domingo, 15 de fevereiro de 2009

793 AS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS.


Carlos Alves
Esp.MMA Tete
Alvaiazere
Boa noite companheiros da Linha da Frente.
É com inteira justiça que ultimamente se tenha falado nas Senhoras Enf. Paraq. Embora eu nunca tenha feito qualquer evacuação com elas,sabia bem a falta que faziam.Só começaram a fazer serviço nos helicópteros em Tete já quase no fim da minha comissão.
Muitas vezes eramos confrontados com situações dramáticas,não sabíamos o que fazer, os nossos conhecimentos de enf. eram nulos.
Os feridos por vezes desesperados tiravam o soro ou a agulha caía,a acumulação de soro no local onde a agulha estava espetada,eram situações vulgares.Nós tentávamos recolocar o soro mas era quase impossível dada a trepidação do helicóptero,a falta de jeito e a ignorância.
É preciso também lembrar que na maioria das vezes os feridos chegavam ás nossas mãos sem qualquer tratamento a não ser o soro e quando necessário uma dose de morfina,muito raramente uma ligadura.
O militar no mato que fazia de enf. tinha o minímo de material não podia carregar ás costas um Kit com tudo o necessário. Recordo por exemplo uma evacuação que fiz para os lados do Tembué onde o helicóptero só pôde aterrar a mais de 200 metros do ferido.
Depois de assegurada a protecção do helicop.segui pelo mato com a maca e um militar armado ao encontro do ferido.Um soldado com uma perna esfacelada do joelho para baixo.Pisou uma mina.Tivemos de o transportar na maca aos ombros porque não conseguíamos caminhar com a maca nos braços com tanto capim e mato.A perna ferida ia mesmo a frente dos meus olhos,os pedaços de carne meio ripados ensanguentados e cheios de terra pendurados quase me tapavam o caminho.
Era assim que os recebíamos e era assim que seguiam até ao hospital em Tete.
Que jeito dava ali alguém especializado.
De certeza que não sofriam tanto e as mortes na Guerra do Ultramar não teriam sido tantas. Nós,FAP fazíamos o que sabíamos e dávamos o nosso melhor.
É justo que ADFA as inclua no seu convite .
Bem hajam SENHORAS ENF. PARAQ.
Um abraço
Carlos Alves