segunda-feira, 17 de maio de 2010

VOO 1711 O APAGÃO NA BASE AÉREA nº 9



Joaquim Maurício
Esp. Melec. Av./Inst. 3ª/69
Angola 72/74
Vila do Bispo, Algarve



APAGÃO NA BA9, LUANDA 1972

Início de Dezembro de 1972.

O que a seguir transcreve, aconteceu no meu primeiro serviço de escala

(eléctricista dia) na BA9, a central eléctrica da BA9, como qualquer outra central das bases por onde tinha passado, BA6 Montijo e AB1 Portela, estava equipada com um grupo de alternadores, a sua finalidade era a de se substituir a uma eventual falha de energia do exterior.

Quer a BA6 ou AB1, estavam equipadas com alternadores de potência superior aos da BA9.

Achei o facto estranho e comentei-o com o meu companheiro de serviço, um cabo electricista, já com algum tempo de comissão, respondeu que não se recordava da energia ter faltado na Base.

Acordamos “trabalhar” por turnos, com a condição, caso a energia faltasse, convergirmos para a central, ele ficou com a manhã, eu com a tarde, a seguir ao jantar juntámo-nos na central.

“Injuriava o clima”, a camisa de meia-manga estava colada ao corpo, a pele mantinha-se permanentemente peganhosa, esta era a minha segunda noite em África.

Abençoava o frio do Continente, as noitadas no comboio Algarve/Barreiro, a travessia do rio Tejo, Barreiro/Praça do Comércio/BA6, o último percurso era feito a bordo da lancha da marinha.

Estremeci ao ouvir o som estridente e irritante da buzina de alarme, a BA9 estava às escuras, sem energia.

O interior da central estava precariamente iluminado, com a energia de recurso fornecido por uma bateria

Desligar os componentes e circuitos eléctricos ligados à rede exterior,arrancar com os geradores, e voltar a ligar os circuitos eléctricos à energia produzida pelos alternadores da central, ocuparam-nos mais tempo do que o que seria desejável, ( todo este processo era manual e requeria cuidado ).

Já tinha passado por uma situação idêntica na BA6, na altura faziam serviço à central eléctrica um marinheiro fogueiro da Marinha,e um cabo electricista da FAP.

No AB1 o sistema estava automatizado.

Finalmente com os alternadores a funcionarem, fomos ligando os circuitos indicados como prioritários, e controlando a corrente de saída dos alternadores, quando esta atingiu o máximo, muitas ligações ficaram em circuito aberto.( sem energia.)

Por indicação do meu companheiro, dirigimo-nos ao PT (Posto de Transformação, equipamento eléctrico, utilizado para reduzir alta/média tensão, em baixa tensão, a que é normalmente utilizada em iluminação, electrodomésticos,etc.), eu desconhecia a existência de tal equipamento e a sua localização.

Munidos duma lanterna dirigimo-nos ao PT, boa parte do exterior da base permanecia sem iluminação.

Quando abrimos a porta do PT e iluminamos o interior, deparamo-nos com um festival de chapa amolgada,ferros torcidos , paredes negras a escorrer óleo, o interior do PT, estava num reboliço, pensei estar perante um acto de sabotagem ou algo idêntico.

A chegada apressada dum jipe e uma voz alterada a perguntar pelo responsável cortou-nos a análise do que se teria ali passado.

Entre portas estava o Oficial dia à Base, um capitão! Avancei na direcção do Oficial com a intenção de o pôr ao corrente da situação.

Não tive qualquer hipótese.

Tem cinco minutos para iluminar a base, foi o que ouvi! O capitão, deu meia volta e desapareceu.

Estamos feitos diz o meu companheiro! Perguntei-lhe se havia mais algum equipamento, outro PT, ou ligação ao exterior que se pudesse utilizar?

Não! O PT e a Central,são os dois equipamentos que a base dispõe para produzir e distribuir energia eléctrica.

Então deixe andar! Os alternadores estão no máximo o PT nem pensar.

Regressamos à central, importava vigiar o comportamento dos alternadores.

O barulho e o calor extra dos motores, era um convite a permanecermos no exterior, uma cerveja agora outra mais logo, foram-nos refrescando e alimentando os assuntos que ao longo daquela noite abordamos, ( a todo o momento esperava-mos nova visita do Oficial dia a exigir a base iluminada, coisa que não aconteceu).

Fica como nota final :

· A avaria do PT, deveu-se a um erro de manutenção, introduziram uma quantidade superior de óleo para arrefecimento, a dilatação do mesmo devido ao aquecimento, provocou o rebentamento do depósito e acessórios nas proximidades.

· O tempo da reparação foi de quinze dias.

· Os geradores originais da BA9, estavam instalados numa vivenda particular na Ilha do Mussulo.

· Que tenha conhecimento a energia não voltou a faltar durante o restante tempo que andei pela BA9

· A mim e o ao meu companheiro nada nos aconteceu, dele recorde, cabelo ondulado e preto, trato fácil e educado, originário do Norte, com imensa mágoa o nome apagou-se.


VB: Olá Companheiro Mauri!(Eu sou o padrinho!!!)

Estava a ver que te tinham retirado o "brevet"pois à muito tempo que não voavas?!...

São sempre histórias engraçadas de reviver e contar,pois certamente que mais alguns de nós se iram também lembrar.