Pedro Leal
(Filho do Zé Leal)
(Filho do Zé Leal)
Pese embora a cirurgia do meu pai
tenha corrido bem, o pós cirúrgico descambou e a situação dele piorou. Está em
coma induzido e possivelmente aguardando a falência orgânica. Não perguntem
como tudo aconteceu.... Deus sabe quando chega a nossa hora. Se ele feriu algum
de vocês durante a vida, em nome dele e em meu nome pessoal pedimos perdão. Não
guardem ódio nem rancor, reconheçam nele as qualidades que tinha, e lembrem-se
que nenhum de nós é perfeito, e todos nós temos os nossos pecados. Ao terem um
bom pensamento por ele, a sua passagem para o outro plano, que eu acredito,
será mais suave. Ele viveu de forma simples, e quem o conheceu de perto saberá
que nunca foi pessoa de ostentar. Tentou sempre que possível estar ao lado dos
que mais precisavam, mesmo que muita das vezes tenha recebido ingratidão como
pagamento. Mas tudo isso é para esquecer. Norteou a sua vida pelos princípios
éticos e morais que o caracterizavam. Colocou os interesses dos outros à frente
dos seus, nunca foi interesseiro nem de interesses. Muitas vezes se cruzou na
sua frente a oportunidade de sucumbir à batota e retirar alguns privilégios das
suas capacidades e influências. Bastava para isso mudar de partido, passar para
o grande grupo dos que ganham sempre….. mas teria de vender a alma, teria de
pregar algo em que não acreditava, teria de deixar de ser LEAL. Esta foi a
maior herança que nos deixou, a mim, ao meu irmão e à minha irmã. Não comeu
crianças ao pequeno almoço, nem deu injecções atrás da orelha a ninguém (pelos
vistos tentaram sempre rotular o partido em que ele acreditou e nunca deixou de
acreditar). Não foi um negociante do ensino como hoje acontece com alguns. Foi
professor por convicção, inspirou milhares de jovens durante a sua carreira, e
salvou muitos das garras da decepção e da desmotivação. Ensinou que um homem é
um ato, uma palavra é para ser cumprida, e uma responsabilidade assumida.
Passou pelo ensino convicto que ensinar não é só transmitir conhecimentos, é
também ser amigo, ser um psicólogo, ser irmão, ser pai, ser uma companhia, ser
um confidente, ser a ajuda desinteressada e camuflada na maior parte das vezes.
Passou a ideia de que cada um vale pelo que é, e pelo que faz. Muito mais tinha
a dizer do meu pai…. Mas ele ainda não morreu (hora em que escrevo este
desabafo). Ontem, quando fui dar aulas a Ponte de Lima, pensando ainda passar
pela piscina de Vila Praia de Âncora para dar o treino de natação, e
posteriormente seguir para o Hospital de S. João - Porto, tinha um certo peso
na consciência e senti-me um pouco esquisito. Pensava: “estou aqui quando
deveria estar junto do meu pai, poderia estar a faltar ao trabalho”. Chego a
Ponte de Lima e reparo que os alunos ainda não tinham chegado ao pavilhão.
Recebo a mensagem de um deles a informar que havia uma pequena festa na escola
e eles queriam ver. Perguntavam se podiam faltar à aula. Era a última aula de
avaliação deles. Respondi: Tenho o meu pai a morrer no hospital e não faltei ao
meu compromisso para poder terminar a vossa avaliação. Façam o que quiserem.
Resposta dos alunos: Estamos a ir professor. O mundo muda-se com exemplos.
Penso que naquele momento honrei tudo o que o meu pai me ensinou relativamente
aos compromissos que assumimos. Sai de Ponte de Lima e fui a Vila Praia de Âncora
para dar o treino. Já no balneário recebo um telefonema do meu irmão a dizer:
tens de vir ele vai ser operado e quer falar contigo urgentemente. Anda
depressa que já está a entrar para o bloco. Quando entro para o carro recebo
novamente o telefonema do meu irmão, a dizer que ia passar o telefone ao meu
pai que já estava a ser anestesiado, podia ouvi-lo a reclamar com as
enfermeiras a dizer que queria falar comigo, enquanto elas coitadas a quer
fazer o trabalho que lhes competia, o iam animando. Posso dizer-vos que não
desejo a ninguém o que se passou num telefonema que durou 30 segundos, mas que
para mim foram 30 anos. A relação com o meu pai sempre foi boa, sempre
reconheci muita preocupação dele por nós, deu o carinho à maneira dele, mas
talvez por outros motivos que desconheço, nunca foi um pai que se derretia de
beijinhos e abraços. Ele era assim, amava-nos ao seu jeito. Quando falei com
ele choramos imenso os dois, demos tudo o que não tínhamos dado um ao outro em
quase 40 anos da minha vida. Pedi-lhe perdão por tudo, por não ser um bom filho
em algumas alturas, agradeci-lhe tudo o que fez por mim, disse-lhe que foi um
excelente e um grande homem, disse-lhe que ele fez muitas coisas boas durante a
vida e que tudo isso iria contar em seu abono. Disse-lhe que a mãe dele o
estaria a esperar do outro lado, disse-lhe para não se preocupar na “grande
passagem” que é como acordar de uma cirurgia. Ele a chorar só me disse: Zé,
estimem-se uns aos outros. Nunca vi aquele homem chorar. Acredito no balanço
existencial, aquele filme que nos passa pela frente de forma rápida e revemos
tudo o que fizemos e não fizemos, as coias boas e más. Sei que Deus orientou o
dia para que tudo ocorresse como ocorreu. É importante lavar a nossa
consciência antes de partirmos. Para mim foi gratificante, e agradeço a Deus
pela oportunidade. Deixo-vos a todos um conselho: reconciliem-se com as pessoas
com as quais vocês estão indiferentes, ou digam as coisas que sentem dentro e
nunca tiveram a coragem de dizer à pessoa amada. Isso vai acontecer sempre na
vida, através do amor ou do sofrimento. Acreditem que é melhor através do amor.
Abracem os vossos filhos, dêem-lhes beijos, digam-lhes o quanto os amam,
passeiem com eles, brinquem, ouçam os que eles dizem, apreciem todos os
momentos que a vida vos proporciona. Vejam o dinheiro como algo importante para
sobreviverem neste mundo, mas não vivam este mundo em função do dinheiro. A
vida é um fósforo. Ando a dizer há alguns meses que o mundo só muda se nós
mudarmos. Ele ainda não partiu, mas para mim renasceu de novo.
VB. Amigo Pedro,deu Deus o privilégio de
conhecer a família LEAL á cerca de uns 5 anos! Desde logo me senti em família.
Gostava de vos dizer muito do que tenho para vos dizer,mas,tu Pedro com es missiva…não me deixas…
Espero abraçar o Zé brevemente Pedro.
Gostava de vos dizer muito do que tenho para vos dizer,mas,tu Pedro com es missiva…não me deixas…
Espero abraçar o Zé brevemente Pedro.
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