quarta-feira, 13 de julho de 2011

Voo 2407 RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (3)






António Dâmaso
Sargº.Môr Paraqª.
Azeitão





OPERAÇÃO “NESTOR”


Legenda: Zona de, Choquemone, onde desenrolou a Operação “Nestor”em 20JUH69

Com base nas informações obtidas a um dos prisioneiros capturados uma semana antes na operação ”Orfeu”foi planeada a operação “Nestor” o prisioneiro dizia existir um acampamento na mata entre Insumeté e Infaíde, mais uma vez a CCP 122 a 3 Grupos de Combate foi helicolocada em 20 de Junho de 1969, cerca das 08,40 a primeira vaga de 40 homens, sendo a segunda vaga de mais 40 colocada cerca de 25 minutos mais tarde, um pouco mais a sul da mesma bolanha.

Legenda: Formação de Hélis partindo para uma operação (Foto de A Martins álbum de memórias do BCP 12)

Mais uma vez fui na segunda vaga, quando se deu a reunião da Companhia estava o prisioneiro a levar um “tratamento”, para ver se espevitava uma vez que se mostrava desorientado, a meu ver não era caso para menos porque que tinha sido levado e trazido de helicóptero, fartamo-nos de andar às voltas com os “turras” sempre a chatear-nos, lá andava o Heli-canhão a tentar mantê-los à distância, atravessámos a mata entre as duas bolanhas, encontrámos um acampamento abandonado, onde foram encontradas munições, granadas, medicamentos e grande quantidade de artigos diversos.

Legenda:Travessia de uma bolanha (Foto de Albano Martins Álbum de memórias do BCP 12)

Por volta das 16 horas a sul da bolanha de Infaíde foram encontradas pequenas barracas individuais no tarrafo numa pequena ilhota, estas continham grandes quantidades de armamento e equipamento.
Para alcançar a citada ilhota tivemos de atravessar braços do rio Bipo, com água pelo peito, aquilo era uma zona de muita água, á parte a água havia ainda umas espinheiras muito afiadas que nos rasgavam tudo que lá tocava.

Legenda:Páras em terreno difícil (Foto de Albano Martins Álbum de memórias do BCP 12)

Foi aqui que apanhei os meus primeiros “despojos de guerra” que foram: 1 cantil, um cinturão com fivela de chapa com a foice e martelo em relevo, um boné de pala do tipo chinês, e um estojo de faca garfo e colher, a faca perdi-a em Nampula, restam a colher e garfo com abre-latas e saca-rolhas porque nunca lhes dei uso, os restantes objectos já não existem desgastaram-se pelo uso, era um estojo bastante adiantado para a época, devia pertencer a algum comandante de grupo.

Legenda: Foto do Estojo com colher e gafo

Legenda: Foto do pormenor da marca, País do Leste?

Os guerrilheiros continuaram a flagelar-nos, era sol-posto quando a operação foi dada por concluída, regressamos a Bissalanca com o material capturado.

Legenda: Uma recuperação Héli (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Durante a operação foram abatidos dois guerrilheiros e capturados outros dois sendo um o chefe do grupo de Iracunda, em vez de mencionar aqui todo o material capturado, resolvi expor a foto do mesmo.

Legenda: Material capturado pela CCP 122 na Operação “Nestor” em 20/JUN/69 (Foto H BCP 12)


No mesmo dia o Alf. Pára-quedista Armindo Calado, pertencente à CCP 121 que estava em Teixeira Pinto, foi morto em combate na região do Bachile.
E foi mais uma operação em que participei sem dar um tiro.

A 28JUN69 fui com a CCP 122 para Teixeira Pinto via auto e no dia 08JUl69, fui de Teixeira Pinto para Bafatá integrando a CCP 123 (1) , tendo passado por Bafatá, Galomaro e Dulombi.

Sentimos sempre a morte dos camaradas de armas, mas uns mais que outros conforme seja a nossa proximidade, com o Alf. Calado tinha criado laços de amizade por ter convivido de perto com ele durante os dias e algumas noites, que durou Instrução de Combate 2/68, com início em 17JUN68 até 07SET68, pois tinha sido monitor no pelotão dele, depois eles foram mobilizados e eu ainda fiquei a dar a Escola de Recrutas 3/68 que teve inicio em 16SET68.
No dia 10 de Junho de 2011, fui ao Monumento dos mortos na Guerra do Ultramar, prestar homenagem aqueles que tombaram ao serviço da Pátria, nomes, muito nomes, apesar de não os conhecer pessoalmente, todos aqueles nomes para mim têm uma carga simbólica muito grande, não tendo de memória os nomes dos cento e muitos pára-quedistas que tombaram no Ultramar, pensei em todos tirei umas fotos aos Calado, Peixoto, Lourenço e Victoriano.

(1) Tratou-se de uma Companhia a 3 GC que estava mobilizada para Angola, mas foi enviada para a Guiné em reforço durante 3 meses passando a denominar-se CCP 123, no final as praças foram integradas nas CCP 121 e CCP 122 e os graduados seguiram o seu destino para Angola.

Saudações Aeronáuticas

Dâmaso

VB: Caro Companheiro Dâmaso, as nossas desculpas de só agora dar-mos saída ao teu ,mas na realidade o tempo não tem sido muito.
Mais uma das tuas odisseias que nos prendem ao ecran recordando a aqueles tempos de Guiné.
Já estamos á tua espera na placa para te receber em mais um voo.