segunda-feira, 16 de maio de 2011

Voo 2333 GADAMAEL PORTO 4.





António Dâmaso
Sargº.Mor Paraqª
Azeitão





GADAMAEL PORTO (4)


A ALIMENTAÇÃO A BORDO NÃO TINHA COMPARAÇÃO

Legenda: Sublinhado a verde Cacine, Gadamael Porto e Guilege, Cortesia do Blogue de Luís Graça com a devida vénia.
Foto: António Dâmaso(direitos reservados)

Legenda:Foi neste Patrulha “ORION” e noutr0 igual “HIDRA” onde me mataram a fome em Cacine (Foto cortesia de L Santos).
Foto:António Dâmaso (direitos reservados)

Durante o tempo que estive em Cacine, valeram-me os meus amigos dos Patrulhas Orion e Hidra porque a comidinha a bordo era muito melhor, contribuindo para a minha recuperação, passei tanto tempo nos patrulhas que o meu camarada Jota, passou gozar comigo chamando-me Tóino da maruja.
Sentia-me melhor mas não completamente restabelecido, quando cheguei a Gadamael ainda fui fazer a ultima saída com a Companhia, tratou-se de um patrulhamento com pernoita no mato, pela manhã quando regressámos, a um quilómetro do quartel, fomos corridos à morteirada até chegar ao Aquartelamento, é evidente que fiquei logo em último lugar, o meu camarada Jota sempre a chamar à atenção dos homens para não me deixarem ficar para trás mas eu dizia-lhes para continuarem para não perderem o contacto, quando se ouvia vir uma granada a Zunir pelo ar, eles atiram-se ao chão e eu continuava a correr como podia tentando não me deixar atrasar, era uma espécie de”corrida entre a lebre e sapo-concho “cheguei atrasado mas com ligação à vista, nas entradas e saídas do Aquartelamento eram-mos quase sempre bombardeados, isto quando não estavam à nossa espera com emboscadas montadas.
No dia que saí de Gadamael tinha no meu chapéu camuflado as insígnias de Mecânico e Cavalaria, do Exército em miniatura, a minha Unidade de Origem era Lanceiros 1, à falta das lanças as espadas serviam e era como que uma antecipação, pois tinha pensado que depois de ter desafiado o Comandante com um requerimento a pedir uma junta médica, talvez me brindassem com uma guia de marcha para o Exército, não estava de todo enganado porque quando cheguei a Bissalanca tive a resposta.


Legenda: Gadamael Porto, são visíveis os estragos provocados nas Instalações pelos ataques Foto (HBCP12).
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)

Legenda:Foi nesta LDG «Bombarda» que regressei a Bissau com escala por Bolama (Foto Cortesia de L Santos).
Foto:António Dâmaso(direitos reservados)

Legenda: Gadamael no rio à espera dos “Zebros/sintex” para embarcar na LDG rumo a Bissau, andei a ver as ostras no tarrafo mas eram muito pequenas.
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)

Saímos de Gadamael pelo local por onde tínhamos entrado, havia duas diferenças, eram a maré mais baixa e uma acalmia verificada pela ausência de bombardeamentos, o que nos dava muita satisfação

Relatório médico a que tive acesso uns anos mais tarde, que transcrevo parcialmente.

“RELATÓRIO MÉDICO DA SITUAÇÃO DAS TROPAS ESTACIONADAS EM GADAMAEL PORTO

SITUAÇÃO SANITÁRIA DAS TROPAS PARAQUEDISTAS ESTACIONADAS EM GADAMAEL, ELABORADA A PEDIDO DO COMANDO DAQUELE AQUARTELAMENTO.

……/……

Os restantes elementos operacionais referem entre sintomatologia objectiva e subjectiva:

a)Sensações de vertigem, lipotimias, cansaço fácil e sobrecarga psicofísica em número anormalmente elevado na ordem dos mais ou menos70%.

b)Estilhaços ligeiros que receberam tratamento -4.

c)Alterações do comportamento – 3 sendo uma tentativa de suicídio e dois delírios agudos que foram evacuados para o Hospital Militar de Bissau.

Face dos dados observados, solicita-se análise da condição física e psicológica do pessoal aquartelado.

Guine, 10 de Junho de 1973”

Tem a assinatura do médico e por baixo o nome escrito à máquina.
Tenho a certeza que se este relatório tivesse sido feito depois do dia 20, depois do médico ter analisado o pessoal da CCP 121, tendo em conta o que tinham penado em Guidage, e ter assistido os feridos da CCP 122, os números do relatório seriam mais elevados, aquela fase da guerra foi terrível.
Recentemente, falando com um ex-pára-quedista que naquela data estava em Angola, este disse-me que a sua Companhia esteve pronta e equipada de armas e bagagens para rumar à Guiné em reforço, mas depois não o chegou a fazer.

Saudações Aeronáuticas

A. Dâmaso

VB: Amigo Dâmaso mais uma das tuas grandes aventuras africanas por altura da guerra da Guiné.
Estas passagens contadas por quem as viveu na primeira pessoa, são um grande enriquecimento para o combate ao saudosismo dos tempos da Guiné.
Pena é que, os poucos como tu, que viveram esses episódios não nos contem os seus momentos para que “outros”possam dar valor ao que foi a guerra na Guiné.