segunda-feira, 31 de agosto de 2009
VOO 1155 OS QUARENTA ANOS DA 3ª/69.
VOO 1154 CANTORIAS NO BAR.

Fur.Mil. PA Tete
Caminha

Normalmente juntavam-se aí depois das 6 da tarde, quando já era noite.
Ali carpiam as suas mágoas, abafadas com grandes litradas
O bar servia para ler o correio que vinha da metrópole…
de cerveja ou “tricofaite” (vinho tinto misturado com” seven up”). A saudade da família e dos amigos, o isolamento, o clima de guerra, tornavam o bar, centro fulcral do lazer dos “aviadores”.

O Zé com uma consciência política já bem cimentada pela participação nos Congressos da Oposição Democrática, aproveitava para pôr cá para fora, a repulsa que lhe causava aquela guerra injusta. “Não há machado que corte a raiz ao pensamento”, de Manuel Freire, “Recuso-me”, de Luís Cília ou “os Vampiros” de Zeca Afonso, eram temas cantados diariamente. Juntavam-se a estes, canções do “Cancioneiro do Niassa”, que com letras de autores anónimos associadas a músicas conhecidas, eram uma crítica feroz à guerra, à boa vida dos chefes militares e aos problemas vividos pelos soldados no palco das operações. É o exemplo da canção seguinte, que o Águeda cantava em estilo fado, acompanhado à viola pelo Ferreira e deixava a lágrima a cair pelo canto do olho, obrigando a mais uma rodada de “bazucas”.
António que levaram para a guerra
Lindo pombo correio voador
Para mandar notícias para a terra
Para sua mãezinha e seu amor
Mãezinha fui ferido na trincheira
Meu pulso direito mal escreve
Tenho um pombo correio a meu lado
Que te levará o luto muito em breve
Que horror vai no campo de batalha
Nossos camaradas a tombar
São corpos trespassados pelas metralhas
Que caem p’ra não mais se levantarem
Mãezinha como vai a minha noiva
Como vai essa pura donzela
Que case mas que guarde uma saudade
Daquele que morreu a pensar nela
Mas todo este “relambório” para dizer que a vida no bar era sempre agitada, com as emoções a fluírem à flor da pele e ao mais pequeno “desencontro”, havia “milandro” (confusão).

O chefe do bar era o Pedreiras, aí para os 40 de idade, 2 metros de altura, 100 quilos de peso. Por algum motivo lhe chamavam “monstro”. O Zé não simpatizava com ele por ser demasiado militarista e ele retribuía, não gostando do Zé. Como homem da “situação” (defensor acérrimo do “Regime”) afinava e de que maneira quando o Zé cantava em tom elevado as canções revolucionárias.
Certa noite achou que o Zé não podia cantar alto e ameaçou que se continuasse mandava fechar o bar. O Zé tivera um dia bastante cansativo, ainda por cima com a notícia desagradável de um amigo morto, que se julga abatido em pleno ar. Para evitar conflitos, foi sentar-se na esplanada da parte de fora e não ligou à “investida”, continuando a cantar:
Recuso-me ao silêncio e à mordaça
Embora a minha voz de nada valha
Tenho plena consciência
Que havemos de vencer esta batalha
Pedreiras continua ao rubro e da parte de dentro do bar, enquanto fecha a porta, atira para o ar “ grande malcriado, ou te calas ou parto-te os dentes... e vou participar de ti”. O Zé, apesar de mais embriagado que o costume, sentia-se bem. O álcool fazia-o esquecer as saudades e o amigo perdido, mas as palavras do Pedreiras encheram-no de revolta e enquanto se dirigia para a porta do bar já fechada, vociferou aos gritos: “Abre a porta, meu cabrão, meu paneleirote, meu cobarde... anda-me partir os dentes, se és capaz...” Como não teve resposta, foi andando a cambalear em direcção ao quarto, que

ficava ali a 50 metros e voltou logo de seguida de Walter (pistola de guerra) na mão. Bate à portado bar e como ninguém a abre, dá um murro de mão fechada, no vidro martelado. Com o pulso a sangrar e cheio de cortes, entra no bar e puxa a corrediça da arma atrás, colocando uma bala na câmara. O Pedreiras ao ver a cena e o sinal de desespero do Zé, foge por um pequeno postigo que dá para o exterior. Como foi possível um corpo daqueles, passar por um buraco tão pequeno? Mas foi... O Zé, depois de “mamar” mais uma “bazuca”, acalmou e foi-se deitar.
Ao outro dia não se falava noutra coisa, se não do incidente da noite anterior. O Pedreiras participou do Zé. Passados dois dias, o Comandante da Base, homem experiente e inteligente, que também não gostava muito do Pedreiras, chamou os dois ao seu gabinete e leu em voz alta, o despacho que tinha aposto na participação:” proibir alguém de cantar alto num bar, ainda por cima numa unidade isolada da Força Aérea, como é o caso, parece-me no mínimo ridículo, pois o bar é o local onde habitualmente se fala alto. De futuro, problemas destes, devem ser resolvidos entre os intervenientes, que são militares e adultos e não crianças de escola”.
- É tudo meus senhores, podem sair, despede-se o Comandante.
Pedreiras e Zé, saem mudos do gabinete. Pedreiras vai arrasado com as palavras do Comandante. Zé sai satisfeito e apesar de lhe apetecer sorrir, não o faz. O que é certo é que continuou a cantar e o Pedreiras nunca mais se meteu com ele.
Uma semana passada, o Comandante como “castigo”, propõe ao Zé uma semana de férias na Beira.
VOO 1153 AGRADECIMENTOS.
Esp.MMA Guiné
Leiria
A propósito do meu VOO 1145, ainda bem que o Costa Ramos, de Coimbra, concorda comigo, no que escrevi no referido voo, acerca do grande comandante Barbeitos de Sousa.Os grandes Homens nunca esquecem!
Também agradeço, os votos de melhoras que este colega me desejou.Obrigado
Agradeço igualmente, a visita que o nosso grande colega Augusto Ferreira me fez,mais uma vez,(pois a primeira foi após saír da sala de operações), para se inteirar das minhas melhoras.Felizmente já me encontro em boa recuperação.Após os cumprimentos e, depois de conversarmos um pouco, fomos almoçar com satisfação,mas o dia para ele ainda era de serviço e lá teve que seguir a sua vida normal. São atitudes destas que devemos realçar e agradecer do fundo do coração.
A estes e a todos os colegas que se interessaram por mim, na fase preocupante que tive,o meu mais sincero obrigado.Estas sim, são atitudes de verdadeiros especialistas!
Fabrício Marcelino
Voo1145 – Memórias do passado – Fabricio Marcelino
Voo 1147 – Compartilho a tua opinião Marcelino – Costa Ramos
VOO1152 HOMENAGEM AO VITÓ.
2ºSargº.MMA Tete
Quero aqui mais uma vez saudar o aparecimento do José Leal que com a sua participação, recorda momentos que nós vivemos no AB7-TETE, mencionando o nome deste nosso companheiro.
Um grande abraço para toda esta grande Família.
Arlindo Pereira -Piriscas
Só temos que pedir a Deus que os conserve no local por eles merecido e descansem em paz.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
VOO 1151 AEFA.
Esp.EABT
O texto que se segue não é própriamente uma sequência dos voos que ultimamente tenho lido, de excelente qualidade, com relatos/crónicas pessoais que deixam qualquer um de enorme saudosismo, onde acima de tudo é, minuciosamente, caracterizado o verdadeiro espírito do "Zé Especial"....
Depois de consultar periodicamente o site da AEFA a aguardar por noticias, mesmo aquelas que todos sabemos e a direcção da AEFA não (nunca) teve coragem de as divulgar, nem os motivos, se é que existem, que levaram a acumular às enormes asneiras alguma vez cometidas, achei que deveria enviar à direcção da AEFA o texto abaixo escrito.Uma vez que se aproxima o fim de férias para uma grande parte de nós, aproveito para desejar um bom regresso ao trabalho a todos aqueles que aqui deixam os seus testemunhos e em especial ao ESPECIALISTAS, com as baterias recarregadas para conseguir enfrentar os tempos difíceis que se aproximam, com a certeza que os VERDADEIROS ESPECIALISTAS se vão unir de forma a conseguir provar o espírito e as razões porque sempre se pautaram e que se mantém vivo e que as “ervas daninhas”, os “penetras” e os “oportunistas” aos quais demos guarita abandonem os lugares que nunca souberam, nem mereceram, ocupar nem muito menos dignificar.Meus caros será que os verdadeiros ESPECIALISTAS, que são muitos, mas mesmo muitos se vão deixar abater por um punhado de ovelhas negras?Será que não sabemos por cobro a isto?Meus caros só temos que nos organizar, o que penso que não seja difícil.Vamos pensar em criar uma forma de recolher os elementos necessários para “limpar a casa”.Vamos ser optimistas, pensar positivo e cumprir a nossa missão.
Tenho verificado, já há algum tempo, que a actividade noticiosa da AEFA no site parou aquando da realização do encontro anual.Será que depois deste evento não há notícias para dar?
Aníbal C. Gomes
Os rapazitos fazem o que querem,gastam o que,e como,querem,sem darem cavaco a ninguém,e,para cumulo,continuam a ter uma grande credibilidade junto de quem lhes dá a verba para gozarem a seu belo prazer!
A única coisa que peço aos ESPECIALISTAS DA FAP,é que não queiram ter uma AEFA para se encontrarem uma vez no ano,mas sim uma AEFA digna e coesa dando continuidade ao trabalho daqueles que muito do seu tempo e à "taxa 0" deram à causa dos ESPECIALISTAS!
VOO 1150 FOMOS E SOMOS ESPECIALISTAS.
1ºSargº.MMT Moçambique
Terceira-Açores
Eu, tenho “duas opções”, ou o MAR ou a TERRA??!!...
Gostava de agradar a TODOS, mas o HOMEM ,que tentou fazer isto,foi crucificado….
Mas, entretanto, passaram muitos anos e alguém me disse: ” fazer BEM, sem olhar a quem”.
Com este espírito, tenho vivido, honestamente, (como tal, não tenho nada), mas fico FELIZ, em ver os outros, melhor do que eu…vencendo “ventos e marés”, continuam, com o Espírito de ESPECIAL, que ainda MUITOS, querem manter?!…

Realmente, passaram-se trinta e sete anos, mas, o abraço, que demos com “timidez, como quem há muitos anos, falava com o mais antigo,bastava sermos recruta e o outro ser da 1ªFase, passado algum tempo, éramos HUMANOS….
Assim aconteceu, o ÁLVARO DA SILVA, ABST, da 2ª/69, veio aos AÇORES, (sua terra), conforme fotos em anexo que,ELE, muito gentilmente me enviou…
1 “Nasceu” aonde hoje está o POSTO 1.

2 O seu ditoso pai, foi Guarda Nacional Republicana, ou seja “os primeiros militares,que na altura, faziam a segurança da unidade, BA4”.
3 Aos 2 (dois), anos“sem fugir”, foi conhecer a sua mãe Pátria, o “CONTENENTE”, cresceu… e como levou o cheiro do mar e o voo da gaivotas,veio parar á FAP.Não foi Piloto, mas conheceu “AVIÕES”, e fez-se HOMEM,MARIDO PAI/SOGRO E AVÔ….
4 Agora, ficará para a recordação e amizade, o meu MUITO OBRIGADO, porque ele, fez-me reencontrar um AMIGO dos Amigos, que quando eu casei, foi o meu “ÚNICO CONVIDADO”,mas o mais importante, que perdurou até hoje, foi ele, AURÉLIO CARDOSO RAMOS, de Travassos,Mealhada, que também era MMT, deixou de ir de “fim de semana” á terra, para assistir ao nosso enlace, que tem trinta e sete anos…. ÉRAMOS ESPECIAIS, de tal maneira que quando tivemos direito a quarto na BA2, OTA, continuamos juntos e fazíamos torradas no aquecedor, que “ A MINHA CARA METADE”,com pena da “falta de condições” que tínhamos ,morrêssemos de frio…
Pois por muito saudoso que seja, da segunda vez que já falamos, o AMIGO, disse assim: daqui fala o Sargento RAMOS,(realmente ele chegou a Segundo Sargento), pode-se comer uma torrada de aquecedor???...........Ficou na memória amigos, o valor da prenda não conta, mas sim a intenção….
Um abraço, com o mesmo valor que têm os reencontros como estes.
Fernando Castelo Branco
VB: O Fernando solicitou ao Álvaro que soubesse do paradeiro do seu grande amigo Aurélio,fazendo nestes modos:
Caro Amigo Álvaro
Faço sinceros votos para que estejais bem, nós por cá na TUA terra, vamos indo bem com a graça de Deus.
Resolvi enviar-te este para te pedir, se for possível, arranjares-me o contacto do Nosso AURÉLIO CARDOSO RAMOSde TRAVASSOS MEALHADA? Gostaria de lhe dar um abraço também ,com muita AMIZADE E SAUDADE…
Quanto ao tempo aqui, conforme certamente cheguei a dizer-vos, “ontem, o pico do PICO, via-se acima das nuvens”,logo, estamos com um Sábado cinzento mas quente…
Amigo, sem o cheiro de maresia do outro dia no Porto Martins, envio-VOS um forte abraço.
Fernando
VB:O Álvaro à boa maneira ESPECIALISTA,de imediato providênciou no sentido de satisfazer o pedido do Fernando,e consegui:
Caro amigo Fernando, Depois de alguma pesquisa, junto de amigos da Mealhada, lá consegui o contacto do Aurélio Cardoso Ramos, de Travassos, Mealhada.Confirma-se que está ligado aos materiais de construção e os contactos são :Telef - 231 939 - empresa Telemóvel – 9145Em anexo seguem algumas fotos que pediste, não sei se me esqueci de alguma… Beijinhos e abraços para todos São e Álvaro
Aqui o Álvaro muito baboso com o neto ao colo
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
VOO 1149 OS XECAS.


Fur.Mil.PA Mueda
Caminha
Assim, no caso de Moçambique, os militares chegavam à Beira e depois eram colocados nos Aeródromos ou Bases existentes na Província. As Bases situavam-se na Beira, Nampula e Lourenço Marques e os Aeródromos em Nova Freixo, Nacala e Tete.
O Zé chegou à Beira no último dia do ano de 1971. Depois de 11 horas no Boeing 707 da Força Aérea, após saída de Lisboa e escala de 1 hora em Luanda, ei-lo chegado à Beira. Saiu de Lisboa com chuva torrencial e 2º.C e chegou à Beira com sol abrasador e 45ºC de temperatura.
Após o desembarque e apresentação no Comando, a preocupação foi preparar a noite de Passagem de Ano e esperar pela colocação que iria acontecer dois dias depois.

Com o Pascoal, que já o acompanhava há mais de um ano nas lides militares e mais meia dúzia de camaradas, , iam-se fazendo palpites sobre a sorte que iria calhar a cada um.
- Para todos os lados menos para Tete, ia pensando o Zé em voz alta. Vocês já viram se vos sai Tete na rifa? Ainda a semana passada lerparam um Tenente e um Capitão com uma mina, à

- Se os gajos distribuírem esta merda direitinho, ficamos aqui na Beira ou apanhamos Lourenço Marques. O pessoal que veio connosco é mais novo que nós e deve alinhar para os piores sítios, ia Pascoal fazendo futurologia.
- Com a sorte que temos tido, vamos mesmo ter a Tete. Já reparaste que fomos mobilizados com tanta gente mais nova à nossa frente e que ficou? Foi por causa das bombas em Tancos, não tenhas dúvidas, dizia Zé, já preparado para tudo. (uns meses antes de embarcarem e quando se encontravam na Base Aérea de Tancos, a ARA-Acção Revolucionária Armada, tinha colocado bombas no hangar, destruindo cerca de 20 aviões e helicópteros).
No dia 2 de Janeiro de 1972, todos se dirigem ao Comando para saberem as suas colocações e receberem as guias de marcha para os locais de destino. Como o Zé tinha previsto, do grupo vão dois para Tete, ele e o seu amigo Pascoal
- Não há-de ser nada, que se lixe. Entre mortos e feridos alguém tem de escapar, pen- Zé e Pascoal na BA3 em Tancos saem e dizem a uma só voz os dois amigos.
Um dia depois, lá estavam os dois

As primeiras impressões á chegada foram bastante negativas, mas não era de isso que agora queríamos falar.
Toda esta introdução foi feita no intuito de dizermos, que semanalmente chegava a Tete, pelo menos um novo militar para a Base. Normalmente o avião chegava nas manhãs de 5ª feira, partindo depois do almoço. Quando havia muita urgência no transporte, era utilizado também o avião das linhas comerciais, o Boeing 727 da DETA ( Linhas Aéreas de Moçambique), que escalava Tete três vezes por semana. Assim, havia todas as semanas, gente nova a chegar à Base.
Tal como os caloiros, alunos que frequentam o 1º ano da universidade, os militares chegados a Moçambique idos da Metrópole, eram apelidados de “Xecas”.
Em Junho de 1973, o Zé já era dos mais antigos na Base e resolve “institucionalizar” a praxe, a que se dá o nome de “julgamento dos xecas”, todo um ritual que acabava por ser uma forma de ambientar e quebrar o desânimo do novo camarada que chegava. Eleito o maior dos “VCC” (velhinhos como o car....), o nosso Zé assumia o papel de advogado de acusação, cabendo ao “Manuel Papelão” (este figurão já vocês conhecem da história anterior) o de “Juiz Supremo”.
A monotonia da Base, nas horas de “pausa” da guerra, era quebrada todas as semanas com o julgamento de mais um xeca, que podia ter 20 ou 50 anos, e que não tinha qualquer hipótese de escapar à brincadeira.
O plano de recepção estava elaborado há muito e era cumprido à risca. Três ou quatro camaradas, por volta das 10 da manhã dirigiam-se para a placa (local de estacionamento dos aviões depois de aterrarem) à espera do xeca. Após o desembarque, aproximavam-se do xeca, davam-lhe as boas vindas e com um sentido “paternalista”, situavam-no no local e situação que iria viver nos próximos dois anos.
- Isto até nem é tão mau como dizem, assegurava um deles.
- O ambiente na Base é porreiro, come-se bem, o tempo até passa depressa.... continuava o outro.
- O maior problema que aqui temos é um gajo que “está apanhado pelo clima” (está louco) e que de vez em quando arranja algumas chatices. Está obcecado com os xeca; vê lá para o que lhe deu, e têm-lhes um “pó” de morte (raiva, ódio, na linguagem popular). Com ele é que te tens de pôr a pau, não dando muito nas vistas; só num ano já matou 3 xecas no dia da chegada, avisava em tom sério e coloquial outros dos receptores.

O início do julgamento. Manel Papelão a presidir, Neves à esquerda, a defesa e Zé à direita, a acusação
- Mas isso é inconcebível.... deixarem um tipo desses à solta sem ninguém fazer nada, ripostava incrédulo o xeca Ribeiro, 22 anos, piloto de T6, recém-casado, natural de Lisboa e perplexo com o que acabava de ouvir.
Os primeiros passos para pôr o xeca de rabo tremido estavam dados. Mas a mentalização psicológica para o amedrontar ainda mais, continuava a ritmo crescente:
- Estás a ver aquele gajo lá no fundo com barba e bigode, perguntava o Chico ao Ribeiro, apontando o local onde o Zé se encontrava, previamente combinado, de modo a poder ser visto pelo xeca. É esse, não passes perto dele, porque apesar de sermos para aí mil, aqui dentro, ele conhece toda a gente. Tenta passar despercebido nos próximos dias, se tiveres algum problema fala comigo. Ah!... outra coisa... temos aqui uma praxe, em que todos os novos que chegam, aparecem no Bar às 7 da tarde, para pagar um copo ao pessoal... não te esqueças, continuava Chico na sua “tanga”.

O julgamento continua perante um pensativo Severino, um atento Vítor e com o Zé a preparar o castigo
- Porra pá, onde é que eu vim para. Já não bastava a guerra, os aviões a cair... ter ainda de aturar malucos. Porque é que não fugi quando fui mobilizado? Estava agora na Suécia sem ninguém me chatear... era bem melhor de certeza... grande burro que fui... porque é que me deixei levar pela Cristina (jovem e recente esposa), ia desabafando o Ribeiro, com as lágrimas a quererem rebentar no canto do olho.
- Tem calma pá, também não é caso para estares para aí com essas lamúrias. O pior são os primeiros dias. Vai apresentar-te ao Comandante e depois encontramo-nos ao meio dia, na messe, para almoçar, aconselha António, apontando a Ribeiro o edifício do Comando.

É meio-dia e toda a gente se
O Zé aperta com o Xeca, diante de um sorridente Bany
dirige para o almoço. Propositadamente é deixada uma mesa vaga, onde o xeca se iria sentar.
O Ribeiro depois de se apresentar e desfazer as malas, aparece para almoçar. Como não vê os seus conhecidos, vai sentar-se na única mesa vazia que encontra.
O Jacinto, jovem negro empregado da messe, habituado às andanças “xequeiras”, já sabe o que tem que fazer.
Começa a ser servida a sopa, que vem em terrinas redondas de alumínio e que Jacinto segura, enquanto cada um se serve.
Entretanto, pela porta dentro e aos gritos, entra o Zé. Cabelo propositadamente despenteado, bivaque ao contrário, retrato perfeito de uma figura sinistra de um filme de terror. Dirige-se para a mesa do Ribeiro, senta-se e não abre a boca. O Ribeiro apercebe-se imediatamente de quem se trata, baixa os olhos para a mesa e o coração começa a acelerar quase saltando peito fora.
O Zé começa então a falar em voz alta, dizendo coisas sem nexo, aparentando na verdade não estar bem da cabeça. Ninguém liga nenhuma, como se já fosse hábito da “casa”.
Jacinto assoma à porta que liga à cozinha e ao ver o Zé dirige-se-lhe de imediato com a terrina da sopa na mão.
- O que é que a sopa tem dentro, preto (tratamento carinhoso como tratava Jacinto, aparentemente ofensivo para um estranho), pergunta Zé, com cara de poucos amigos.
- Tem “escouve” e “esfeijão verde”, responde Jacinto, aparentando estar cheio de medo.
- Sabes bem que só gosto de feijão vermelho, meu escarumba (tratamento dado por alguns aos negros, esse sim, ofensivo). Repentinamente, dá um toque com a mão na terrina e entorna a sopa pelo chão. O xeca Ribeiro, sente o primeiro arrepio e está quase a “levantar vôo”.

O Zé continua a falar em voz alta e dirige-se pela primeira vez ao Ribeiro:
- Sabes pá, chegou hoje um filha da puta de um xeca e ainda não o consegui apanhar... se o encontro, até lhe bebo o sangue... já o viste por aí?
Ribeiro responde que não, sem levantar os olhos da mesa e mostrando-se cada vez mais amedrontado.
- Não faz mal... o preto vai-me dizer quem ele é, continuava Zé, mostrando cada vez mais exaltação.
Aqui, o xeca Ribeiro sente mesmo medo. As mãos já começam a tremer e está a ver que quando Jacinto informar que o xeca é ele, vai ser o fim do mundo.
A refeição nesse dia, além da sopa, era composta por “atacadores” (esparguete) e “estilhaços” (carne de vaca estufada, partida em pequenos quadrados).
- Preto cabrão, onde é que está o xeca que chegou hoje, pergunta Zé e sem esperar pela resposta, dá um pontapé na travessa e espalha esparguete por tudo quanto é sítio.
Nesta altura, Ribeiro não aguenta mais. Ainda com as calças cheias de fios de massa branca, salta da cadeira e desata em louca correria pela Base fora, ficando sem almoçar.
Ribeiro não vai jantar e às 7 e meia da tarde aparece no bar como combinado. Vem atrasado, vestindo à civil. Calça de ganga da Lewis, pólo da Lacoste, sapatilhas de marca nos pés, o último grito de moda da metrópole.
O Chico e o António já lá estão, os seus anjos da guarda, depois do que se tinha passado. Ribeiro começa por contar as peripécias do almoço, mas os dois procuram desdramatizar, dizendo-lhe que se não aconteceu nada naquela altura já era bom sinal, porque o maluco concerteza já não se meteria mais com ele.
- A propósito, como é da praxe, a partir deste momento o bar está aberto e tudo o que se beber até final da noite és tu que pagas, lembra Chico.
- Isso é o menos, responde Ribeiro já mais calmo.
- Ah, esqueci-me de te dizer. O julgamento começa às 9 horas. Se te safares bem, o que é fácil, porque o nosso juiz é um tipo bacano, a pena é pagares mais umas cervejitas e se cumprires tudo o que te pedirem até pode acontecer que o maluco fique teu amigo. Podes crer que era o melhor que te podia acontecer. Não tenhas medo porque aqui dentro ninguém te faz mal, insistia António, já com dificuldade em evitar o riso.
As 9 da noite chegaram finalmente. Toda a gente preparada para se dar início ao julgamento. Lá estavam o juíz, os advogados e o resto do pagode, para se divertirem e beberem uns copos à pala do infeliz.
Depois de lido o estatuto do xeca, em que como é bom de ver é tratado abaixo de cão,o xeca apresenta-se e começa por fazer uma exposição sobre o senhor Verrugas da Costa.
O Verrugas, era um dos cães mais “sui generis” que algum dia conhecemos. Rafeiro, pêlo curto castanho claro, a fugir para o amarelado, com 5 anos de idade e cujo nome advinha do facto de ter bastantes verrugas na cabeça. Era um cão estúpido e simpático ao mesmo tempo. Tinha características próprias e grande personalidade. Uma das suas facetas mais peculiares era não gostar da raça negra. Era racista até à “quinta casa” e negro que passasse por perto já sabia que se tinha que ver com os dentes do Verrugas.
Outro aspecto engraçado do nosso amigo, era ser um “cão vampiro”. Quando era necessário um cabrito para as muitas patuscadas que o pessoal fazia, levava-se o Verrugas perto do rebanho, este escolhia o cabrito mais tenro, chupava-lhe o sangue e trazia-o num ar imponente, a caminho da panela. Como já viram o Verrugas não era um cão qualquer. Já levava nas costas algumas comissões de serviço. Durante o dia não passava cartão a ninguém. Bem o podiam tentar com um osso suculento, que o artista se mantinha impávido e sereno, sem ligar “bóia”. Este comportamento valia-lhe o corpo coberto de chumbos de pressão de ar, com que alguns camaradas o brindavam, por não compreenderem que até os cães têm direito à liberdade de pensar e agir.
À noite, sim, o Verrugas era um cão normal. Que festas ele fazia, quando à porta de armas esperava o regresso do Zé das noites conturbadas da cidade! Nessa altura, o Verrugas saltava, lambia, bajulava. O Zé tinha uma grande amizade pelo Verrugas, talvez por este não ser um cão submisso e de ter uma personalidade muito própria. “ À cause”, o Verrugas ficou baptizado com o Costa, tal qual um dos sobrenomes do Zé.
Bem, mas estávamos a falar do xeca Ribeiro. Na exposição que tinha de fazer sobre o senhor Verrugas da Costa, espalhou-se ao comprido. Começou por dizer que o senhor Verrugas da Costa poderia ser o 2º Comandante (coitado do Major Galhardas, um comandante impecável). Depois colocou a hipótese de ser o Comandante de Esquadrilha e nunca conseguiu atinar com o cão. Resultado: pena parcelar de uma “bazuca” para cada um dos presentes.
Passando para a 2ª prova, o xeca teria que contar uma história de amor. O Ribeiro, recém-casado, como já se disse, começou a contar a sua própria história. Quando a acusação exigiu a entrada em pormenores mais íntimos, o Ribeiro “borregou” (borregar, diz-se em termos aeronáuticos, do avião que já se fez à pista para aterrar e que por qualquer motivo imprevisto não o pode fazer e o piloto é obrigado a dar todo o gás ao motor, para o levar de novo para cima). Com pena, a acusação propôs mais uma “bazuca” que mereceu a concordância do juiz, desta vez também extensiva ao Ribeiro, que até aí só tinha bebido coca-cola.
O Zé, mantinha ao longo do tempo alguns arreganhos de mau humor. Mostrando-se insatisfeito com o desempenho do xeca e tal como previsto e combinado, começa a respigar:
- Estou farto desta merda...não vou sair daqui vivo, mas vocês vão comigo... meus cabrões... vamos morrer todos...
Neste momento, puxa de uma granada inerte já preparada para o efeito (inerte, quer dizer que lhe foram retiradas as propriedades para que era destinada e não fazia correr qualquer perigo), tira-lhe a cavilha (retirada a cavilha a uma granada normal, esta explode na maior parte dos casos passados 4 segundos) e lança-a para o meio do pessoal. Estes como já sabem o que se vai passar, aparentam grande medo, atiram cadeiras para o chão, teatralizam a situação... O Ribeiro, alheio a tudo, logo que vê a granada na mão do Zé e escuta as suas palavras, levanta-se num ápice e lança-se em vôo pelo parapeito da janela que dá para o exterior e que tem cerca de 1 metro de altura.
Acalmados os ânimos, com o Ribeiro a suar por todos os poros, acaba-se a farsa. É o xeque-mate do tormento do Ribeiro. A partir dali, continua a ser praxado, mas já sabe que o Zé não é o tal maluco apregoado, mas um camarada mais antigo, que ali está há mais tempo e que apenas o pretende integrar entre os seus.

A praxe continua e em cada ponto que o xeca tem que cumprir, como nunca é do agrado da acusação, “nasce” nova rodada de “bazucas”.
Depois da seca da granada, tem de contar os últimos desabafos humorísticos da metrópole, em que normalmente os alentejanos ou Samora Machel, de hoje, são substituídos por Américo Tomás, Presidente da República da altura.
Segue-se a poesia sobre a amiga “Cozinheira” ( a “esposa” do Verrugas) e a ida à” casa do porco”.
A Base, tinha no seu vasto perímetro, um espaço utilizado para a criação de porcos, utilizando a grande quantidade de sobras da cozinha. Por incrível que pareça, de entre as dúzias de porcos brancos, havia também um preto. A zona da pocilga era escura, sem luz, junto de uma das vedações. Os xecas eram levados para aí e tinham como missão apanhar o porco preto. Sem luz, preto, grande lamaçal, grandes correrias porcinas... estão a ver a cena! Foram sem dúvida dos momentos mais bem passados, com o Ribeiro a sair da pocilga completamente irreconhecível. Mas como se seguia o baptismo e mergulho na piscina com todos os cães da Base, o cheiro desaparecia.
A festa está a acabar…
Depois do banho, o xeca elaborava o relatório final. No caso do Ribeiro, contou nas suas linhas gerais, que se sentiu bastante amedrontado até á hora da granada e estava com uma impressão muito desagradável do Zé. Que a partir daí, conhecera o verdadeiro Zé, amigo do seu amigo, e ter pena de já não ter tempo de conviver muito mais tempo com ele, pois tinha a certeza de ser uma “alma boa”, capaz de o ajudar a passar o melhor possível os 2 anos de comissão.
Com os estômagos a abarrotar de cerveja, o pessoal continuava a beber e divertir-se, já com o xeca completamente á vontade.
O Ribeiro por se ter portado bem, não teve de suportar a caça ao sabonete (sabonete molhado em cima de uma cadeira e xeca com as calças em baixo, tentando apanhá-lo com o rabo).
Para que o final fosse feliz, com toda a gente sentada ou amparando-se às colunas do bar, cantava-se a canção da xequice, com letra e música de José Leal e Augusto Ferreira, que começava com uma quadra de boas-vindas ao xeca “Xeca sejas benvindo – às terras do ultramar – chegaste e eu já vou indo – não vale a pena chorar” e que tinha como refrão uma quadra bem sugestiva em português atravessado, que punha o xeca a pensar duas vezes na situação em que se encontrava- “Xeca, ó xeca – onde vieste parar – todos te querem fod... – todos te querem matar”.
O nascer do dia já está perto e não haverá muito tempo para dormir, pois as missões do dia são para cumprir custe o que custar e para alguns dos presentes, passada uma hora, estariam de rodas no ar, dentro de um avião ou helicóptero, ao encontro de alguém que precisava de ajuda.
É que as situações foram sempre muito claras para estes homens:
“ Conhaque é conhaque ..... e serviço é serviço”
José Leal
VB:Obrigado Zé,é interessante verificar a tua leitura dos factos passados tantos anos.Realmente foi o momento muito importante que vivemos, que hoje integra a história das nossas vidas.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
VOO 1148 QUE BELO MOMENTO DE LEITURA NOS OFERECE ESTE COMPANHEIRO!
Alf.Mil.Op.Especiais
Mueda, mil vezes nos meus sonhos *

Já tinha ouvido falar de ti, Mueda, homens que lá tinham estado antes, falavam de guerra, de ataques, de morteiradas, de helicópteros, de aviões, de medo, de mortos e de feridos.
Mesmo antes de te conhecer já o teu nome me assustava e ao ser mobilizado para Moçambique, logo se apoderou de mim uma ansiedade enorme, será que iríamos para Mueda, talvez não, Moçambique era tão grande que, só com muito azar iríamos lá parar.Imaginava-te a ser constantemente atacada e com homens de armas na mão junto ao arame farpado, a responderem aos tiros dos guerrilheiros da Frelimo.
Foi ao chegarmos a Lourenço Marques, ainda no barco que recebemos a notícia de que o nosso batalhão iria para Cabo Delgado e a nossa companhia para Mueda.
Logo à entrada fomos recebidos por uma placa nada animadora:
Bem-vindos a Mueda, Terra da Guerra.
Aqui trabalha-se, luta-se e morre-se.
Checa é pior que turra.
Mas tu surpreendeste-me Mueda, tu eras um oásis para nós que vínhamos do mato, cansados, com sede, esfomeados, sujos, feridos alguns, e tu a todos recebias com um sorriso nos lábios, um banho, quando havia água, uma cerveja fresca e o teu aldeamento.
Às vezes o oásis deixava de o ser, era a Hora Maconde e vinha aí um ataque à morteirada, mas até isso nos sabia bem, para que os aramistas e aqueles Chicos que nunca saíam do aquartelamento soubessem o que era a guerra.
Recebeste-me, um rapaz imberbe e amedrontado, mas a pouco e pouco foste-me moldando, ensinaste-me que um homem sozinho não é ninguém, ensinaste-me a amizade sincera, a solidariedade, a união, o espírito de grupo, o espírito de sacrifício, o respeito pelos outros, mas também me mostraste o sofrimento, a morte, a dor e a parte má que há em cada um de nós. Mostraste-me como os homens são capazes dos actos mais heróicos e altruístas, mas também dos actos mais egoístas e cruéis.
Em Mueda fiz coisas que nunca pensei ser capaz de fazer, fiz coisas sem pensar, fiz coisas por medo, por vaidade, mas também fiz outras por amizade, por solidariedade, por amor ao próximo.
Em Mueda fui forte, fui fraco, fui valente, tive medo, matei, morri, chorei, ri-me, cantei, praguejei, comi, bebi, fui feliz. Tantas e tantas vezes fui tudo isso no mesmo dia, só tu Mueda para nos transformares assim.
Durante dois anos conheci todos os teus recantos, o Aldeamento, o AM, o fundo da pista, a messe de Sargentos, a messe de Oficiais, a messe do Batalhão, a caserna da Companhia, o Banco, a Engenharia, a Artilharia, o Pelotão de Morteiros, a Companhia de Transportes, o Esquadrão de Cavalaria, o campo de futebol, os postos de sentinela, as valas, os abrigos, os Filtros, as Águas, as tuas cantinas, o China, o Santos, o Serra, a Sara e até o Hospital e o Cemitério. Em Mueda assisti ao mais bonito pôr -do- Sol que vi até hoje, lá longe no horizonte, por sobre o Vale de Miteda, uma enorme bola de fogo a fugir e a esconder-se do outro lado da Terra, e a noite a cair rapidamente sobre o Planalto dos Macondes.
Também aí aprendi frases que não conhecia: checa é pior que turra, não há psicola, vai para o mato malandro ou fazer máquina.
Já sonhei contigo mil vezes, Mueda, já contei tantas histórias sobre ti e ainda tenho tantas para contar. Como eu, centenas, milhares de homens têm saudades de ti, contam histórias e sonham contigo.
Sonham com o teu cacimbo de madrugada, com as colunas a sair para a picada ainda noite escura, com as tuas manhãs enevoadas. Acordam de noite, ouvindo as saídas dos morteiros, o ruído dos helicópteros ou o rebentar de uma mina.
Que fascínio tinhas tu Mueda, que mistérios encerravas, para que homens que aí enfrentaram a morte, ainda hoje, passados tantos anos, falem de ti com tanta saudade, com tanto entusiasmo, com tanto carinho.
Tuas histórias são contadas à lareira, nos cafés, nas tabernas das aldeias, nos restaurantes mais finos das grandes cidades, todos os dias és falada por tantos homens que por lá passaram e nunca mais te esqueceram, o teu céu, as tuas estrelas, o teu amanhecer, os teus dias enormes, os teus ruídos, as tuas ruas esburacadas, as tuas amizades com um copo ao lado, tudo isso está guardado na nossa memória como um tesouro, que de vez em quando visitamos para matar saudades. Saudades enormes Mueda, da chegada do correio, do içar da bandeira, duma visita ao aldeamento, dum salto até ao AM para ver chegar os aviões ou simplesmente de uma conversa noite dentro com os amigos, sem sabermos se seria a última.
E que dizer de uma noite passada com um copo na mão, uma guitarra a trinar e alguém com melhor voz a cantar fados e cantigas da nossa terra, até que já bem noite dentro todos nos sentíamos com voz e coragem para cantar as canções do Cancioneiro do Niassa ou o Fado de Mueda.
Também havia dias bem tristes, quando os helicópteros traziam das picadas ou do mato feridos ou mortos, alturas em que corríamos até ao Hospital, sempre na esperança egoísta de que entre eles não estivessem elementos da nossa companhia. Nessa noite não havia copos, nem cartas para casa, nem sequer conversas, o silêncio tomava conta das flats e das casernas, e cada um sozinho, com os seus pensamentos, tentava resistir o melhor que podia.
Voltaremos um dia, Mueda, agora já não de armas na mão, mas talvez com livros, brinquedos e comida para as crianças, medicamentos para os velhos e um abraço fraterno para todos. Era assim que deveríamos ter chegado aí, há dezenas de anos, mas não nos deixaram. Talvez agora possamos à noite ver as estrelas em silêncio e sem o perigo de um ataque à morteirada, ou talvez possamos sair pela picada fora a caminho das Águas, apreciando em segurança a paisagem, linda, do Vale de Miteda.
Entretanto, vou-te visitando nos meus sonhos, vou falando de ti nos almoços da Companhia ou vou recordando histórias com aqueles, que como eu, te recordam com saudade.
Outras vezes vou vendo algumas fotografias que guardo com carinho e orgulho, e que já me têm dado forças em momentos mais complicados, ao olhar para elas e sentir novamente ao meu lado aqueles velhos companheiros de tantas e tantas lutas.
Foste tu Mueda que me ensinaste a ser, o homem que hoje sou, transformaste toda a minha vida, tenho a certeza que parte do melhor que há em mim foi forjado aí, até por isso tu és especial.
Adeus, até um dia, Mueda dos meus sonhos.
* Blog "Cacimbo" de Manuel Bastos
VB: Obrigado António por este belíssimo texto que certamente irá deixar alguns dos nossos companheiros que por lá passaram,com a lágrima ao "canto do olho".
VOO 1147 COMPARTILHO A TUA OPINIÃO MARCELINO.
Costa Ramos
Esp.MMA Guiné
Caro Fabricio Marcelino
Não posso deixar de me juntar aos elogios que fazes a esse (pequeno, era muito baixo) Grande homem que foi ou é Barbeitos de Sousa.Tal como na BA5 também no AB2/BA12 acontecia o mesmo,sempre no ar e o 2º é que tomava conta da base,mas por norma eram maus no meu tempo era o Lecoque Cara de Anjo Ten.Cor.Pilav.
O Barbeitos de Sousa foi substituído pelo Cor/Tir/Pilav Cruz Abcassis. Espero, que a reparação da estrutura esteja plenamente consolidada e sem te dar problemas
Saudações aeronáuticas
Costa Ramos
Voos de Ligação:
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
VOO 1146 MAIS UMA DEMISSÃO.
Jorge Mendes
Esp.EABT ANGOLA
Presidente da Assembleia Geral da
AEFA
Pr. Dr. Francisco Sá Carneiro, 219-1º Dt
4200-313 PORTO
Coimbra, 24 de Agosto de 2009
Exmo Senhor:
Considerando que não me revejo na actual direcção dos destinos da AEFA e porque os meus princípios morais e éticos não se enquadram na forma de não saber estar, de não saber dirigir e de não saber respeitar os destinos da Associação e dos seus associados, informo que após a recepção desta carta, considerem a minha demissão de sócio (Sócio Nº 2983).
Sem outro assunto e para não me alongar em comentários que não merecem a perda do meu precioso tempo, envio os meus respeitosos cumprimentos.
Atenciosmente
(Jorge Patrício Mendes)
VOO 1145 MEMÓRIAS DO PASSADO.
Fabricio Marcelino
Esp.MMA 1960 Guiné
Leiria

o senhor fez o que devia.O erro foi meu, por desconhecimento e, por tal motivo, quem tem a pedir desculpas sou eu.
Fabrício Marcelino
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
VOO 1144 O SEU A SEU DONO.
Esp.Melec/Inst./Av. Guiné
Vouzela
Algum tempo que venho redigindo umas palavras retrospectivando o que o que se passou no dia 12 de Julho 2009 no lugar do Carvalho, quando da homenagem que a AEFA, através do Núcleo de Coimbra, realiza todos os anos.Por diversos factores, nomeadamente as fotos que nos chegaram tarde, falta de tempo e as férias, só agora me foi possível fazê-lo, apresentando desde já as nossas desculpas.
Pois este ano, e como é de conhecimento público, a Direcção Nacional, atendendo ao contencioso existente com Direcção do Núcleo de Coimbra, resolveu chamar a si a responsabilidade do evento.Dias antes, à revelia de tudo e todos os elementos do Núcleo, dirigiram-se ao local onde iria realizar-se a cerimónia, o Manuel Cascão, acompanhado por outros elementos, no intuito de acertar com a associação local os preparativos para o evento, nomeadamente a refeição como habitualmente o fazem. Não foram reconhecidos para o fazerem!
Insatisfeitos com a recusa à sua prepotência, dirigiram-se para EMFA.O que foram fazer ou o que trataram, não sei, mas que à saída o mesmo dirigente, Manuel Cascão, ligou ao “suspenso e exonerado de funções”Presidente Carlos Ferreira dizendo que estava a sair daquele Organismo e que tinha ficado acordado que a Direcção Nacional iria assumir a realização do evento, isso é verdade!Não sei se estou a induzir os leitores em erro sobre a “suspensão e exoneração do Presidente do Núcleo de Coimbra, bem como o restante elenco(?),pois oficialmente nunca o li em lado algum ou me foi comunicado por escrito!?...
Foto:Augusto Ferreira(direitos reservados)
Homenagem as Companheiros falecidos naquele local,pelo Sr.Gen.Luis Araújo,CEMFA
Foto:Augusto Ferreira(direitos reservados)
Vista da assembleia que assistia à Santa Missa.
Foto:Augusto Ferreira(Direitos Reservados)
Aspecto geral da sala onde foi servida a refeição.
Foto:Augusto Ferreira
Para terminar só queria,em nome da classe de ESPECIALISTAS da FAP,agradecer ao Carlos a sua,mais uma vez,digna representação daqueles que o exoneraram.
VOO 1143 DN/AEFA.
Esp.MMA Guiné
Coimbra
Pese embora, não te quereres imiscuir nesta andança's da AEFA por aquilo que justificas-te no teu vôo,(saída de sócio)peço desculpa por te enviar a carta, que mandei ao nosso amigo Jeremias do pista livre.
Saudações aeronáuticas,e bons vôos,
Costa Ramos
Aos ESPECIALISTAS DA FAP
Caros camaradas,é com profundo desgosto, que constato que alguns camaradas nossos,estão a desvincular-se da nossa AEFA.Não façam isso companheiros...como alguém citou atrás "estamos a entregar o ouro ao bandido",sim é verdade pois esses camaradas já nada podem fazer para repor esta aeronave,na totalidade das performances para que se mantenha em vôo.Todos unidos em torno desta causa,que é salvar a nossa associação do "assalto que foi vitima"só poderá acontecer se os mais válidos ainda estiverem entre nós, para que com a sua força, experiência,integridade, nos ajudarem a correr com esta cambada de pseudo especialistas, que assaltaram a AEFA,pese embora dizerem que foram eleitos...(Todos sabemos como foi a eleição).
Camaradas vamos cerrar fileiras,enfrentar essa corja, e dar de novo á nossa associação a dignidade,o esplendor que sempre teve,até ao infausto dia em que estes gajos apareceram, com toda a comitiva que os bajula (são tão poucos,no universo da AEFA)temos, a força da razão,POR FAVOR NÃO SE DEMITAM,FAÇAM TUDO MENOS ISSO.Dos fracos, não reza a história,e nós não o somos,todos nós fomos educados a resistir ás tempestades,aos tornados,á guerra,vamos dar luta até ao fim,mas todos....desculpem este desabafo,mas com a minha idade e ter assistir a tudo isto, é demais.
Direcção Nacional da AEFA,tenham alguma dignidade,e saiam,as vossas falhas e erros são demasiados e graves,atentatórios do bom nome dos "ESPECIALISTAS"
Costa Ramos 1º Cab/MMA/63
Sócio AEFA 994 Núcleo de Coimbra
Aceito a tua frase "dos fracos não reza a história"(sei que não me queres atingir)mas,companheiro,realmente fracassei porque sou ESPECIALISTA.
Como normalmente o faço quando tomo uma decisão como esta,ponderei,chegando ao ponto de pedir a quem sustenta a AEFA o seu auxilio arbitral para resolução deste assunto,viste qual foi a resposta? Comecei por assistir aquilo que esses rapazes(directores da AEFA)queriam e querem,confundir-nos a todos,refugiando-se no silêncio e gozando a seu belo prazer a idoneidade e honestidade dos verdadeiros ESPECIALISTAS.
Como dizes,e muito bem, embora tardiamente,foi-se entregando o "ouro ao bandido",nomeadamente alertando para situações a que a mentalidade precária dessa rapaziada nunca chegaria.
Resta-me a esperança de brevemente voltar a ser... sócio da AEFA!
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
VOO 1142 PÊSAMES.
Esp.MMA Guiné
VOO 1141 RECORDAÇÕES.
Fitas Custodio
Cap.TMelec/Inst./Av.
Vieira de Leiria
Fernando
Costuma-se dizer que as conversas são como as cerejas. Atrás duma,outra vem.Isto a propósito do teu último voo que ao mencionares locais e pessoas me avivaram recordações dos saudosos anos que permaneci na BA4 entre 60 e 65.Também há 4 anos fiz uma visita relâmpago à Terceira e deu para sentir a nostalgia de não ver o Clube de Especialistas, onde ainda fiz parte duma Direcção, nem o Azória do qual tão gratas recordações conservo.Quanto à Livraria do Snr. Rosa, rapidamente conto o seguinte episódio.
Entre os fregueses habituais, havia o nosso colega Tripa.Certo dia houve um assalto à capoeira e por tanto azar que na fuga junto com as penas dos galináceos uma divisa do assaltante ficou presa na rede como prova da identificação do incauto pilha galinhas.
Na manhã seguinte o Snr. Rosa foi fazer queixa e depois de uma formatura geral aos especialistas, eis que o nosso amigo Tripa surge ainda sem uma divisa.Só sei que o bom do homem nem queria acreditar que um tão bom freguês tinha sido o visitante nocturno à capoeira.
O final, deixo à vossa imaginação.
Um grande abraço
Fitas Custódio
Voos de Ligação:
Voo 1140 – Piriscas,o paraquedas está debaixo do assento… Fernando C.Branco
VB:Olá grade companheiro Fitas,então por onde tens andado?
Bom esperemos que assiduidade a partir de agora seja outra,Ok?
Pois é verdade,tudo nos deixa saudades ,até a divisa que o tripa deixou na capoeira!
VOO 1140 PIRISCAS,O PARAQUEDAS ESTÁ DEBAIXO DO ASSENTO...
Fernando Castelo Branco
1ºSargºMMT Moçambique
Terceira-Açores





Foto 1, Atrás de nós, existiu o Clube de Especialistas;
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
VOO 1139 QUEM PODE AJUDAR?
Nomes Esquecidos
Estimados Camaradas-de-armas,No weblog dos «Especialistas da BA12 1965-74» – fundado e editado pelo ex-MELEC Victor Manuel Barata –, constam em permanência no respectivo layout de entrada, os nomes de militares «Falecidos na Guiné» e seguidamente reproduzidos ipsis verbis:
1ºSarg. MARME Evaristo de Sousa Pereira
1ºSarg. Mma Maurício José Casqueiro Ricardo
1ºSarg. Pilav. José Pinheiro Garcia
1ºSarg. Sas Raúl Evaristo Santos Cabrita
2ºSarg. MMA José Mendes Duarte
2ºSarg. Pilav. André Miranda Farinha
2ºSarg. Rádio Domingos Fernandes G. A. Matos
2ºSarºEnfª. Para Maria Celeste Costa
Alf. Pilav. Francisco Lopes Manso
Alf. Pilav Victor Manuel Caldeira Pinto
Alf. Pilav. Eduardo Constantino S. Freitas
Alf. Pilav. Humberto Narciso O. Braga Simôes
Cabo Esp. Marme António Carlos Oliveira Machado
Cabo Esp. Marme António Luis C. Machado
Cabo Esp. Met. Humberto Manuel H. Matos
Cabo Esp. Mma António Rui Sousa Madeira
Cabo Esp. Mma José Luis Valoura
Cabo Esp. Opc. Daniel Pereira Dias
Cabo Esp. Rádio António Silva Estrela
Cabo Esp. Rádio Paulo Mouredi Passoa Cayatte
Cabo Sas José Gonçalves Fernandes
Cap. Pilav. João Cardoso C. Rebelo Valente
Fur. Opcart Henrique Pedro Franques
Fur. Pa Custódio José de Lima
Fur. Pilav. Alberto Soares Moutinho
Fur. Pilav. Alfredo Joaquim Silva Macedo
Fur. Pilav. Carlos Filipe Noronha Ribeiro
Fur. Pilav. José Sousa Rola Teixeira
Fur. Pilav. João Manuel Baltazar Silva
Maj. Pilav. António Figueiredo Rodrigues
Maj. Pilav. Rolando Frederico Montavani B. Filipe
Sol. Auto. Alexandre Ferreira Barrocas
Sol. Pa Augusto Abreu Monteiro da Silva
Sol. PA Fernando Oliveira Morais
Sol. Pa Manuel José dos Santos
Sol. Pa Rafael Mota da Costa
Sol. PA Serafim Fernando dos Santos
Sol. Si José Manuel Henriques
Ten. Cor. Pilav. José Fernando Almeida Brito
Ten. Met. Auster Lindo Gaspar Dias
Ten. Pilav. José Cabaço Neves
Ten. Pilav. José Madureira Nobre
No entanto, permanecem omissos no Memorial Nacional (Forte do Bom Sucesso) e ainda não constam em nenhuma base-de-dados, os seguintes (supra referidos):
ALEXANDRE FERREIRA BARROCAS –
Sld CondANDRÉ MIRANDA FARINHA –
2Sg PilavAUSTER LINDO GASPAR DIAS –
Ten MetHUMBERTO MANUEL H. MATOS –
Por outro lado, em memorial concelhio recém-inaugurado na vila de Mação, passaram a ficar publicamente homenageados mais 28 militares, de entre eles 3 cujos nomes são omissos no citado Memorial Nacional (FBS) e também não constam em base-de-dados alguma:
FERNANDO DA SILVA DIAS
JOSÉ DA SILVA BICALUÍS MAIA RITO
Nesta circunstância, solicito e desde já agradeço quaisquer informações relativas aos malogrados militares, como sejam: Posto, Unidade Mobilizadora e Unidade em que prestava serviço; Data de Falecimento, Causa; Local de Sepultura; e outros dados que entendam pertinentes. Na expectativa de resposta, queiram aceitar um AB,
Abreu dos Santos
VOO 1138 O MEU AMIGO JOSÉ LEAL.
Augusto Ferreira
Coimbra
