domingo, 24 de janeiro de 2010

VOO 1437 LEMBRANÇAS





António Loureiro
Fur.Mil.PA
Figueira da Foz




Dá-me licença senhor Comandante Barata
Apresenta-se o Fur.MilºPA
Longe vai o ano de 1970, o Clube de Especiais da BA7, um pré-fabricado que mais parecia um comboio, entrava-se directamente na sala do Bar, depois de porta em porta, passava-se para a sala da TV e depois a seguir a sala dos bilhares e ao fundo a biblioteca.Porque como devem estar recordados, a RTP só transmitia programas à noite, nessa altura passou também a funcionar há hora do almoço com um programa de desenhos animados, noticiário e pouco mais.
Naquela altura o comer do refeitório deixava muito a desejar e valiam-nos as sandes que nós comíamos no Bar.

Legenda: Na BA3

Foto: Loureiro (direitos reservados)
À falta de melhor, porque o pessoal despachava-se depressa do refeitório, uma boa parte dos Zés, e não digo todos porque tinha chegado do ultramar um daqueles Especialistas muito peculiares, alto, alourado, e com um sentido de humor bastante apurado que "agarrava" e contagiava uma boa fatia de Zés que estavam mais interessados em ouvir as histórias do que ver televisão, mau grado daqueles que preferiam o contrário e que estavam constantemente a protestar com o alarido das nossas gargalhadas.O nosso amigo Atalaia, puxando pelo seus galões de veterano de guerra, irrascível, estava-se nas tintas para os protestos dos incomodados e continuava com as suas narrações que nos dava um grande prazer ouvir.Mas o estatuto do nosso amigo não se ficava por ali, também no cais de embarque, quando ele aparecia com a sua imponente farda creme e boné de pala, tipo Major Alvega, era uma confusão e um churrilho de protestos, mas ele não era de mais aquelas e ocupava o primeiro lugar da fila de praças, desvalorizando as pretensões dos que estavam no final da dita fila e que temiam o risco de ficar em terra e a verdade é que, mercê da sua capacidade de argumentação, todos acabavam por baixar a "bolinha" e o nosso camarada lá se mantinha no seu lugar de honra impávido e sereno.

Contaram-me uma vez e não me custou muito acreditar, que um Sargento da sua Secção lhe tinha encarregado um serviço qualquer, penso que substituir uma bateria e o nosso amigo, que já sentia cheiro ao serviço e o Sargento, que também já o conhecia, vendo que dali não levava nada, tentou envergonhá-lo com uma frase mais ou menos como esta:
Você não tem vergonha de não saber mudar uma bateria?
Resposta descontraido do amigo Atalaia, eu não, quero lá saber disso para alguma coisa, eu até ando a aprender inglês, e lá deixou o homem a falar sozinho, não percebendo muito bem a relação.
Há tempos, estava eu mais uns amigos num Restaurante quando apareceu um indivíduo com uma grande "brasa" sueca, que se sentaram na mesa ao lado da minha.
Passados alguns minutos, após nos termos recomposto daquela fabulosa aparição, lá começamos a comentar uns com os outros quem era o indivíduo e tal, e depressa chegamos à conclusão de que se tratava de um amigo de infância à muito "desaparecido" e daí até à conversa, foi o salto de uma pulga.
As perguntas da ordem, onde é que tens andado? O que é que fazes? etc, e a resposta lá veio, sou Comissário de Bordo na TAP e a sueca coitada, que não percebia nada da conversa, limitava-se a rir.
Os meus neurónios começaram a trabalhar e lá perguntei: tu conheces lá um tal Atalaia, conheço porquê? Ele esteve comigo na tropa disse eu, oh pá esse gajo é demais, é um companheirão, eu nunca vi coisa igual, é Chefe de Cabine, está muito bem e eu ri-me e fiquei muito satisfeito. Lembrei-me logo da estória de ele andar a aprender Inglês, realmente tinha razões para não querer saber da bateria para nada, ele queria era sair da tropa depressa antes que fosse tarde.
Decerto haverá muitos Zés que o conhecem o nosso amigo e devem ter a mesma opinião que eu, simplesmente impecável e difícil de passar despercebido.
Um abração
Loureiro-PA