Voo 2681 O ANIMAL ERA UMA "PALANCA".

Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa

Saúdo o “Comando”, a “Linha da Frente” e todos os “Zés” que através desta “Unidade” nos vão “espreitando”.
Decorria o ano de 1969.
Continuava com as minhas aulas como “monitor das aulas regimentais” .
É colocado na Unidade o Furriel EABST Arantes após ter terminado o curso de promoção na B.A.2.

Legenda:O meu cartão de identificação na Base de Negage.

Foto: Victor Sotero (direitos reservados)

 Famoso como caçador, rapidamente me “caçou”. Queria que o acompanhasse na caça.
Entusiasmei-me com a caça de tal maneira que pedi à Secção de Pessoal que me retirasse o cargo que tinha como monitor das aulas regimentais.
Quase todas as noites eu e o Arantes dávamos uma volta em redor da Unidade sempre a pé.
Uma bateria envolta em corda, um “pau”, que se introduzia nas cordas, bateria a meio e cada um pegava em cada extremo.
Era assim que se transportava a bateria onde se ligava um farol.
Espingarda, alguns cartuchos de zagalotes, uma bússola e uma pistola para o que desse e viesse mas que nunca foi utilizada.
Em noites escuras, era fácil encontrar caça. Quando o foco de luz passava por cima de algum animal, este era logo visto pelo brilhar dos olhos.
Eu, normalmente era o farolinador já que a espingarda estava sempre com o atirador. Fazia varrer pela mata o foco de luz, por toda a área que alcançava.
Não se gastava um cartucho num coelho. O foco de luz, à medida que se ia encurtando, trazia até junto de nós o coelho. Depois, com o próprio “pau” que ajudava a transportar a bateria, lá se dava a cacetada.

Legenda: Aqui limpando a peça caçada.
Foto: Victor Sotero (direitos reservados)

As corsas eram o principal alvo mas normalmente só se caçava uma por noite. O transporte do animal às costas no regresso à base era complicado.
Uma noite, sem esperar-mos, apareceu-nos pela frente um enorme animal. Com o farolim, lá nos fomos aproximando até ficar a geito para o tiro. Com três tiros certeiros para a cabeça eu vi claramente o animal baixar as patas da frente e cair de lado. Aproximamo-nos e nessa noite eu fiquei a conhecer a “palanca”. Um “troféu” muito raro para aquela zona.
E agora? Como é que a vamos transportar para a base?
Com alguns ramos e algum capim, tapou-se por completo o animal. Havia o problema de ser descoberta por animais carnívoros. Fizemos marcas em redor e fomos cortando ramos até chegarmos à picada.
Regressamos à Base e fomos ter com o Comandante da Anti Aérea, um Alferes do Exército a quem pedimos que nos emprestasse o Unimog com o respectivo condutor. Tinha ficado no mato uma enorme “palanca”.
O Alferes foi à camarata e chamou não só o condutor mas também mais outros dois soldados que nos acompanharam. Lembro-me que um se chamava Mirandela.
Prometemos ao Alferes febras para o “petisco”.
Não havia cacimbo nessa noite e rapidamente, pelas marcas que foram colocadas chegamos ao local onde se encontrava o nosso “troféu”. Estava intacto, tal como o tínhamos deixado.
Cinco pessoas mas mesmo assim, não foi fácil colocar o animal em cima do Unimog.
Estava quase a nascer o dia. Durante algum tempo, na base, o “bicho” ainda ficou em cima do Unimog para ser admirado pelo pessoal. Era um grande “troféu”!...
A Anti Aérea preparou o “petisco” para todos. O restante do animal foi vendido na Sanzala.
O preço por quilo foi de doze escudos e cinquenta centavos. (Dinheiro de Angola)  Começamos a fazer um mealheiro para se comprar um geep.

Meu Comandante:

Despeço-me do “Comando”, da “Linha da Frente” e de todos os “Zés” que nos vão deitando o “olho”, com um até breve.

Até breve, porque a caça não acaba aqui.

Sotero