Mário Santos
Esp.MMA

Cumpre-se a 28 de Setembro, 53 anos da
minha chegada à Guiné no HC-54 Skymaster 7504.
Guardei para sempre a recordação da
abertura da porta de cabine dos passageiros e da baforada de ar quente rançoso
e húmido, proveniente de águas paradas e dos muitos rios lodosos existentes no
território.
Esta foi a antevisão desagradável do que
nos esperava: um clima doentio e que marcaria indelevelmente para sempre as
nossas vidas.
Para além de muitos outros de quem não
guardo memória, chegaram no mesmo voo os Tenentes Pil./ Aviadores José Nico e
Rui Balacó.
Com eles convivi na Esquadra de Fiat's
até ao fim da comissão.
Foram cerca de 22 meses em que
interagimos diariamente na Esquadra de Tigres, eu como Mecânico na Linha da
frente e eles Pil./Aviadores.
Pragmaticamente todos aceitámos o drama
de guerra, irregular, assimétrica e mortífera que enfrentaríamos no futuro
imediato, lutando para tentar preservar um legado deixado pelos nossos
antepassados.
A guerra na Guiné teve características
muito diferentes da que se travava em Angola e Moçambique.
A elevada organização da guerrilha e a
forma como a sua luta se iniciou, através de acções de combate e não com
massacres como em Angola, eram reveladores das dificuldades que as FA iriam ter
neste território. O movimento de gerrilheiros contra o qual iríamos lutar, era
o Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC)
Na Guiné, não só os factores históricos
e a hostilidade da geografia e do clima tornaram difícil a actuação das FA,
como também as independências da Guiné-Conakry (1958) e do Senegal (1960)
tiveram um importante papel na condução da guerra. Estes dois países foram uma
importante fonte de apoio aos guerrilheiros do PAIGC, proporcionando-lhe
refúgio a Norte, Leste e Sul, onde puderam estabelecer as suas bases e
desencadear acções militares . O nível de organização do movimento e o
armamento moderno de que dispunha (armas automáticas, morteiros, RPG’s,
metralhadoras anti-aéreas) possibilitou aos guerrilheiros evoluírem de tal
forma rápida que, em 1965, já tinham estendido a sua actuação a todo o
território.
Para piorar a situação militar
portuguesa, em termos de apoio aéreo, fundamental para a nossa defesa, devido a
pressões exercidas pelos EUA, a FAP foi obrigada a retirar da Guiné os oito
F-86F, a principal arma de ataque aéreo de que dispunha. Desde a retirada
destes, em finais de Outubro de 1964, e a chegada dos seus substitutos, os
novos caças FIAT G-91 R4 adquiridos à Alemanha Ocidental.
As missões de apoio aéreo próximo às
forças no terreno foram entretanto garantidas pelas aeronaves T-6G. Este era um
avião que estava longe de possuir o mesmo poder de fogo do anterior F-86F ou do
posterior FIAT G-91 R4, o que terá contribuído para que no período de dezoito
meses entre a saída de uns e a entrada ao serviço de outros, a guerrilha tenha
reforçado a sua presença no terreno, especialmente na região a Sul.
A inferioridade dos guerrilheiros na
guerra aérea levou a que desde cedo procurassem anular esta vantagem da FAP,
recorrendo para tal ao uso de artilharia anti-aérea e mais tarde ao míssil
russo Strella AS-7. No entanto em minha opinião, terá sido precisamente o
cansaço dos militares face a uma guerra sem solução política previsível e o
ataque aos seus interesses corporativos de classe, os principais factores que
levaram as FA a voltar a conspirar contra o regime, acabando por o derrubar em
1974.
Aqui deixo o meu abraço de grande estima
ao General J. Nico e ao Coronel R. Balacó (que felizmente ainda se encontram
entre nós) assim como a todos os companheiros de todas as Esquadras e que
contribuíram com o seu esforço e as suas vidas para Portugal poder ter orgulho
nos seus filhos que lutaram com honra e dignidade para preservar o que nos
tinha sido legado!
As fotos não têm grande qualidade, devido às arcaicas câmaras fotográficas, mas são todas genuínas. A foto do Skymaster foi tirada pouco antes do seu abate e posterior desmantelamento, sendo portanto a mais recente e com melhor qualidade.
As fotos não têm grande qualidade, devido às arcaicas câmaras fotográficas, mas são todas genuínas. A foto do Skymaster foi tirada pouco antes do seu abate e posterior desmantelamento, sendo portanto a mais recente e com melhor qualidade.
Um abraço,
Mário Santos
Mário Santos
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