quinta-feira, 5 de março de 2009

VOO 833 UMA ENFERMEIRA CIVIL NA TROPA.


Giselda Pessoa
Sargº.Enfª.Paraquedista Guiné
Lisboa
UMA ENFERMEIRA CIVIL NA TROPA

A minha formação como enfermeira foi iniciada na Escola de Enfermagem do Hospital de S.João, no Porto, em 1966. Ida de S.Martinho de Anta, perto de Vila Real, o Porto era o local mais lógico para tirar o curso. E por lá continuei em 1968, como enfermeira, tendo sido logo colocada no Serviço de Urgência do S.João, onde se trabalhava muito mas também se aprendia mais, e depressa.
Por essa altura ia tendo notícias da minha irmã Antonieta, também enfermeira, então integrada na Força Aérea como enfermeira paraquedista. Das suas deambulações por África ia-me dando notícias, mas não criou necessariamente em mim a vontade de lhe seguir as pisadas. Foi um pouco por acaso que numa deslocação a Lisboa à Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea, alguns dos presentes me incentivaram a inscrever-me no novo curso que estava em preparação. Acabei por concorrer pois, no fundo, entusiasmava-me a possibilidade de desenvolver a actividade que tinha, num ambiente ainda mais exigente, e agradavam-me igualmente as características da vida militar.

Em Tancos Batalhão de Caçadores Paraquedistas durante o curso.

Assim, em 1970 acabei por frequentar o curso de paraquedismo na Base Escola em Tancos, o 7º constituído por enfermeiras civis. Das nove que constituíam o curso acabaram oito, iniciando nós então um rodopio entre a base-mãe, os Açores, Guiné, Angola e Moçambique.
No meu caso pessoal, fui inicialmente colocada em Moçambique durante todo o ano de 1971, onde se pode dizer que tive um período de férias razoável, pois para além de curtos períodos em Nacala e Nampula, estive essencialmente baseada em Lourenço Marques. Aí prestava apoio no serviço de saúde, o que incluía deslocações periódicas a Lisboa, acompanhando e apoiando os militares evacuados, inicialmente no DC-6, mais tarde nos Boeing 707.
Deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada.


Na Guiné com a sua colega Rosa Mendes e um militar do exército.


Foi por isso com alguma expectativa que no início de 1972 me mudei "com armas e bagagens" para a província da Guiné. Aí, finalmente, respirava-se um ambiente muito mais operacional, onde a solidariedade e a camaradagem eram bem visíveis e o trabalho puxado nos fazia sentir mais realizadas.
O contacto diário com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me até hoje recordações que dificilmente desaparecerão.
Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento.

Em pleno teatro operacional com,da Esqª/Dirª,Cristiano,Atirador do Héli cujo nome não recordo e o "Poeta".

São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - paraquedistas, pilotos e pessoal especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei à Força Aérea como enfermeira paraquedista.

Giselda Pessoa

VB:Nunca me canso em falar da Giselda,já aqui expliquei o porque.
Repare-se qual era o espírito desta senhora na sua actividade profissional,através do comparativo que nos faz da sua actividade entre Lourenço Marques e a Guiné!?...
É verdade Giselda,na Guiné criamos uma autêntica família que dificilmente se separará.
Depois que regressei daquela província,o nosso contacto perdeu-se,quer com a Giselda quer com o Miguel,mas era frequente em mim a recordação da sua imagem,a nossa convivência,momentos marcados pelas mais diversificadas causas,que me fez com que os procura-se.Encontrei-os!
Em Novembro do ano passado "brindaram-me"com a sua presença!
O tempo foi pouco e a atenção que lhes dediquei foi muito pequena para o que eles efectivamente merecem.Ficou prometido um encontro mais programado.
Mas a partir desse dia o nosso contacto,embora telefónico,tem uma assiduidade compensatória.
Que seja por muitos anos e com saúde.