quarta-feira, 17 de setembro de 2008

SUPER LOBO MAU.


440-Américo Silva
Esp.Marme 1ª/69 Guiné
Angola




SUPER LOBO MAU.

Durante o tempo em que fiz parte da equipa do “Lobo Mau”, participei em variadas operações que, pela sua natureza, não eram “pera doce” nem “molesa”..., com excepção daquelas que eram solicitadas pelo Exército para apoio quer a colunas de camiões, quer à progressão da “tropa” na mata e pela lentidão com que se desenvolviam, quase que até davam para dormir...
Recordo principalmente uma destas vezes, pela maneira engraçada como ocorreu.
Sem me lembrar em que zona aconteceu, recordo contudo os pormenores.
Tratava-se de apoiar a progressão de uma coluna de tropa guineense, que se deslocavam de uma povoação para outra, evoluindo através da mata.
A movimentação era muito lenta, pelo receio que tinham de alguma emboscada e confronto com a guerrilha do PAIGC, pese embora o helicanhão sobrevoasse constantemente a área, sem se afastar do local, não fosse o “Diabo tecê-las”...
Pela lentidão, tornava-se fastidioso aquele serviço.
A dado momento, a tropa no terreno, suspeitou de algo de anormal, por terem detectado movimento nuns arbustos a cerca de 100 metros à sua frente.
Comunicado para o helio, o piloto identificou o local, participando ao atirador e ordenando que fossem disparados uns tiros para os ditos arbustos.
Apesar de não ter visto nada de anormal, apontei para lá e disparei um único tiro, sem contudo ter continuado a notar algo de anormal.





Foi o chamado tiro por “descargo de consciência”..., continuando-se o voo em círculos largos também para não identificar a posição da tropa.
Quando o pessoal chegou junto dos arbustos, verificaram que jazia morta uma gasela.
De imediato, com enorme euforia e entusiasmo, começaram a transmitir novamente para o helicóptero. – matou gasela, matou gasela!
Manifestando todo aquele alarido pois que, se com apenas um tiro e de primeira se tinha morto a gasela, o atirador era super.
Nós, eu e o piloto, ríamos pelo acontecimento, pois tínhamos a perfeita consciência que, apenas por sorte, se havia morto o animal.
Para a tropa, aquilo funcionou de tal forma positivo, psicologicamente falando, que a partir dali, o andamento foi três ou quatro vezes maior, tendo chegado muito mais rápido ao destino.
Quando lá chegaram, já o helicóptero tinha aterrado e aguardávamos ordem para seguir para a Base, com a missão dada por concluída.
Eu, permanecia junto ao helio, vendo a chegada de todo aquele pessoal, quando começo a ver toda a gente dirigindo-se no meu sentido, com aquele ar de satisfação, dando-me de seguida os parabéns pelo que tinha acontecido, dizendo:
- Atirador matou gasela, matou gasela!
Mantendo uma atitude digna face à situação, ia agradecendo, mas como uma enorme vontade de rir e contar como realmente tudo tinha simplesmente acontecido.
E assim lá partimos rumo a Bissalanca, qual heróis coroados de glória pelo facto.

Américo