Miguel Pessoa
Cor.Pilav.
Lisboa
Integrada nas “Tertúlias dos
Combatentes” organizadas pelo Jornal de Leiria e Livraria Arquivo, com o apoio
do núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes, realizou-se no passado dia 28 de Março
em Leiria, nas instalações da Livraria Arquivo, mais uma sessão, esta sobre “O
papel da Mulher na Guerra - Intervenção directa em zonas de combate. Apoio
psicológico a partir da metrópole”.
A data, coincidente com o 35º encontro
da Tabanca do Centro, em Monte Real, permitiu a presença de alguns camarigos
que ali se deslocaram após o convívio. Lembramos os que estiveram presentes: As
camarigas Maria Arminda Santos e Giselda Pessoa, convidadas pela
organização para participar na tertúlia, que foram escoltadas até ao
local pelo Miguel Pessoa, José Seara, Carlos Oliveira, Vitor Caseiro e esposa
Celeste, Agostinho Gaspar e família, Carlos Santos e esposa, António Pimentel,
Silvério Lobo e esposa Linda e o “júnior” Paulo Moreno, a quem se reuniram
entretanto o António Nobre e o Amado Chefe Joaquim Mexia Alves e esposa Catarina
(esperamos não ter esquecido ninguém…).
Moderava a sessão o também nosso
camarigo Mário Ley Garcia, sendo convidada – além das duas camaradas já
mencionadas – a Drª Anabela Vinagre.
Começou esta por fazer referência às
diferentes mulheres que na rectaguarda apoiaram o esforço dos combatentes em
África.
Uma primeira referência ao
incontornável Movimento Nacional Feminino e a sua Presidente de sempre, Cecília
Supico Pinto, por muitos criticados pelo seu apoio à ideologia colonial do
Estado Novo.
Sob a sua orientação esta instituição
congregou muitas mulheres portuguesas no auxílio moral e material aos soldados,
à distância ou em visitas feitas aos locais em que estavam estacionados, e o
esforço feito para proporcionar aos combatentes a satisfação de algumas
necessidades básicas. Papel importante teve igualmente o MNF junto das famílias
dos militares na metrópole, tentando minorar o sofrimento da separação dos seus
entes queridos.
Deve-se-lhe o lançamento dos
aerogramas, fornecidos aos militares e processados gratuitamente, que acabaram
por ser o meio mais utilizado pelos combatentes para se corresponderem com os seus
familiares e amigos (terão sido produzidos cerca de 300 milhões de aerogramas).
Para minorar as condições difíceis dos
nossos soldados, o MNF organizou visitas e actuação de artistas aos
teatros de operações, bem como o envio de lembranças, livros, discos,
isqueiros, tabaco, etc.
As madrinhas de guerra
foram outra iniciativa do MNF, que promoveu a troca de correspondência entre os
soldados e jovens que à distância os acompanharam e lhes deram alento para
sobreviverem. Muitas amizades se criaram, tendo alguns relacionamentos
terminado mesmo em casamento.
Este apoio aos combatentes manteve-se
durante os treze anos que durou o conflito em África e terminou com
a dissolução do Movimento Nacional Feminino por decreto da Junta de
Salvação Nacional, já após o 25 de Abril.
Muitas voluntárias passaram igualmente
pela Cruz Vermelha, no seu apoio aos militares feridos, o que permitiu amenizar
as condições penosas em que estes recuperavam dos seus ferimentos, muitas vezes
estropiados, afastados das famílias, largados em ambientes estranhos.
Seguiram-se as intervenções das nossas
duas camarigas. A Maria Arminda começou por realçar o papel fundamental de
Isabel Rilvas, pioneira em Portugal como piloto e paraquedista civil, que
idealizou e realizou o seu sonho de ver criado um corpo de enfermeiras
paraquedistas dentro das Forças Armadas, seguindo ideias já praticadas noutros
países, nomeadamente a França, na sequência dos seus conflitos na Argélia e na
Indochina.
É assim que com o apoio do Secretário
de Estado de Aeronáutica, Kaúlza de Arriaga, surge em 1961 o primeiro de 9
cursos que hão-de efectuar-se até 1974, envolvendo quase 50 enfermeiras
paraquedistas.
Num tempo limitado para a exposição,
naturalmente não houve oportunidade para se falar em grande pormenor da
actividade desenvolvida pelas enfermeiras paraquedistas, que incluiu a sua
acção nas três frentes de combate – Angola, Moçambique e Guiné – com passagens
pela Índia, Timor e Açores.
A Maria Arminda e a Giselda deram aos
presentes exemplos das actividades em que estiveram envolvidas, por vezes
mencionando os riscos corridos, mas ressalvando sempre a satisfação pelo
trabalho que desenvolveram e a apreciação que muitos combatentes ainda hoje
lhes manifestam pessoalmente.
No período de perguntas e respostas
participaram alguns dos camarigos da TC, nomeadamente o Carlos Oliveira, Vitor
Caseiro e Joaquim Mexia Alves. Em suma, uma sessão interessante que congregou
bastantes presenças (sala cheia), com a assistência de diversas senhoras, o que
não tinha sido habitual em sessões anteriores.
MP
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