213-Luís Fraga
Coronel da Força Aérea(Aposentado)
Este texto e foto foram extraídos do Blog"Fio de Prumo",cujo editor é Luís Fraga.
Hoje realizou-se uma manifestação dos deficientes das Forças Armadas. Reclamam das condições a que estão sujeitos.
É inadmissível que num país europeu que manteve uma guerra durante treze anos em três frentes de combate, há trinta e quatro anos, ainda os deficientes das Forças Armadas tenham de fazer manifestações para conseguirem melhorar a sua condição.
Dito de outra maneira, para estes homens, Esta não é a ditosa pátria minha amada, porque honraram a Pátria e a Pátria não os contempla.
Foram homens que deram pedaços de si a Portugal e este não lhes paga como deve. E um Governo — seja ele qual for e muito pior se se disser socialista — que não faz a justiça de tudo empenhar para os recompensar não é digno de se sentar nas cadeiras do Poder. Não honra quem honrou Pátria.
O ministro da Defesa Nacional e o primeiro-ministro já deveriam ter-se debruçado sobre as reivindicações de homens que arrastam consigo há muitos anos os aleijões de guerra de modo a resolver todos os problemas que os atormentam. Não o fazendo não se mostram à altura dos cargos que ocupam.
E não se mostram merecedores do nosso respeito, porque não conseguem gerir a herança que receberam quando aceitaram ser os representantes de Portugal. Eles sabiam que havia deficientes de guerra; eles sabiam que há reformados das Forças Armadas que serviram no antigo Ultramar numa guerra que não desejaram, mas que não renegam; eles sabiam que à frente de todas as mordomias que têm ou permitem que outros Portugueses tenham deveria estar a protecção aos deficientes das Forças Armadas e aos reformados militares. É o mínimo de justiça que se pede!
Quem serviu numa guerra para a qual não contribuiu tem de ser ressarcido dos incómodos que ela lhe causou.
Se no nosso país houvesse verdadeira consciência dos sacrifícios pedidos a uma geração de jovens, os Portugueses, há já muito, estariam divididos em duas grandes categorias: os que foram mobilizados para a guerra colonial e os outros. Aos primeiros, atingida a idade de 65 anos — isto é, o tempo de vida segundo o qual se lhes reconhece o direito à reforma — o Estado tinha por obrigação pagar, pelo menos, 75% das despesas de farmácia relativas a todas as doenças de que possam sofrer. Deficientes ou não todos nós, os que por terras de África e da Índia andámos, somos veteranos de uma guerra; demos a nossa mocidade em climas e condições adversas. Mas uma tal medida ia deixar muito claro que entre os velhos políticos os há que nunca puseram os pés nas frentes de combate e que os novos políticos, aqueles que eram crianças, jovens ou nem mesmo nascidos em 1974 — mas que já se banqueteiam com lautos salários que a sua dedicação às causas partidárias lhes permitem — não são capazes de nutrir respeito por quem não regateou sofrer na carne e na mente os trabalhos de todos os incómodos de uma saída forçada para terras longínquas em condições adversas para cumprir, sem apoucar, um dever de cidadania que um Governo tão iníquo como aqueles de que fazem parte lhes impôs em nome de Portugal.
Não posso estar presente, amanhã, na manifestação dos meus camaradas veteranos deficientes. Obrigações maiores me impedem, mas espero que a eles e à sua causa se juntem os reformados das Forças Armadas e os antigos combatentes para mostrarem aos políticos governantes e aos que o não são, mas dão com o seu silêncio guarida ao oportunismo dos detentores do Poder, que fomos uma juventude sacrificada, afinal, para sermos uns velhos desonrados pelas suas irresponsáveis medidas.
Luís Alves de Fraga às 10:02