sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
702 MACACO KOM.
Luís Graça
Fur.Mil. Exér. C.Caç.12 Guiné
Doutorado em Saúde Pública
Editor do Blog "Tabanca Grande"
Amigos e camaradas:
Recebi o mail, abaixo transcrito, de uma bióloga portuguesa, que está fazer um trabalho de investigação, para efeitos académicos (doutoramento, no Reino Unido), sobre os babuínos da Guiné-Bissau, mais concretamente o nosso tão conhecido e querido macaco-cão, tão abundante ainda no tempo da guerra, apesar da guerra...
Hoje o maco-cão é uma espécie em perigo: continua a ser caçado e comido pelos guineenses, é um iguaria apreciada em Bissau, parece ser também um bom substituto para a falta de uma alimentação mais proteica nas cidades (e no campo)...
Vamos ajudar a nossa nova amiga, Maria Joana, com depoimentos, fotos, histórias, etc. relacionados com o babuíno... Já publicámos no nosso blogue algum material. Lembro-me de fotos do Joaquim Mexia Alves, do Hugo Costa, do Samúdio... E de uma história fabulosa do Victor Junqueira que comeu a mais saborosa sandocha do mundo, em Bissau, com carne de "cabrito pé de rocha"...
Vamos ser solidários: ajudando a conhecer melhor a genética, a demografia e o habitat do babuíno, também ajudamos os guineenses a conhecer, a admirar e a proteger o seu património, que inclui esse animal fabuloso que é o babuíno, nosso parente (uma vez que pertence à ordem dos primatas, como nós...).
Gostaria de começar a receber algum feedback vosso, antes de publicar o apelo da nossa amiga no blogue...
Tanto quanto se lembro e sei, nós não caçávamos babuínos (a não ser muito esporadicamente)... Os fulas fazíam-no, um pouco às escondidas... Também os comiam, nas nossas costas.
Eles sabiam que para os tugas, carne de macaco era tabu alimentar (tal como o porco, para eles). Tinham crianças ou adolescentes com mausers (!) nos campos de cultivo: Afugentavam-nos e às vezes matavam-nos quando invadiam (e destruíam) os campos de mancarra... (Não façamos de juízos de valor, em função dos nossos padrões civilizacionais: no passado, os nossos caçadores matavam, por exemplo, as aves de rapina, para poderem ter coelhos em abundância...).
Vi uma vez um macaense, de origem chinesa, nosso camarada, preparar e assar na brasa um pequeno babuíno... No final, a carcaça fez-me lembrar os nossos bebés... Reconheço que ia quase vomitando...Nas diversas tabancas fulas, em autodefesa, por onde andei (às vezes por períodos de algumas semanas), nunca me percebi do consumo de carne de babuíno... Mas havia tantas coisas de que a gente não se apercebia naquela terra e naquela guerra... A única (e pouca) carne de caça que eu comprava (ou que me ofereciam) era de gazela... A caça era uma actividade de risco nas tabancas por onde passei, de diferentes regulados: Joladu, a norte do Geba, Corubal, Xime...
Na floresta-galeria do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole e nas matas do Cuor, era relativamente frequente depararmo-nos, no decurso de operações, com bandos de cem e mais babuínos, ruidosos e agressivos perante a invasão do seu território... Quando esteve no sector L1 (Bambadinca), na tropa macaca, nunca mais esquecerá o maldito Mato-Cão onde se fazia segurança às embarcações que passavam pelo Geba Estreito, entre Xime, Bambadinca e Bafatá... É difícil precisar o nº de machos: talvez dois ou três, talvez mais (posso estar a ser influenciado pelas minhas leituras posteriores na área da etologia, pela qual me interesso...).
Nunca vi, felizmente, ninguém matar um babuíno... Em contrapartida, havia crias de babuíno que serviam de mascote nos nossos quartéis...
Um triste hábito que era tolerado por todos nós... Naquela época não havia consciência ecológica, nem respeito pelos direitos dos animais... Também nunca dei conta da utilização da pele do babuíno para efeitos medicinais, por parte das populações com quem lidei (fulas, mandingas, balantas), quer em Contuboel (Maio/junho de 1969), quer em Bambadinca (Junho de 169 / Março de 71)...
A nossa amiga também refere alguns antigos militares portugueses, que foram citados em entrevistas com habitantes do Cantanhez... Há referências a Cabedu e a Bedanda...
Há erros na identificação das unidades militares, que não será difícil de corrigir: por exemplo, Grupo Caçador 6, de Bedanda (em vez de CCAÇ 6 )...
Amigos e camaradas: digam da vossa justiça e continuem a ser fantasticamente solidários como têm sido desde sempre.
Um alfa bravo do
Luís Graça
VB.Olá Luís,é sempre uma honra para nós poder contar com a tua colaboração no nosso espaço,seja ela de que natureza for.
Sobre o artigo em questão,obviamente que publicitamos,embora, como sabes,a nossa aérea de actuação não nos permitisse dar oportunidade de ver essas espécies,o que leva a crer que provavelmente pela parte dos "aviadores"poucos se iram pronunciar.
Mas,felizmente,muitas pessoas extra à FAP lê o blog e certamente irá colaborar com a Joana.
Um abraço para ti
Victor Barata