sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

GLÓRIA ÀS NOSSAS ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTAS E AOS MALUCOS DAS MÁQUINAS VOADORAS!


87-Mensagem do Henrique Cerqueira
Fur.Mil.Exército
CCAÇ 13
Guiné 72/74



Olá Amigo Victor:
É necessário lembrar todos os nossos camaradas pilotos e restantes equipas que tantas vezes nos trouxeram um raio de esperança quando estávamos envolvidos em situações de aflição e dai eu recordar uma situação que se passou comigo.
Pois como já disse anteriormente,eu terminei a comissão na CAÇ 13 em 1974,mas quando fui para a Guiné fui colocado em Biambi que era a terceira companhia do BCAÇ 4610/72.E então passados dois meses mais ou menos e no cumprimento da minha obrigação,fiz parte de dos muitos patrulhamentos em missão no mato.É então que após o atravessamento de uma famosa bolanha(Insentaque)fomos surpreendidos por uma emboscada do inimigo e ai tivemos dois feridos graves nos milícias e um furriel,de seu nome Fonseca,natural do Porto.
Até aqui tudo normal para a situação que se vivia na altura,pese embora o facto de ainda sermos muito
piriquitos e ser o nosso primeiro embrulhanço.
A consequência de toda a nossa inexperiência foi que em poucos segundos gastámos tudo que era munições e ficamos todos como baratas tontas,tanto pela falta das ditas munições,como não sabíamos mesmo o que fazer com os feridos.Penso que estarão mesmo a ver a cena.
Bom,lá conseguimos entrar em contacto com o aquartelamento e pedir apoio aéreo,assim como evacuações para os feridos.Após algum lá apareceu o LOBO MAU,ou seja,o Héli Canhão,e logo de seguida outro Héli para o transporte dos feridos.
É aqui que me lembro de ver em pleno mato a sair do Héli uma enfermeira de camuflado e camisola branca bem justa ao corpo.Foi como saísse um anjo para nos ajudar,teve um efeito tão grande de tranquilidade que nunca mais me esqueci desse dia e por mais estranho que possa parecer é a imagem dos Hélis e da enfermeira naquele caos que se tinha instalado que ainda hoje guardo do meu primeiro contacto com a verdadeira guerra.
Mais tarde e por motivos diversos viajei em Hélicoptero e DO 27,e por incrível essas viagens foram duas tentativas falhadas de me transportarem de Biambi para Bissorã,mas isso será outra estória.
Fui ainda informado mais tarde que uma dessas gloriosas enfermeiras foi morta por ter sido apanhada pelo hélice do DO 27.Não sei se foi verdade ou não,mas não duvido que todos esses pilotos como o pessoal de enfermagem e especialistas da Força Aérea Portuguesa eram mesmo uns Grandes e Gloriosos Malucos,de quem guardo muita gratidão.Não tenho fotos deles mas tenho grandes imagens no meu coração desses bravos camaradas da Guiné.
Quero ainda recordar aqui o Alf.Barros,nunca mais soube nada dele.Era um homem do Norte mas parecia que vivia em Cascais.De igual modo o Fur.Fonseca,o tal ferido que é do Porto,mas muito em especial o meu fiel amigo e carregador guineense INHATNA BIOFA que me acompanhou até ao final da comissão da CCAÇ 13.
Bom, isto foi uma estória com o intuito de lembrar em especial todos os Pilotos e pessoal da Força Aérea Portuguesa.
Aproveito para esclarecer aqui que nenhum oficial superior ou outro nunca consegui me incutir o espírito militar,pois,como a maioria de todos nós,fomos obrigados a ir para a Guerra. Só que isso não significa que,mesmo contrariados,nós os milicianos e restantes obrigados não tenhamos cumprido com a nossa missão que se quiserem até lhe podem chamar de patriota.
E dai existir hoje este meio maravilhoso que nos permite até de ter saudades,sejam elas de factos ou de pessoas.É que foram três anos das nossas vidas vividas em comum e que irão estar sempre presentes até ao dia do juízo final.
Malta da Tertúlia,desculpem lá mas se não agradar a estória têm sempre o rolete do RATO para acelerar para a próxima.
Um abração a todos os camaradas Tertúlianos.
Henrique Cerqueira

VB :
Henrique antes de mais quero agradecer-te em meu nome pessoal e de toda a Tertúlia
estas tuas palavras elogiosas ao pessoal da Força Aérea que tão esquecido foi e ás vezes até muito mal interpretado por algumas.Determinadas pessoas pensavam e,infelizmente,ainda hoje pensam que só em terra é que estava exposto ao perigo da Guerra,desconhecendo,por exemplo,que o ponto mais alto da Guiné é Madina de Boé que se encontra a uma cota de +/-400m de altitude.Para os que desconhecem estes pormenores,equivale a dizer que quando se descolava de Bissalanca toda a Guiné nos via,ou seja,o perigo era eminente.
Sobre a referida Enfermeira tragicamente ceifada à vida pelo hélice do DO 27 quando se prestava para partir para o mato no intuito de auxiliar alguém que precisava dos seus serviços inerentes á sua especialidade de enfermeira,chamava-se CELESTE.
Que Deus a tenha no lugar que ela merece.