Joaquim Mexia Alves
Alf./Mil.Ranger
Monte Real
Partiu hoje um dos
maiores amigos que tive na minha vida!
As histórias com o Jaime Brandão são inúmeras desde garotos, passando pela
Guiné, pela dita revolução e até aos dias de hoje.
Por causa da nossa amizade passei fins de tarde quase contínuos na BA5,
mormente na Esquadra dos Falcões, e por isso mesmo me foi concedido algo único
na minha vida: um voo de A7.
Claro que, embora houvesse outros “candidatos” amigos que me queriam levar,
não poderia deixar de ser o Jaime a dar-me esse raro prazer, quase impossível a
civis.
Foi
um dia memorável.
Tal como o dia em que, envolvido na primeira Operação Militar na Guiné, no
segundo mês da minha chegada, com o camuflado ainda a “cheirar a goma”,
desembarco no quartel de Portogole e quando estou a subir a rampa para as
instalações vejo o Jaime vir direito a mim a sorrir e abraçando-me com toda
força.
Perguntei-lhe como era possível ao que ele me respondeu a sorrir que sabia
que eu estava envolvido naquela Operação e que ia desembarcar em Portogole para
passar a noite e como vinha de regresso a Bissau, declarou que tinha a porta
aberta do DO27 e que tinha de aterrar em Portogole.
As histórias são inúmeras, (de dia ou de noite), e todas elas são memórias
fantásticas que me trazem agora lágrimas aos olhos
O Jaime era um homem franco, honesto, sério, que não pedia licença para
dizer o que pensava e sentia, mesmo que isso lhe acarretasse incompreensões ou
mesmo problemas.
Amigo
do seu amigo, levava a amizade muito a sério, tão a sério que não se coibia de
me dizer algo que eu fizesse mal, como eu lhe dizia também a ele.
É assim a amizade verdadeira!
Mas tinha também um humor muito especial e vivemos momentos hilariantes ao
longo de todo este tempo que Deus nos deu de amizade verdadeira e vivida.
Muitas vezes as nossas conversas eram quase um monólogo tal a identidade de
pensamento e opinião que tínhamos os dois.
Em bom e antigo português era quase um: “se um diz mata o outro diz
esfola”!
Espero, (fazendo humor), que no Céu haja cerveja, porque ele tem que ter
uma esplanada onde a beber esperando por mim e por muitos mais que nos faziam
companhia.
Há
homens que nunca fizeram nada por Portugal e são recordados como se o tivessem
feito.
O Jaime foi voluntário para a Força Aérea, serviu o seu país na Guiné e em
Portugal, serviu o seu país na sua profissão como civil, lutou por um país
melhor do que o “politicamente correcto”, e ninguém, com certeza desta gente
que nos governa terá uma palavra para ele, o que ele, julgo eu, até agradece.
Envolvo
a sua família, mulher, filhas, netos, irmãs e irmão no meu estreito e muito
amigo abraço, sem palavras que as não tenho para dizer.
Estou profundamente triste, embora acredite que aos homens bons como o
Jaime, Deus tem sempre junto de Si, mas isso ainda não mitiga a saudade imensa
que já sinto em mim.
Como dizemos em Monte Real, pelo menos no tempo em que eramos garotos, quando as pessoas se encontram: Adeus!
Eu digo-te, Jaime meu querido amigo, adeus e até já!
Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2021
Joaquim Mexia Alves
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