sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

706 CARTA ABERTA À Dª.ANA BRITO.


Fabricio Marcelino
Esp.MMA 1960 Guiné
Leiria
Senhora D.Ana Brito, permita-me que lhe apresente primeiramente as minhas condolências,pelo falecimento do seu saudoso marido, embora a sua morte tenha ocorrido já há vários anos.
Arrepiei-me, ao ver de novo, a foto do seu saudoso marido e, ao ler as palavras que a Senhora fez o favor de dirigir a todos os elementos do Blogue,dos quais me incluo.
Eu tive o privilégio de contactar com o seu saudoso marido, diariamente durante 2 anos,pois eu era um dos 12 elementos da linha da frente dos aviões F-86 na B.A. 5 em Monte Real e posteriormente, um dos 5 da mesma linha da frente, que fomos à Guiné.
O que sentia dele, eu já disse no nosso Blogue, em especial nas posturas nºs.231, 400 e 499.Mesmo assim, muito mais havia a dizer.
Todos nós sabemos, que ninguém consegue agradar 100% a Gregos e a Troianos,mas para mim, o seu saudoso marido,foi uma das pessoas que mais me marcou,tanto como homem, bem como militar.
Era uma pessoa que não se andava sempre a rir, mas era íntegro, com uma elevada postura, educação e respeito, pelos seus colegas superiores e subordinados.
Como piloto era perfeito!
Em 1962/63,como capitão,foi meu comandante à Guiné,na 7ª missão da B.A 5, ao então A.B.2, posteriormente B.A. 12.Foi precisamente na Guiné, que mais transpareceu o GRANDE HOMEM que era.
Variadas vezes se prejudicou,para se colocar ao lado do "seu pessoal", ao ponto de, na qualidade de 2º.Comandante interino da Base, ter cortado relações com o 1º.Comandante,para precisamente se colocar ao lado e, em defesa dos seus colegas da B.A.5, quando este nos queria tramar.
Quem foi militar sabe, que em circunstâncias idênticas,poucos se comportaram assim.Só os GRANDES HOMENS!
Passámos juntos o dia da mãe (antigamente dia 8 de Dezembro), passado com ataques constantes, durante 5 dias e 5 noites sem dormir.
O Natal de 1962 e passagem do ano 1962/63.
Estas, como todos sabemos eram datas festivas com a família,mas na guerra a nossa família eram os colegas!
Estes, que nós que por lá passámos jamais esqueceremos!
Chorei, quando há poucos anos tive conhecimento da sua morte, pelos motivos descritos.
Minha Senhora, peço imensa desculpa por lhe dirigir respeitosamente estas palavras, mas não ficava bem comigo próprio se não o fizesse.
O seu saudoso marido, foi mais um militar herói da nossa pátria.
Oxalá esta pátria não o tivesse esquecido, como tem feito à maioria dos militares deficientes,com doenças pós traumáticas e, aos milhares de mortos espalhados pelo antigo Ultramar,sem permitir às famílias fazerem-lhes os merecidos funerais.
Cumprimento respeitosamente a Senhora e seus filhos e desejo-vos tudo de bom.
Fabrício Marcelino - Leiria