sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Voo 2955 DESPISTEI-ME NA ATERRAGEM.







Victor Mesquita
Esp.EABT
Algueirão




Olá amigo Victor.
Conforme falámos vou relatar aquela minha “aventura” penso que em Setembro de 73.
 Como o meu pai não quis que fosse para a pilotagem, pois era Capitão TOCC e disse que já chegava de “sustos”,( pois ele no início da carreira ia morrendo quando o “Bristol Blenheim” em que ia, se despenhou e incendiou em Espinho), quando fui em comissão para a “Colónia Balnear de Bissalanca” decidi tirar o “Brevet” Civil. Depois de cerca de 10 horas e das habituais dores de cabeça para conseguir aterrar com o Auster, lá chegou o dia em que sem contar, ( pois o meu instrutor, Furriel Coelho, tinha estado ausente 4 ou 5 meses na Metrópole e estive sem voar esse tempo),na primeira aula  após o seu regresso, e depois de lhe ter dito que o Tito(também instrutor e..rival), me dissera uma vez que voei com ele, que ainda estava muito “cru”, ao fim de meia dúzia de aterragens, me mandou parar no meio da pista, saltou para fora e me disse como despedida, “vai-te embora e não partas esta merda!!). Enfim correu tudo bem e depois de 2 aterragens (nunca tive tanto medo!!) lá levei o banho da praxe, que à falta de mangueira, foi um bidão com água suja. No dia seguinte ao chegar às instalações do Aeroclube, o Coelho disse-me que não podia ir pois tinha um serviço para Bafatá ( já que também trabalhava nas horas vagas, nos táxis Aéreos ) e então eu ia voar sozinho, tendo como receita,  “fazer voo alto, com voltas apertadas, voltas na horizontal e na vertical, perdas, umas descolagens curtas e terminava com um simulacro de aterragem forçada”. Correu tudo bem, e após 3 ou 4 descolagens  curtas, para finalizar, pedi autorização à  “torre” para a manobra que ia fazer. Subi aos 4.000 pés, iniciei a descida em espiral, e aos 1000, após autorização iniciei a manobra final, tendo alargado um pouco mais a última volta, o que fez que tocasse o solo para além da zona da “cabeceira”, mas tocando correctamente. De repente senti o avião fugir para a esquerda e ouvi ruídos metálicos, como “arrastar” e ao olhar pela janela, vi faíscas a sair da roda.

Com a minha pouca experiência e perante algo tão inesperado, pensei que travando à direita e dando motor, faria um “cavalo de pau”, evitando males maiores! Só que já não deu , tendo saído da pista (levando algumas placas e luzes atrás) , direito à vedação que antecedia o chamado “campo minado”, sentindo o avião como que a patinar sobre o capim seco. Fechei os depósitos, desliguei o motor e os magnetos, agarrei o manche , sempre a travar(sem êxito) e ….rezei. Valeu a pena pois de repente senti um esticão (tinha batido com o trem numa vala e capotado!!)e dei comigo de cabeça para baixo, com as almofadas do banco de trás a voar, e pendurado pelo cinto. A custo soltei-me e com um pontapé arranquei a porta e saltei para fora, tendo-me dirigido a pé para a pista (a pensar quando era picado por alguma cobra), enquanto alguns pilotos dos T6 que estavam a regressar de missão, quase se levantavam das cadeiras para ver o espectáculo do Auster 180 (que ficou todo escavacado) de “patas para o ar” no meio da erva. Chegado ao pé dos  bombeiros que estavam calmamente a jogar às cartas, perguntei porque não me tinham socorrido, ao que me disseram nada saber. Fui ao Aeroclube contar o sucedido e no dia seguinte fui chamado ao gabinete do Cor. Lemos Ferreira,  que por inerência era o Director da Escola, e relatei o que acontecera, sendo informado que o controlador (Sg.Aj.Caniço), tinha declarado que “o acidente tinha tido origem em ter batido forte, partido os “sândalos” e originado por isso o despiste”. Teve azar, pois como eu contestei, se tivesse visto o que descreveu no relatório, também teria avisado os bombeiros, coisa que não fez, acabando por  confessar que “após ter autorizado a manobra se tinha distraído”. Resultado, levou “uma porrada”! Veio a descobrir-se que o problema foi originado pela deterioração da câmara de ar da roda esquerda,(já com validade muito ultrapassada), que sujeita ao calor provocado durante as  travagens que antecederam as descolagens curtas, se rompeu, fazendo com que aterrasse com a roda vazia. Cerca de um mês depois acabei o curso e recebi orgulhosamente as minhas “ASAS”, no dia 16/11/73, vai fazer 40 anos! E pronto, não foi uma aventura de guerra, pois como EABT, lutava de esferográfica, mas ficou gravada , já que podia ter acabado muito mal. Já agora , posso testemunhar que quando estamos em perigo, é verdade que a vida nos aparece como filme e em grande velocidade. Um grande abraço a todos e conto com a vossa amizade.
Victor Mesquita
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