furriel
Coelho, tinha estado ausente 4 ou 5 meses na Metrópole e estive sem voar esse
tempo),na primeira aula após o seu regresso, e depois de lhe ter dito que
o Tito(também instrutor e..rival), me dissera uma vez que voei com ele, que
ainda estava muito “cru”, ao fim de meia dúzia de aterragens, me mandou parar
no meio da pista, saltou para fora e me disse como despedida, “vai-te embora e
não partas esta merda!!). Enfim correu tudo bem e depois de 2 aterragens (nunca
tive tanto medo!!) lá levei o banho da praxe, que à falta de mangueira, foi um
bidão com água suja. No dia seguinte ao chegar às instalações do Aeroclube, o
Coelho disse-me que não podia ir pois tinha um serviço para Bafatá ( já que
também trabalhava nas horas vagas, nos táxis Aéreos ) e então eu ia voar
sozinho, tendo como receita, “fazer voo alto, com voltas apertadas,
voltas na horizontal e na vertical, perdas, umas descolagens curtas e terminava
com um simulacro de aterragem forçada”. Correu tudo bem, e após 3 ou 4
descolagens curtas, para finalizar, pedi autorização à “torre” para
a manobra que ia fazer. Subi aos 4.000 pés, iniciei a descida em espiral, e aos
1000, após autorização iniciei a manobra final, tendo alargado um pouco mais a
última volta, o que fez que tocasse o solo para além da zona da “cabeceira”,
mas tocando correctamente. De repente senti o avião fugir para a esquerda e
ouvi ruídos metálicos, como “arrastar” e ao olhar pela janela, vi faíscas a
sair da roda.

Com a minha pouca experiência e perante algo tão inesperado,
pensei que travando à direita e dando motor, faria um “cavalo de pau”, evitando
males maiores! Só que já não deu , tendo saído da pista (levando algumas placas
e luzes atrás) , direito à vedação que antecedia o chamado “campo minado”,
sentindo o avião como que a patinar sobre o capim seco. Fechei os depósitos,
desliguei o motor e os magnetos, agarrei o manche , sempre a travar(sem êxito)
e ….rezei. Valeu a pena pois de repente senti um esticão (tinha batido com o
trem numa vala e capotado!!)e dei comigo de cabeça para baixo, com as almofadas
do banco de trás a voar, e pendurado pelo cinto. A custo soltei-me e com um
pontapé arranquei a porta e saltei para fora, tendo-me dirigido a pé para a
pista (a pensar quando era picado por alguma cobra), enquanto alguns pilotos
dos T6 que estavam a regressar de missão, quase se levantavam das cadeiras para
ver o espectáculo do Auster 180 (que ficou todo escavacado) de “patas para o
ar” no meio da erva. Chegado ao pé dos bombeiros que estavam calmamente a
jogar às cartas, perguntei porque não me tinham socorrido, ao que me disseram
nada saber. Fui ao Aeroclube contar o sucedido e no dia seguinte fui chamado ao
gabinete do Cor. Lemos Ferreira, que por inerência era o Director da
Escola, e relatei o que acontecera, sendo informado que o controlador
(Sg.Aj.Caniço), tinha declarado que “o acidente tinha tido origem em ter batido
forte, partido os “sândalos” e originado por isso o despiste”. Teve azar, pois
como eu contestei, se tivesse visto o que descreveu no relatório, também teria
avisado os bombeiros, coisa que não fez, acabando por confessar que “após
ter autorizado a manobra se tinha distraído”. Resultado, levou “uma porrada”!
Veio a descobrir-se que o problema foi originado pela deterioração da câmara de
ar da roda esquerda,(já com validade muito ultrapassada), que sujeita ao calor
provocado durante as travagens que antecederam as descolagens curtas, se
rompeu, fazendo com que aterrasse com a roda vazia. Cerca de um mês depois
acabei o curso e recebi orgulhosamente as minhas “ASAS”, no dia 16/11/73, vai
fazer 40 anos! E pronto, não foi uma aventura de guerra, pois como EABT, lutava
de esferográfica, mas ficou gravada , já que podia ter acabado muito mal. Já
agora , posso testemunhar que quando estamos em perigo, é verdade que a vida
nos aparece como filme e em grande velocidade. Um grande abraço a todos e conto
com a vossa amizade.
Victor Mesquita
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