terça-feira, 25 de novembro de 2008

575 O INSÓLITO ACONTECEU.



António Damaso

Sargº.Mor Paraquedista Guiné
Odemira







O INSÓLITO ACONTECEU:
Quando em 18NOV72, cheguei à ao BCP 12 para a minha 3.ª comissão na Guiné, fui colocado na CCP 121 no 3.º pelotão tendo ficado como adjunto por ser o Psarg. mais antigo, mal sabia eu o que me esperava.
Tomei parte na operação Tigre Poderoso 1.º período que foi de 12DEZ72a19JAN73, a qual se desenrolou na zona do Cantanhês, não me recordo se fui transportado directamente de heli de Bissalanca para Cufar ou se fui de Nordatlas, uma vez que utilizei os dois meios de transporte.
Depois o meu grupo de combate e o 4.º fizemos um heli-assalto à zona de Caboxanque, fartámos-nos de correr de um lado para outro em plena bolanha, foi um dia muito cansativo para todos, ao anoitecer procurou-se na mata um lugar para passar a noite e formámos o círculo como sempre mas não armadilhámos o trilho deixada pelo nosso rasto.
Sabia que era perigoso eu dormir quando passava a noite no mato, pois sabia que quando tinha a idade daqueles rapazes, até adormecia de pé a andar, quando o da frente parava, acordava ao chocar com ele e quando estava de reforço adormecia em pé, só quando as pernas se dobravam e me estatelava no chão é que acordava, mas naquele dia por estar muito cansado e já haver mais de um ano que não ficava no mato, resolvi arriscar e adormeci logo.
Não passado muito tempo, acordei com a confusão instalada dentro do círculo, tinha entrado no mesmo um guerrilheiro armado com uma espingarda Mosin Nagant (uma espécie de Mauser), o IN entretanto foi abatido por um elemento do meu pelotão com um tiro de pistola, como estava escuro, perto de mim estavam dois páras ao soco sem saberem quem era quem, tive de os apartar e dizer que o assunto estava resolvido, para nossa sorte, a arma do in estava encravada e ao que tudo indica, as sentinelas estavam a "ferrar o galho,"a partir dali sempre que ficava no mato nunca mais dormi, o que me provocava muito desgaste.No dia seguinte apurou-se que o elemento pertencia à Tabanca de Flaque Injã , a família foi buscá-lo para o sepultarem.
O meu pelotão ficou instalado na orla da bolanha entre Flaque Injã e Caboxanque, tivemos de abrir valas, fazer abrigos e colocar arame farpado à volta, quando o trabalho duro estava feito, deixamos a papinha feita para a outra Companhia e embarcamos numa lancha e fomos até ao cais de Cadique ter com o outro bigrupo da nossa Companhia que já estava em Cadique Nalu.
Ninguém me disse mas tive a intuição de que, colocar mais uma C.ª de Páras na zona a escassos Kilometros uma da outra, com o Rio Bixanque a separar se deveu à forte implementação do PAIGC no CANTANHÊS.
Saudações Aeronáuticas
Dâmaso