quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Voo 3545 NOSSA SENHORA DO AR.


Nossa Senhora do Ar e/ou Nossa Senhora do Loreto?
A agência Ecclesia, a 18 de agosto, publicou uma crónica de Paulo Caetano, detentor do pelouro do Património na Câmara Municipal de Seia, que refere o Santuário de Nossa Senhora do Ar, situado na área do município de Seia, como um dos “maiores símbolos em termos religiosos e turísticos” da diocese da Guarda. Trata-se dum lugar que “representa a beleza harmoniosa do ponto mais alto de Portugal continental” – a Torre da Serra da Estrela – “criando um sentimento de paz nas pessoas, convidando-as para realidades mais sublimes e profundas”.
Fazendo alusão ao texto publicado no último número do semanário ECCLESIA (29.07.2016), sublinha que “a devoção a Nossa Senhora do Ar teve origem na ligação das pessoas a Nossa Senhora do Loreto, que teve grande difusão no século XVI”.
Segundo a tradição, a casa que, em Nazaré, serviu de habitação a Jesus, Maria e José, foi local de peregrinação durante 13 séculos. Tendo a região onde ela se situava sido devastada pelo Emir Alá-el-Din e a casa de Nazaré estado na iminência de ser destruída, terá esta sido salva por anjos que a conseguiram retirar e levar para Loreto, em Itália, no ano de 1294.
Desta feita, Loreto tornou-se local de peregrinação e até de devoção de muitos dos Papas. E, em Portugal, temos o santuário de Nossa Senhora da Lapa, em Quintela, do município de Sernancelhe, que o Padre António Cordeiro considerava o Loreto Lusitano.
A iconografia tradicional da Senhora do Loreto apresenta-a vestida com um manto que cobre, quase na totalidade, o Menino Jesus, conferindo-lhe uma forma aerodinâmica cuja força propulsora será dos anjos que a suportam.
A 24 de março de 1920 (festa do anjo São Gabriel, mensageiro de Nazaré), Bento XV, acedendo ao desejo do clero, mercê da predita forma aerodinâmica, declarou a Virgem do Loreto, Padroeira Universal da Aviação. E, a 12 de setembro do mesmo ano, os aviadores reuniram-se em massa na Basílica do Loreto e fizeram oficialmente a consagração à sua Padroeira. Porém, em 1921, um incêndio destruiu a imagem, pelo que em 1922, Pio XI benzeu a nova imagem da Virgem do Loreto, esculpida sem grandes diferenças em relação à anterior, sendo então esta acompanhada por aviadores da Capela Sistina para a Basílica do Loreto, aonde chegou a 8 de Setembro.
Tem a Senhora do Loreto em Alcafozes, Idanha-a-Nova, especial devoção e culto da parte do povo e da Igreja, que, apesar de desconhecerem as circunstâncias e a origem do aparecimento da imagem da Senhora do Loreto naquela zona, sempre lhe dedicaram grande afeição. Os festejos em sua homenagem têm, para esta zona, grande significado e adesão e ocorrem, habitualmente, no último fim de semana de agosto ou primeiro de setembro. E atualmente a sua capela, em Alcafozes, já tem um interessante e curioso espólio de ofertas relacionadas com a área da aviação civil, comercial e militar. 
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Embora a padroeira dos aviadores fosse e ainda seja Nossa Senhora do Loreto, um grupo de aviadores militares de Portugal, liderado pelo seu diretor, o major Salvador Alberto du Courtiils Cifka Duarte, difundiu no meio aeronáutico do país, a partir de 1924, uma devoção particular a Nossa Senhora do Ar. Tal devoção levou a que a Senhora do Ar fosse entronizada como padroeira da Força Aérea Portuguesa (FAP), o que foi ratificado por Breve do Papa João XXIII, “Aligera Cymba”, de 15 de janeiro de 1960. A sua imagem original foi adquirida em Paris, em 192-6 e encontra-se em Sintra, na Base Aérea n.º 1 da FAP.
Depois do predito breve de João XXIII, subscrito pelo cardeal Domenico Tardini, a imagem de Nossa Senhora do Ar, nova padroeira da Força Aérea Portuguesa, foi entronizada em Seia, em 1962, pelo bispo da Guarda, Dom Policarpo da Costa Vaz. Paulo Caetano explica:

“A partir desta data, a Força Aérea Portuguesa era a única Força Aérea no mundo que tinha uma Santa por padroeira por despacho papal, Nossa Senhora do Ar – razão pela qual a Força Aérea, ainda hoje, celebra missas de Ação de Graças a Nossa Senhora do Ar”.

O templo de Seia foi construído em 1962, por iniciativa da FAP, quando edificou, no ponto mais alto da Serra da Estrela, duas torres-radar para a Esquadra 13 do Grupo de Deteção Alerta e Conduta de Intercepção.
Do conjunto arquitetónico formado pelas antigas instalações do Grupo de Deteção Alerta e Conduta de Intercepção, com a então Sede em São Romão, Seia, a Capela de Nossa Senhora do Ar tornou-se um espaço exclusivo e singular em que os peregrinos podem fazer uma caminhada pelos trilhos da Serra da Estrela para observar e absorver a paisagem excecional que se transforma em louvor existencial.  
A dita Esquadra 13 foi descativada no início da década de 1970, pelo que as suas instalações foram desocupadas e, mais tarde, entregues ao Estado, o qual, por sua vez, as colocou sob a alçada do turismo local. E, por audaz iniciativa da Turistrela – empresa que explora o turismo na Serra da Estrela, que a recuperou e entregou à Diocese da Guarda –, a capela reabriu ao culto em outubro de 2007, sendo retomado o seu uso de celebrações religiosas, após várias décadas de abandono à intempérie e ao vandalismo dos transeuntes, situação que também originou o desaparecimento de imagens e de peças de paramentaria. (cf semanário Ecclesia, cit, pgs 44-45).
Atualmente sob a alçada da Diocese da Guarda, a capela acolhe, assim, diversas celebrações religiosas, muitas delas presididas pelo Bispo da Guarda, D. Manuel da Rocha Felício”, que tem acarinhado o santuário. Ainda no passado dia 20 de junho, centenas de peregrinos subiram até ao Santuário de Nossa Senhora do Ar para celebrarem o Jubileu da Misericórdia.

Nos Açores

Também nos Açores se situa a Igreja de Nossa Senhora do Ar, que se localiza no bairro do Aeroporto, na freguesia e concelho da Vila do Porto, na ilha de Santa Maria. O primitivo templo foi edificado, juntamente com o Aeroporto, em 1944, pelo Comando das Forças Armadas dos Estados Unidos da América para o atendimento das necessidades espirituais do pessoal da base. Com caraterísticas ecuménicas, o imóvel era destinado à prática dos principais cultos professados por aquele pessoal: catolicismo, protestantismo e judaísmo – facto que, à época, causou certa admiração, não apenas aos marienses, mas aos açorianos em geral. Para esse fim, ao fundo do grande salão, o interior do edifício possuía uma espécie de palco com um altar muito simples destinado aos cultos referidos. Posteriormente, foi construída uma pequena capela onde se venerava uma imagem de Nossa Senhora do Ar, padroeira da Força Aérea Portuguesa, e onde se encontrava o sacrário, com vista ao culto e devoção eucarística. Esta capela, destinada exclusivamente ao culto católico, após autorização do Bispo de Angra, Dom Guilherme da Cunha Magalhães, para o culto dominical, foi consagrada a 6 de abril de 1947. Foi o seu primeiro responsável eclesiástico o padre Artur Brandão, que faleceu no naufrágio do navio de cabotagem interinsular N/M Arnel, no baixio dos Anjos, em 19 de setembro de 1958.
Erguido em madeira, foi destruído quase por completo por um incêndio, a 12 de junho de 1985.
Foram infrutíferos os esforços dos bombeiros e da população para salvar o templo, do qual subsistiu apenas a torre sineira, de alvenaria, que havia sido construída recentemente. Mas, com recursos públicos e da população, o templo foi reconstruído, tendo sido, a 2 de janeiro de 2000, solenemente inaugurado. Presentemente dispõe de pároco próprio, que assiste a toda a população católica do Aeroporto.

Na Força Aérea 

E, no dia 20 de outubro de 1995, na Base Aérea n.º 1, na Granja do Marquês, em Sintra, o então Bispo Castrense e Patriarca de Lisboa, Dom António Ribeiro, presidiu à cerimónia da solene entronização de Nossa Senhora do Ar como Padroeira de todos os Aviadores Portugueses, com as honras e privilégios que lhe são devidos.
O evento religioso teve o patrocínio militar do CEMFA (Chefe do Estado-Maior da Força Aérea), General QE Aurélio Benito Aleixo Corbal, e constituiu um eloquente testemunho de irmanação dos militares no ativo e na reserva ou na reforma, os sacerdotes capelães militares no ativo e antigos, as famílias do militares e dos demais devotos de Nossa Senhora do Ar.
O General CEMFA, nas palavras que dirigiu no início da missa presidida por Dom António Ribeiro, congratulou-se por haver sido distinguido com este “singular privilégio” de “ser testemunha” de homenagem, tão merecida e inteiramente devida, à Padroeira da Força Aérea”. E o presidente da celebração, na sua homilia, suplicou a proteção da Virgem Santíssima para todos os aviadores portugueses: “Que Ela os acompanhe sempre pelos caminhos da Vida, na terra e no ar, os livre dos perigos e os defenda de todas as adversidades”.
Celebrada a Eucaristia e prestadas as honras militares pelo corpo de alunos da Academia da Força Aérea, seguiu-se a procissão para a capela, com sobrevoo de formações de aeronaves e acompanhada pela Banda da Força Aérea. Na capela, o Ordinário Castrense proferiu a oração de Consagração a Nossa Senhora do Ar, após o que recolocou a imagem no trono donde preside de 1926. E, tendo como pano de fundo um mavioso canto a Nossa Senhora do Ar, executado pelo coro da Força Aérea, o Patriarca e o CEMFA assinaram um documento alusivo ao ato, onde consta para a posteridade a memória do evento.

Celebração Litúrgica 2016

Para este ano de 2016, por disposição do Ordinariato Castrense, a festa litúrgica de Nossa Senhora do Ar, Padroeira da Força Aérea foi celebrada na Estação de Radar N.º 2, em Paços de Ferreira. Para além duma celebração litúrgica mariana e procissão, procedeu-se à bênção e entronização da imagem de Nossa Senhora do Ar. Estiveram presentes uma Alta Entidade militar, o bispo e todos os capelães da Força Aérea. Mais foi referido que é desejo do Ordinário Castrense dotar esta Unidade de um capelão que lá vá algumas vezes por mês.
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Como se vê, a fé católica e, em especial o culto mariano, não se encontra tão distante da alma portuguesa e da família militar como às vezes se pensa. É preciso aprender com todos.
Transcreve-se, a propósito, um pequeno poema de António Henrique Trigo Perestrello da Silva:



Com o seu manto
imaculado
Sob o Céu azul
estrelado
De braços erguidos aos Céus
E a CRUZ DE CRISTO ao lado
 – Orai, por nós a DEUS!
As ASAS
DE PORTUGAL
Devotas
do Teu altar
Deu-mas DEUS
para voar
- Oh Nossa Mãe
imortal

“NOSSA SENHORA DO AR”!


Origem do Voo:
Ideias Poligraficas

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