terça-feira, 18 de março de 2008

GUINÉ,1967 - RIO CUMBIJÃ

142-Manuel Lema Santos
1ºTen.Reserva Naval
Guiné 66/68




Texto e fotos do Blog Reserva Naval


Estas linhas são editadas como uma singela homenagem a todos as guarnições de LFG’s, LDG’s, LFP’s, LDM’s, DFE’s, CF’s, que durante anos, nunca deixaram de abastecer os aquartelamentos que disso dependiam ainda que para isso fosse necessário enfrentar o temível Cantanhez. Em todas aquelas unidades a Reserva Naval da Marinha de Guerra esteve sempre presente.
Homenagem extensiva aos aquartelamentos de Catió, Bedanda, Cufar, Cabedu, Cacine e Gadamael que sempre nos apoiaram e receberam com Camaradagem e Amizade, sem esquecer igualmente a Força Aérea que representou, muitas vezes, a diferença decisiva entre o combóio passar ou não.



Um ataque à LFG "LIRA" em 4 de Abril de 1967
Estas linhas são editadas como uma singela homenagem a todos as guarnições de LFG’s, LDG’s, LFP’s, LDM’s, DFE’s, CF’s, que durante anos, nunca deixaram de abastecer os aquartelamentos que disso dependiam ainda que para isso fosse necessário enfrentar o temível Cantanhez. Em todas aquelas unidades a Reserva Naval da Marinha de Guerra esteve sempre presente.
Homenagem extensiva aos aquartelamentos de Catió, Bedanda, Cufar, Cabedu, Cacine e Gadamael que sempre nos apoiaram e receberam com Camaradagem e Amizade, sem esquecer igualmente a Força Aérea que representou, muitas vezes, a diferença decisiva entre o combóio passar ou não.
De 1965 e até meados de 1968, o dispositivo naval no Sul da Guiné incluia o estacionamento permanente de 1 LFG (Lancha de Fiscalização Grande) da classe “Argos” que, por um período de cerca de 12 dias, se mantinha em cruzeiro na área, fiscalizando e patrulhando as bacias hidrográficas dos rios Cumbijã e Cacine, no que era coadjuvada por uma LDM. Decorrido aquele período era rendida por uma irmã gémea







Mais a Norte, uma LFP (Lancha de Fiscalização Pequena) da classe "Bellatrix", em conjunto com uma LDM, efectuava a fiscalização da área nos rios Tombali e Cobade.
Aquelas unidades navais, partilhavam e complementavam o dispositivo naval da área garantindo a segurança da navegação, transportes de pessoas, bens e equipamentos, apoio à população civil e forças militares. Também o abastecimento de víveres e o escoamento de produtos agrícolas eram assegurados por aqueles meios.
Com a frequência que a prática demonstrava como necessária, a Marinha constituia TU’s (Task Units), no caso um conjunto de unidades navais e embarcações civis, essencialmente integradas por LDM’s e batelões que largavam de Bissau, iniciando o percurso para Sul, com escala e horários previamente definidos para várias localidades e aquartelamentos. Normalmente a frequência era mensal.
Bolama, Catió, o ponto QQ (na confluência do rio Cobade com o rio Cumbijã), Cabedu, Impungueda (que servia o aquartelamento de Cufar), Bedanda(porto interior) e ainda Cacine e Gadamael eram escalas habituais, embora alguns destes locais fossem aportados pelas LDG’s (Lanchas de Desembarque Grandes) que, pelo seu porte e complexa manobrabilidade, não tinham acesso a todos eles.
Para comandar o combóio naquelas missões era nomeado um oficial de uma Companhia de Fuzileiros ou da Esquadrilha de Lanchas, dos QP’s ou da Reserva Naval, com uma ou duas esquadras de fuzileiros que reforçavam o dispositivo de protecção e defesa do combóio com pessoal e armamento.
Em percursos de maior risco de acções hostis, caso do rio Cumbijã, na zona do Cantanhez, a escolta integrava, nessa área de maior perigo de ataque, uma LFG da classe Argos (Lancha de Fiscalização Grande) deslocada do habitual cruzeiro na área do rio Cacine que, por norma e como mais antigo, assumia o comando da escolta (CTU), completada pelo apoio da Força Aérea com dois aviões Harvard T-6.



Naquele dia, 4 de Abril de 1967, cumprida a rota de ida sem incidentes, iniciou-se então a viagem para juzante, em postos de combate, com o apoio da aviação, rumo à confluência dos rios Cumbijã e Cobade, comboiando duas embarcações civis carregadas com arroz proveniente de Bedanda.
Tanto embarcações civis como unidades navais navegavam estrategicamente em coluna com uma LDM na testa e a outra na cauda, aproveitando a maré na vazante com os batelões encaixados a meio da coluna. Cada uma das embarcações civis levava uma guarda de fuzileiros constituída por 4 elementos. Comunicações em cima.
A LFG "Lira", em cruzeiro na área e vinda do rio Cacine para o Cumbijã para apoio e escolta ao combóio, mantinha-se interposta entre a cauda do combóio e a margem, ligeiramente caída para ré. Com cerca de um quarto de hora de navegação, para juzante, ouviu-se fogo de rajada de metralhadoras ligeiras da margem esquerda.
A LDM da frente informou serem de flagelação inimiga pela amura de BB, sem que fosse possível localizar correctamente a origem. Foram dadas instruções para manter o silêncio de fogo para que, visualmente, fossem melhor localizadas as armas, pela chama à boca, evitando manobras de diversão do inimigo com o intuito de desviar a atenção do centro de fogo principal, instalado mais a montante. O desenrolar dos acontecimentos veio corroborar a hipótese.





Pelas características hidrográficas do rio Cumbijã, na curva frente a Cadique, delimitando um estreito canal de navegação existente, o combóio via-se forçado a navegar a uma distância de 30 a 40 metros da margem.
Precisamente nessa zona, numa extensão de cerca de milha e meia, foi desencadeado violento ataque. Quando a zona provável de origem da flagelação se encontrava no enfiamento do través do navio testa, toda a margem, numa vasta extensão de cerca de 600 metros que abarcava todo o combóio, irrompeu num fogo intenso de armas, com metralhadora pesada e ligeira, pistolas-metralhadoras e bazookas visando, sem distinção, todas as unidades do combóio.
Quase de seguida, foi desencadeado ataque de morteiro com salvas contínuas de projecteis, algumas com o tiro bem regulado, outras com enquadramento sistematicamente longo, com as granadas a deflagrar para lá de meio do rio.








As unidades navais reagiram instantaneamente e, em conjunto, bateram sistematicamente com Bofors, Oerlinkon e MG 42 toda a área de ataque apoiadas pelos aviões T-6 que sobrevoavam a zona, picando em sucessão e metralhando o local de ataque. A LFG, com máquinas a vante, toda a força, interpôs-se entre o combóio e o fogo, protegendo a coluna e batendo cadenciadamente a margem com as peças Bofors de 40 mm apoiadas pelas MG 42 montadas nas asas da ponte, pelo fogo das LDM’s reforçadas pelos fuzileiros.
A cadência de fogo de barragem provocava um ruído ensurdecedor e obrigava a arrefecer os canos das anti-aéreas Boffors com as mangueiras de água ligadas. Os invólucros de latão espalhavam-se pelo convés junto ás peças de vante e de ré.







Com alguma certeza e à medida que a navegação prosseguia, puderam contar-se diversas bocas de fogo de bazooka postadas ao longo do percurso, possivelmente actuadas por atiradores colocados em abrigos, bem como atiradores com armamento portátil.
A intensidade de fogo e a extensão da frente inimiga permitiu estimar o grupo em mais de uma centena de homens, todos colocados junto à margem, deitados na bolanha ou em abrigos cavados. Observaram-se mesmo movimentação de alguns, dada a curta distância.
De Cafal, quase simultaneamente, foi feito fogo de canhão sem recuo, embora apenas três ou quatro disparos e mal direccionados. O campo de tiro a partir daquela zona, não era tão afectado pela limitação natural provocada pela diferença de altura das marés. Seria possível vir a enquadrar, no mesmo enfiamento, todas as unidades que navegassem no local, para montante ou para juzante, oferecendo ao inimigo condições quase ideais para interditar a passagem à navegação.









Provavelmente posicionado a cerca de 400 metros do combóio porquanto se ouvia distintamente o disparo, sentia-se o sopro do projécteis passando sobre as unidades para, decorrido tempo sensivelmente igual, rebentarem na margem oposta junto à agua, na bolanha.
Na foz do rio Macobum, o combóio inflectiu o rumo para a margem contrária continuando a ser batido intensamente do lado de Cadique, sobretudo com metralhadora pesada e armas ligeiras, enquanto de Cafine rompia também fogo com armas automáticas e morteiro.
Entretanto a LFG, ao chegar àquela zona inverteu o rumo e manteve-se frente a Cafine, a efectuar a cobertura de protecção do combóio, voltando a fechar a cauda da coluna, batendo sistematicamente as posições do ataque e calando o inimigo pouco depois.
Tinha decorrido uma longa hora e um quarto, sem quaisquer baixas mas com diversos impates nas embarcações e nas LDM’s. Baixas prováveis no inimigo mas carecendo de confirmação.
Desta acção se dá a composição de um pequeno ficheiro de vídeo a partir de imagens e som obtidas numa dessas escoltas, em 4 de Abril de 1967. O local, meios envolvidos e acções de fogo são reais, com relato recreado e adaptado de acções semelhantes.
Fotos cedidas pelo Cte Carlos F. Dias Souto e som cedido pela LFG "Lira".
mls



VB: Amigo Lema Santos,permite-me que te diga que a tua aérea académica devia ter sido as letras e não cientificos!O quadro que nos descreves,embora um pouco sumário,dá para perceber bem o motivo de orgulho que era para nós a consolidação dos três ramos das Forças Armadas na Guiné.Pena é que nem toda a gente assim o interprete,se calhar porque as suas comissões de serviço eram feitas dentro de gabinetes,o som do tiroteio deles era o das teclas da máquina de escrever...enfim!
Obrigado Companheiro!