domingo, 20 de julho de 2008

CRIANÇAS DA PLANICIE.


323-Mario Fitas
Ex.Fur.Mil Op.Especiais Exercito Guiné


Caro Victor,
Desculpa, mas tenho andado por outras terras das nossas Histórias. Mas como chegaram os nossos camaradas de Guidage, e a memória, recordante capacidade desta já desgastada carcaça, mais uma vez me fez sentir a obrigação de voltar a trás. Como funcionário que fui da TAP onde foram parar muitos amigos meus, vindos da vossa Escola.
Lembrei-me do velho amigo Comandante Zeferino “Seca Adegas” que infelizmente já não se encontra entre nós, mas que na Mata de Cabolol (Sul da Guiné) no velhinho T6, ajudou a malta da minha C.CAÇ763 quando fomos apanhados por uma emboscada em que o pessoal do PAIGC utilizou abelhas. Paz à sua alma.
Como isto é com as cerejas, mando-te um escrito meu como Manel Piorna (pseudónimo que uso em escritos do Alentejo) já de algum tempo, referente a uma conversa que tive com um amigo ainda na TAP.
Desculpa esta conversa de saudade, mas os Alentejanos, são mesmo assim.
Boa sorte para o teu magnífico Blogue.
Como muita malta vossa passou por Cufar no Sul da Guiné, do velho Fur. Mil. De Oper. Especiais,
O grande Abraço do tamanho do Cumbijã.
Mário Fitas



CRIANÇAS DA PLANÍCIE Tenho a impressão que tudo percorri, e afinal verifico que apenas uns pequenos passos dei! Julgo terem sido bonitos alguns, outros feios e angustiantes até! Mas agora neste momento preciso, sinto a ansiedade de tentar regressar um pouco ao que foi a juventude. Será?... Que somos ou fomos todos assim!?
Não pode ! O Mundo não pode ser tão “rasca”, tão hostil assim! Havia breves momentos -acabadinho de desligar o telefone- que a esposa do meu companheiro e amigo “Tambinha”, me tinha comunicado, que também ele, era mais um farrapo -psico-mutilado- da guerra. Quando sem cerimónia, a caixinha mágica anuncia: “Nos Estados Unidos, aluno -criança- de quinze anos, abate professor com arma de fogo”.
Não!...
O meu pensamento rejeita ouvir a notícia, e transportando-me para o meu querido Alentejo rememora as “Crianças da minha Planície”.
Nascido aí pelos anos quarenta. No “Tribunal da Vida”, foi Zé Pompeu condenado, pelo crime de com apenas dez anos ter terminado a quarta classe, de ensino obrigatório.
Pena aplicada:
Cinco anos de trabalhos forçados, ali pelas pedreiras do Baldio de Arronches.
Pelo bem saber dar à manivela da forja, por voluntariosamente e prontamente -carregando às costas o cântaro de barro- dar de beber a quem sede tinha, e por esmero ao lume dar força e arranjo das panelas do almoço de seus camaradas: Foi posto aos quinze anos -criança- em liberdade condicional, a esgrimir com reconhecida sabedoria a maceta, que com golpes certos -escaldando as mãos- sobre o ponteiro e “escôparo”, em pedra -granito natureza morta- dava forma às cantarias.
Aos dezoito anos, Zé Pompeu, por mérito próprio adquiriu a liberdade!
Livre como os passarinhos! Assim o seu sonho se tornou realidade!
Por sobre o Tejo, fiozinho cá em baixo, baloiçando ao sabor do vento, admirando o Castelo de Almourol os ares sulcou. Em Tancos, com o valor que lhe era reconhecido, o Zé ganhou a “Boina Verde”.
De novo, como pena, o “Tribunal da Vida” deportou-o.
Lá longe! Bem longe! Em terras de Angola Zé iria cumprir a pena. Mas a Vida e o seu Tribunal destino, foram mais duros, por cumprimento do seu dever.
Pela planície fora, no seu Fiat 850, o padre Camilo, foi preparando o pai de Zé Pompeu, sobre a sorte que o “Tribunal da Vida” tinha dado a seu filho.
Lá longe! Bem longe! Em terras de Angola, terras de Santa Eulália, o Zé tinha sido condenado à morte.
Lá longe! Bem longe! Em Santa Eulália África, a criança da Planície se findou. Aqui bem perto Alentejo, em Santa Eulália eternamente descansou.
Manel Piorna
VB:Bom-Dia,Mário!
Que ausência,então por onde andaste?Pois bem,em primeiro lugar vou te dar uma "pincelada". O blog não é meu,é nosso!Quanto ao escrito,simplesmente divinal,ou não fosse ele redigido pelo GRANDE escritor
Mário Fitas.