quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VOO 2143 ATÉ QUE ENFIM QUE APARECEU FUMO BRANCO.




António Dâmaso
SargºMôr Paraqª
Azeitão



Camarada e amigo Victor, congratulo-me por saber mais pormenores acerca da operação e que tudo correu pelo melhor. Tenho fé de que a recuperação vai ser plena.

Obrigado pelas tuas palavras elogiosas à minha pessoa, mas nunca me considerei um grande guerrilheiro, porque não o fui, fui sim um militar preocupado em preservar a minha vida e ensinar aos outros a maneira de se manterem vivos, nem sempre as coisas correm como queremos, às vezes temos dissabores, fruto das circunstâncias daquela guerra que as altas patentes descoraram.

No entanto tive camaradas, que esses sim, foram guerrilheiros, iam para a carreira de tiro e atiravam granadas um ao outro para apurarem os seus sentidos de autodefesa e sobrevivência, foram condecorados com cruzes de Guerra em 1966/68.

Esses guerrilheiros, um deles tinha tirado o curso de cabos e de furriéis comigo e o outro foi de um curso depois do meu.

O primeiro nunca mais o vi, mas lamentavelmente, tive notícias de que sofre de Alzaimer bastante adiantada.

Quanto ao segundo que casou com uma enfermeira pára-quedista, encontrei-o na Academia da Amadora no lançamento do livro do Cor. Calheiros, felizmente estava bem de saúde.

Quanto à minha parte humana, reconheço que o sou humano devido à educação que tive dos meus pais e porque escolhi ir para a prestação de cuidados de saúde quando fui dado incapaz para o pára-quedismo, sempre tive empatia com aqueles que necessitavam desses cuidados e procurava assisti-los como gostaria de me assistirem se estivesse na pele deles, por outro lado eles também me ajudaram a esquecer o inesquecível da Guiné.

Já agora, "como as conversas são como as cerejas", lembrei-me de uma passagem que se passou comigo e com o segundo personagem de nome Rasgado.

Fomos uns 15 dias antes do BCP 12 para a Guiné de avião, eu fui levantar as viaturas que foram num barco antes do Batalhão e andei noite e dia a carregar cimento e foram mais umas quantas praças e graduados para ajudarem no evento.

Fomos aumentados ao efectivo da BA 12, apanharam lá "carne fresca", os responsáveis pelas escalas de serviço, toca a nomear depois de ter feito de Sargento da Guarda, fui fazer aquilo que mais gostava que era saltar, o largador de pessoal era o Rasgado, como não tinha havido Briefing antes do salto, na segunda passagem, o Rasgado apanha o "T" invertido, não largou e foi imediatamente chamado a cabine dos pilotos do DAKOTA, ouve discussão, estava a ver que o rasgado se pegava com eles, mas lá se acalmaram.

Fui largado na segunda passagem, aterrei na pista e apesar dos procedimentos de segurança, ainda dei uma tolada no alcatrão, valeu-me o capacete de ferro.

Era usual quando se saltava na pista da BA 12, colocar o "T" mais ou menos no meio e saltava-se mesmo com o "T" invertido, o Rasgado não estava dentro do assunto e seguiu o protocolo à risca.

Saltar num chão tão duro com aquele tipo de pára-quedas causava muitos acidentes traumáticos e até incapacidades, daí que mais tarde optaram por uma zona de lançamento chamada de O Rapaz na picada que ia para o Biombo.

Amigo põe-te operacional.

Um Alfa Bravo

Saudações Aeronáuticas

A Dâmaso

VB:Obrigado Dâmaso pelas tuas palavras de conforto, felizmente penso que estou a recuperar bem.