276-Augusto Ferreira
Ex-Esp.Melec./Inst./Av 3ª/69 Tete
Ex-Esp.Melec./Inst./Av 3ª/69 Tete
Coimbra
Recordando o AB7 –
Tete Amigo Vítor Barata, depois de ter lido a bonita mensagem nº 270 do nosso companheiro Luís Santos, sobre o nosso AB7, não podia deixar de intervir, uma vez que também lá estive e quase logo a seguir ao Luís.
Cheguei a Tete final de Novembro 72 , cerca de uma ou duas semanas depois, de ela ter sido atacada com mísseis 122 de fabrico russo, junto á pista.
Realmente, as situações extremas em que por vezes passámos, levaram-nos a gravar bem fundo, a nossa passagem por lá.
As altas temperaturas ( mesmo à noite ), quando estávamos deitados em cima do lençol, por vezes sem roupa e com a janela aberta, só com a rede mosqueira, obrigava-nos pela transpiração, a puxar o lençol para um lado e para o outro, á medida que a noite avançava e ele ia enxugando.
Durante o dia, se bebêssemos uma cervejita, ficávamos logo com a camisa colada ao corpo.
Também é verdade se a tirássemos, passados cinco minutos estava seca.
Na época de maior calor, toda a vegetação desaparecia, incluindo as folhas das árvores, exceptuando-se os majestosos embomdeiros, dos quais mando uma foto, que eram réis e senhores na paisagem.
Constava-se lá, que nessas alturas, até as cabras comiam papel.Havia também problemas, com o grupo gerador que alimentava o aeródromo.
Na central, a água do radiador do motor, tinha que ser arrefecida directamente com água da rede, pois a sua ventoinha não era suficiente para a arrefecer.
Como refere o Luís Santos, o ponto fixo aos aviões, começava bem cedo, ás 6h da manhã.
Depois da purga, dos depósitos de combustível do avião, encostava-se o "put.put" e punha-se a máquina a trabalhar.
Verificado o funcionamento dos instrumentos de bordo e os magnetos, se tudo estivesse bem, tínhamos mais um avião com o "barrote ao alto" ( operacional ).
Estas máquinas, estavam prontas para mais um dia de operações. Bombardeamentos,transporte, revis , evacuações.etc.As DO 27, chegaram lá ao AB7 bastas vezes, com feridos civis e militares, vítimas do rebentamento de minas, em situações incríveis, por vezes sem pernas e com ferimentos graves, cobertos de sangue e cravados de terra, que por vezes se espalhava pelo avião.
As ambulâncias do Exército, lá estavam na placa do AB7 á espera, para os encaminhar para o Hospital de Tete, para onde seguiam todos os acidentados do distrito.
A nossa preparação técnica anterior, não contemplava estas situações, mas os efeitos da guerra estavam a passar por ali e o nosso lado humano, tinha que também funcionar, exceptuando-se alguns companheiros, que não conseguiram aguentar aquela pressão e em alguns casos, tiveram mesmo que ser deslocados.
Foi efectivamente o espírito de equipa e de entreajuda, perante as situações adversas, que consolidou a amizade e saudade, por aqueles tempos da nossa juventude, passadas no nosso AB7.
É evidente que os Zés Especiais, sempre encontraram modos, de saírem positivamente destes momentos.
Eram os nossos convívios, ás vezes com um bocado de álcool a mais (para esquecer), ao som da viola nos bares da base ou no "Carraço", que faziam o alhear dos problemas.
Ali aprendemos em conjunto, a conviver com o bom e mau que a vida nos proporciona,enfim, aprendemos a ser homens.Apesar de tudo, sentimos saudades desse tempos.
Amigo Barata isto já está a ficar um pouco extenso, vou terminar, enviando-te um forte abraço para ti e todos os Zés Especiais desta excepcional linha da frente, agora mais bonita.
Em anexo: Três fotos em Tete - 1973
Até breve
Augusto Ferreira
VB. É bonito quando surgem estes dialogos entre companheiros que viveram e defenderam os mesmos ideais.