sábado, 12 de julho de 2008

MEMÓRIAS DA GUINÉ V.


309-Fabricio Marcelino
Espª.MMA 60 Guiné
Leiria

Há passagens da nossa vida militar que nunca esqueceram e jamais esquecerão.
Todos os elementos da Força Aérea do destacamento 52, da B.A.5, destacados com os aviões F-86, estávamos hospedados na cidade de Bissau. Os oficiais em hotel e, o restante pessoal em pensões ( avenida no meu caso), por falta de alojamentos.
O A.B.2 , posteriormente B.A.12, entregou a cada militar, uma metralhadora FBP, com 2 carregadores de 32 balas cada, uma granada ofensiva e outra defensiva.
Este material de guerra, destinava-se a usarmos em nossa autodefesa, caso fosse necessário, uma vez que não tínhamos mais ninguém que nos defendesse.
Certa noite foi necessário, porque alguém fez fogo de pistola contra a nossa pensão, por volta das 3 horas da manhã.
Gostava de ter filmado a cena que veio a seguir!
Saltámos todos da cama, agarrámos nas nossas FBP's e viemos para a rua como estávamos, ou seja descalços e só com as cuecas vestidas.Foi assim que na rua mandávamos parar toda a gente e revistávamos os mesmos, até que recebemos reforços do exército.Uma cena digna de ser filmada!
Nas nossas poucas horas de ócio,íamos refrescar as nossas gargantas na cervejaria, cujo nome não me lembro, que estava situada junto ao quartel d'Amura, ou então para a esplanada do café situado na praça do império.
Ficavam de serviço na Base, em alerta constante,2 pilotos 2 mecânicos da linha da frente e colegas necessários de outras especialidades.
Sempre que a situação o exigia, vinha uma carrinha da Base à procura dos primeiros pilotos e mecânicos da linha da frente que fossem encontrados, para serem levados de urgência!
Os condutores sabiam bem onde nos encontrar e,por vezes estávamos a saborear um refresco de groselha ou uma lourinha, por exemplo e lá ficava o resto no copo, pois tínhamos de avançar.O pagamento ficava para outra altura,pois o pessoal era conhecido.
Como fora da Base andávamos sempre à civil,normalmente passávamos pela pensão, para nos fardarmos rápido.
Uma vez porém, estava com outros colegas na praça do império, quando mais uma vez nos vieram buscar.
Como não era só uma urgência,mas sim emergência, arrancámos directamente para a Base.Ao chegarmos, cada um tomou o seu lugar, como ia,à civil!
Em todo o tempo que estive na Força Aérea, foi a única vez que inspeccionei e dei saídas a aviões e vi pilotos a voarem à civil, mas nem por isso o nosso profissionalismo foi posto em causa.
Aliás demonstrámos prontidão,eficiência e espírito de sacrifício, como aliás em todos os momentos.
Penso que disso a Força Aérea nunca teve dúvidas porque, sempre que precisou de nós dissémos "presente"!
Aconteceu comigo, mas penso poder afirmar, que ainda hoje todos nós especialistas, nos orgulhamos de ter servido a "nossa" Força Aérea.
Fabrício Marcelino -
ex- 1º Cab.Espª. MMA/60
VB.Grande Companheiro,as passagens que nos vais descrevendo,são um autêntico tesouro de recordações.É bonito ver o teu Grande orgulho de seres
ZÉ ESPECIAL e nos transmitires ,a nós "piras",(mais novos) o teu incentivo no sentido de continuarmos a sentir o mesmo pela nossa FAP.Que Deus te de muitos anos de vida, com saúde, para nos continuares a transmitir os teus tão frutuosos conselhos que tão bem nos sabes dar.