quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

VOO 1506 "ZÉ ESPECIAL E POETA "Luis de Sousa DANTAS ( comissão na B.A.12 de final de 1967 a final de 1969) 1ª parte



Victor Sotero Cavaleiro

Esp.EABT
Damaia


Meu Comandante:
As minhas mais cordiais saudações Aeronáuticas a todos os "ZÉS ESPECIAS" que se encontram colocados nesta Base.
Cá estou para mais uma aterragem. As "ABERTAS" neste momento dão para uma aterragem sem problemas.
Veio-me à lembrança um grande amigo que pela Guiné passou na sua comissão entre finais de 1967 e 1969. O DANTAS, éra na Ota o 1113/66 e não fazendo a recruta na minha secção, éra da minha turma de Abastecimento.
Filho duma terra de poetas óptimos, corria-lhe nas veias e na alma a aura do seu pátrio Lima, cujas margens de luxuriosa beleza enamoraram até ao esquecimento as legiões de Roma.
... Sagrado chão limiano, que foi berço e tumba de altos espíritos da Portugalidade, e onde se criam poetas e mártires, dimanados de rosas!
Aqui foi, e assim foi que se formou a sensibilidade poética de Luís de Sousa DANTAS.
O poeta tange a lira do amor, que é lume aquecendo o coração do homem!

A nossa camaradagem éra sã. A nossa amizade éra grande.
Éra um dos que durante a recruta nunca foi a Ponte de Lima passar o fim de semana.
Como aluno, numa revista para inicio das aulas da parte da tarde, o Maj. Tomás passou por detrás dele e disse-lhe: "cortar o cabelo" o DANTAS,
respondeu: "muito bem meu Major" "Muito bem uma merda, cinco dias de detenção".
...e foram mesmo.
A vida dele éra um bocado monotoma. Que fazer?
Se o pensámos, melhor o fizemos. Metemos na "Crónica feminina" um anúncio para troca de correspondência.
Passado pouco tempo começámos a receber "braçados de cartas". O Sargento de dia durante um certo tempo vinha sempre "carregado".
As cartas com letras bonitas e não muito longe da zona, ficávamos com elas. As outras, depois de "analizadas" eram entregues a outros camaradas.
Meu Comandante:
Vou ficar por aqui para, com a devida vénia transcrever um poema do livro do DANTAS que tem por titulo "PEDRAS VERDES"

adeus! adeus!

não éra voz de gente era de mar

era de vento.

eram as mãos de uma mulher no ar

um chamamento.

dedos em veludo fusos em cristal

gestos de um afago.

eu partia nos mares de Portugal

em sombra no vago.

mãos vazias olhos cheios de imagens

o peito numa harpa.

o peito numa harpa
é o choro das viagens.

a lágrima esfarpa.

esfarpa o rosto corta como gume

de punhal ou lança.

a saudade queima
a distância é lume.

uma sombra avança...

adeus! adeus!

não éra voz de gente era de mar
era de vento.

L.de S. Dantas
(do livro Pedras verdes 1969)


Nota.: Luís de Sousa DANTAS ou Luís Alberto de Sousa Pereira DANTAS, no regresso da B.A.12, foi Funcionário Público.
Licenciou-se em História e deu aulas no ensino secundário tendo-se reformado hà 7 anos atrás. Casou tarde e tem uma filha estudante de 16 anos.
Em 1970, publicou o primeiro livro de poemas a que lhe chamou PEDRAS VERDES.
Em 1974 publicou outro a que deu o titulo de BOLERO. Calora em alguma imprensa e neste momento encontra-se a fazer estudo sobre a primeira Republica. Divide-se entre Ponte de Lima e os arquivos históricos da Marinha e do Exército.

Sotero