quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Voo 2499 UM CAMARADA PÁRA-QUEDISTA DO BCP 12.






Baltasar Silva

Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12




Fui incorporado no dia 10 de Dezembro de 1964 por opção, como voluntário, no Regimento de Caçadores Pára-quedistas, em Tancos, com 20 anos de idade.
A mobilização para a Guiné foi aceite com normalidade, pois tinha sido devidamente preparado ao longo de 15 meses para combater e tentar sobreviver a todos os obstáculos que porventura viessem a surgir.

Saí com mais 41 camaradas do aeroporto da Portela a 25 de Maio. Cheguei a Bissau dois dias depois, para substituir o pelotão ‘Os Sabres’, que terminara a sua comissão. A minha unidade foi, inicialmente, a Companhia Caçadores Pára-quedistas, instalada na Base Aérea 12, em Bissalanca, que fazia parte da reserva das Forças de Intervenção às ordens do Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné.


Recebei o baptismo de fogo durante uma operação na zona entre Oio, Xito e Dando, que felizmente não fez vítimas. Mas, dado o evoluir do conflito, foi necessário um reforço de Pára--quedistas, que levou à criação de um Batalhão de Caçadores Pára-quedistas. Em Dezembro de 1966 chegou a Bissalanca um grupo de camaradas que prepararam as instalações daquela que viria a ser a minha segunda Unidade: o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12, tendo sido colocado na Companhia 122.

TENTATIVA DE REPRESÁLIA


Durante a minha comissão tombaram em combate dois camaradas do Batalhão, mas o que mais me marcou foi o que ocorreu naquele sábado, 3 de Junho de 1967, e que ainda hoje não me sai do pensamento: a morte dos camaradas, o 1º cabo Ismael Silva Santos e o soldado Fernando Dias Marques – este último meu companheiro de camarata – cobardemente assassinados a tiro no centro da cidade de Bissau por um grupo de fuzileiros navais. Que eu saiba, não foram apurados os assassinos.

Como era de esperar, quando se soube da ocorrência houve uma revolta total no Batalhão e foi organizada uma marcha com os pára-quedistas já armados, para exercerem represália no quartel de fuzileiros. Recordo-me que o oficial de dia à unidade, não tendo conseguido demover os pára-quedistas, chorava sem saber o que fazer. A represália foi, no entanto, gorada, dada a presença de um major pára-quedista que, ocasionalmente, se deslocava ao Batalhão.

A causa do incidente deve-se ao facto de se andar a disputar um torneio de várias modalidades desportivas. E uma das equipas ASA – praticamente formada por militares da Força Aérea (pára-quedistas, especialistas, polícia aérea e serviço geral) – estava à frente em algumas das modalidades. Durante alguns jogos já se tinha verificado escaramuças, mas nunca se pensou que chegasse àquele ponto.

Quatro dias após o incidente com os fuzileiros, fui ferido em combate, atingido na perna esquerda por uma bala, que me esfacelou o terço inferior do fémur. Evacuado para o Hospital Militar de Bissau, fui transferido para o Hospital Militar da Força Aérea (Base Aérea 4), em Terra Chã, ilha Terceira – Açores. Ali fui operado e fiz a total recuperação, que durou cerca de onze meses. Passei à reforma por invalidez e fui considerado deficiente das Forças Armadas.

Da passagem pela guerra guardo as seguintes condecorações: Distintivo Especial da Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe; Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas; Medalha de Cobre de Comportamento Exemplar e Medalha de Mutilados em Campanha. Mas não posso deixar de referir o papel da minha esposa na minha vida pós-guerra, que sempre soube superar os momentos mais difíceis, suscitados pelos traumas que trouxe.


Origem do Voo:

Revista do Correio da Manhã de 18.9.11