segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
729 A GUINÉ SEMPRE A DIANA ANDRIGA ÁS VEZES.
Rui Alexandrino Ferreira
Cor.Exército (Reformado)
Viseu
VB:Ainda sobre filme apresentado pela RTP 1 nos passados dias 15 e 16,recebemos deste nosso companheiro o seguinte comentário:
Amigo Victor:
Vi e ouvi com atenção a mensagem que a jornalista nos quis transmitir no programa televisivo que a nossa TV pública passou em hora nobre .
O PAIGC é que eram os bons e nós tropas Portuguesas os maus.
É uma opinião a que logicamente tem todo o direito. Não será muito abonatória para o soldado português, englobando nessa designação todos quanto no cumprimento do Serviço Militar Obrigatório passaram pelas fileiras do Exército na Guiné e não só.
Gerações que durante treze arrastados e sofridos anos de guerra que extenuou, sacrificou, estropiou, mutilou a juventude de Portugal. Tudo aguentaram para dar ao poder político tempo mais que suficiente para lhe arranjar uma solução e que acabou por nunca acontecer.
Que tendo suportado contrariedades sem conta desde o desprestígio acelerado que as Forças Armadas vinham sofrendo, o descrédito em que foram caindo os mais altos escalões da hierarquia, a erosão a que a rotina da guerra conduziu, a desmotivação do Quadro Permanente, a mobilização praticamente total do contingente anual possível com a evidente perca da qualidade humana, a queda acentuada dos níveis de instrução, a justiça e falta de ideal da própria guerra acabaram por erigir mais uma epopeia de Portugal em África.
Numa África inóspita e desconhecida para a maioria, traiçoeira e perigosa onde se multiplicavam adversidades que iam da falta de água potável à má alimentação, das doenças tropicais endémicas às sexualmente transmissíveis, dos excessos do clima à precariedade ou inexistência de instalações, da ausência de material de guerra e logístico moderno, aligeirado ou de fácil manuseamento, o que contrastava com a rápida evolução e modernização do material usado pela guerrilha e que se acabou por chegar a uma situação que reporto única nos tempos e no mundo de um Exercito Regular se encontrar em inferioridade técnica de meios.
Que se viram confrontados com uma guerra onde o antagonista moralizado, matreiro, adaptado ao terreno, valorizado por anos sucessivos de luta, explorando as nossas fraquezas e melhorando os procedimentos a que pragmaticamente só tinham para opor a abnegação, a capacidade de sofrimento, a camaradagem, o espírito de sacrifício, um inacreditável poder de adaptação, um providencial sentido de desenrascanço, um extremo desembaraço, demonstraram uma imensa grandeza de alma.Que se viram defraudadas nos seus sacrifícios, vãos os seus esforços, inúteis as suas canseiras e inglórias tantas mortes.
Que se vejam esquecidos pelos seus próprios, muito mais preocupados em bajular o inimigo de então do que a reconhecer as dificuldades da sua acção. Que vem tentar amenizar, fazer esquecer ou nem disso falar do genocídio das tropas africanas que connosco e por nós combateram, que comprometemos com o slogan dum Portugal do Minho a Timor e que desarmámos com promessas de integração num futuro Exército da Guiné com acordos com o PAIGC que sabíamos muito bem que não iam cumprir.
Genocídio que se pretende justificar com a pretensa violência com que essas tropas africanas actuavam. Que sorrateira e deliberadamente se esquece que se durante a guerra ambos estavam armados depois disso só uns tinham as armas. E como é diferente a situação. Ambos armados: matar ou morrer ou simplesmente morrer para os desarmados.
Não me parece, pois, que tenha sido uma justa abordagem do que se passou, não me parece isenta, nem a homenagem que mereciam os soldados de Portugal que na Guiné deram tudo até a própria vida por aquilo que então se acreditava ser a defesa da Pátria.
A minha sincera homenagem ao meu herói - o soldado de Portugal. Que ninguém tenha vergonha nem de o ter sido nem do muito que fizemos pelo povo da Guiné.
Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira