sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A VISTA AÉREA ÀS COMPANHIAS ...QUE NÃO ACONTECEU.


88-Mensagem do Joaquim Mexia Alves
Alf.Mil.Op.Especiais
Guiné
Caro Victor Barata
Afinal não foi difícil encontrar e já aqui te mando o texto.Se quiseres publicá-lo podes servir-te das imagens que entenderes!
A visita Aérea às Companhias...que não aconteceu.

Quando estava na Ponte de Udunduma com o Pel Caç Nat 52,fui chamado a Bambadinca,para reforçar a CCAÇ 12,numa qualquer operação que não me lembro,mas na qual nada deve ter acontecido,pois se não até a minha fraca memória se lembraria.
A verdade é que ao fim da manhã (a operação começaria ao fim da tarde),quando já estava em Bambadica a fim de combinar a coisa com o
meu grande amigo Cap.Bordalo,comandante da CCAÇ 12,e os seus Alferes,aterra uma DO 27
na pista do quartel.
É sabido,pelo menos no meu tempo assim era,que os Comandantes de Batalhão(passo a critica jocosa),se pelavam por uma voltinha de avião ou helicóptero,com a desculpa da vista às Companhias mais afastadas.
É curioso que as colunas de abastecimento,pelos vistos,não serviam tal propósito,vá-se lá saber porquê,o que pelo menos no caso do meu batalhão era uma realidade.
Mas,voltando aos factos,logo o Comandante do Batalhão(BART 3873,Bambadinca 1972/74)se deslocou à pista para tomar assento no avião e dar uma volta aérea.
Foi então que o piloto,grande amigo meu de Monte Real,e que penso que não se importa que aqui deixe o seu nome,Jaime Brandão,perguntou por mim,e convidou-me para ir com ele até Nova Lamego,pois iria acontecer uma noite de fado se era muito importante a presença da minha voz.(Já perceberam que na altura eu cantava o fado e,segundo dizem,bastante bem).
Acrescentou ele que não havia problemas,pois no outro dia voltava a Bissau e deixava-me em Bambadinca.(Era fácil,declaravam uma porta aberta e assim tinham de aterrar).
A cara do Comandante era indescritível e eu disse ao Jaime que era impossível porque tinha aquela operação.
Voltamos para a messe e passadas uma hora ou duas ouve-se um helicóptero a aterrar e ai o Comandante disse: -Agora é que é!!!
Claro que fui também à pista.
Do helicóptero o Pedro Melo Ribeiro,outro amigo de Lisboa,que não era piloto mas vinha a acompanhar,e me diz: -É pá,viemos-te buscar porque esta noite à fados em Nova Lamego e o pessoal disse logo que tu eras imprescindível!!!
A vossa imaginação está agora com certeza a ver a cara do Ten.Cor.,com espanto e sei lá mais o quê bem retratado na sua fisionomia.
Claro que dei a minha resposta e retirei-me para a messe,sob os olhares gozões de uns e o olhar reprovador de outro,que não sabia bem o que fazer e até talvez meditando na importância da minha pessoa.
Por volta das 3 ou 4 da tarde,depois de uns uísques bebidos para animar as tropas,aterra
outra DO 27,e o Comandante entre,incrédulo e ansioso,lá se dirigiu para a pista,comigo e já um numero de camaradas a acompanhar.
Era novamente o Jaime Brandão,que com um sorriso dispara: -Então vens ou não?
Escusado será dizer que a resposta foi a mesma e que o Comandante neste momento já não tinha cara,mas uma mascara de incredulidade,espanto,irritação,etc.etc..
Nos dias que se seguiram o gozo foi enorme,umas vezes mais descarado outras mais disfarçado.
Á noite lá fomos para a operação que,como digo acima,não teve nada de especial a reportar.
E assim aconteceu a visita aérea que...não aconteceu!!!
Durante uns tempos foi lenitivo para as agruras e desconforto da guerra e só por isso já foi muito bom!!!
Abraço do
Joaquim Mexia Alves