terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Voo 2720 O MEU CURSO DE PARA-QUEDISTA.





António Dâmaso
Sargº.Môr Paraqª.
Azeitão 




O Curso de Pára-quedismo (1)


                             

 RCP





Legenda:
Casa da Guarda e porta de armas do BCP, e desde 1961 RCP 
Foto: H das TP



Breve resenha histórica:
As Tropas Pára-quedistas foram criadas em 1955 com cerca de 200 militares brevetados em Alcantarilha em Espanha, tendo sido formado o BCP, Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, de início Aquartelado na Serra da Cargueira, em 14 de Agosto de 1955 o Comandante do BCP, Cap. Martins Videira, recebeu do Presidente da República General Craveiro Lopes, o Guião da Unidade.

Em Janeiro de 1956 os Páras iniciaram a sua instalação em Tancos, no dia 23 de Maio o então Sub-secretário de Estado da Aeronáutica, Kaúlza de Arriaga procedeu à inauguração dessas instalações, passando esse dia a ser considerado o Dia da Unidade.




Legenda:
Entrega do Guião 
Foto H das TP


Legenda:
Entrega da Bandeira do BCP 
Foto : H das TP



Kaúlza de Arriaga, mais tarde Secretário de Estado da Aeronáutica, foi um grande impulsionador das TP, apelidado por muitos por seu “Pai”.
Outros dados sobre o n.º de militares brevetados:

1955- 202 Total 202
1956- 000 Total 202
1957- 039 Total 241
1958- 233 Total 474         
1959- 248 Total 722
1960- 003 Total 725
1961- 790 Total 1515
1962- 354 Total 1869

Em 1961 houve grande pico, neste ano formaram-se mais Pára-quedistas do que nos seis anos anteriores julgo que devido aos ataques ao Quartel de Beja, Navio Santa Maria e aos acontecimentos em Angola em Março de 1961, algumas recrutas por falta de instalações no RCP, foram alojadas na BA 3.
Iniciamos o Curso n.º 1-61/62 também conhecido por 16.º, em 5 de Fevereiro de 1962 com 99 elementos, oriundos de 36 Unidades, só de Lanceiros 1 eram-mos 13, terminaram o curso 79, 20 não completaram por desistência ou eliminação, este Curso foi o último formado só por militares oriundos de outras armas.
A instrução era muito dura e muito exigente técnica, física e psicológica, quem queria ser pára-quedista tinha de se sujeitara tudo e tinha de ter muita força de vontade, o voluntariado pagava-se muito caro.
Eu, como a maioria tinha poucos músculos desenvolvidos por acção do trabalho, mas outros mais atrofiados, apesar de a exigência ser gradual, era muito rápida, provocava muita dor para executar os exercícios bem-feitos.
No Curso, todos os trajectos eram feitos em passo de corrida, pagava-se por tudo e por nada, eram completas que englobavam flexões de braços, cangurus e pulos de galo, era um fartote de paganço, quem não queria dar parte de fraco, engolia o sal das lágrimas provocadas pela dor do esforço, tinham-mos duas sessões de exercício físico por dia uma de manhã e outra à tarde, calistenia, ginástica com aparelhos, ginástica com toros, pista de cordas que era a transposição de vários obstáculos sempre em ritmo acelerado e a corrida contínua também a um ritmo puxado, havia também o factor inverno, de manhã os toros estavam cobertos de gelo bem como o chão onde tinham-mos de nos deitar em tronco nu, as pedrinhas enterram-se na carne provocando ferimentos, quem procurasse afastá-las e fosse visto por um monitor era certo e sabido que este chutava para lá várias.
A parte técnica englobava o conhecimento pormenorizado de todas as características dos pára-quedas, os saltos da Torre de saída e aterragem, saída de uma maqueta, (carcaça de um JU 52), saltos de banco para aterragem, arnês suspenso, cuidados a ter dentro do avião, como resolver problemas com deficiente abertura do pára-quedas, enrolamentos, recuso à abertura da reserva, aproximação de camaradas na descida, no ar e na aterragem todos os cuidados como aterrar em cima de árvores, linhas de alta tensão, fios telefónicos dentro de água, etc.
Tivemos treino de arrastamento, fomos para junto da placa dos JUs na BA 3 colocaram um avião dentro do mato com os três motores no máximo, a deslocação do ar enfunava o pára-quedas arrastando-nos, o que provocava escoriações se não fosse-mos rápidos a levantar contornar o pára-quedas ao mesmo tempo que manobrava-mos para o fechar.



Legenda:Durante o Curso, instrução de pára-quedismo, saltos do banco em posições de aterragem.
Foto: H da TP




Legenda:Uma aterragem no arnês suspenso 

Foto: H das TP



Legenda:Treino de tomada da posição de aterragem junto da torre de saltos 

Foto: H das TP.



Legenda:Treino de saltos da torre Francesa, na posição de aterragem 

Foto: H das TP.



Legenda:Sessão de ginástica com aparelhos 

FotoH das TP.





Legenda:Sessão de ginástica com aparelhos 
Foto: H das TP.



Legenda:
Ginástica com toros.
Foto: H das TP.


Legenda:Ginástica com toros 

Foto: H das TP.


Legenda:
Sessão de calistenia
Foto:
 H das TP.



Legenda:Sessão de calistenia 

Foto: H das TP).



Legenda:Muro das osgas.

 Foto: H das TP



Legenda:Rede de abordagem 

Foto: H das TP



Legenda:Descida da rede de abordagem.

Foto: H das TP.



Legenda:Obstáculo Tarzan .

Foto: H das TP.



Legenda:Esta foto mostra-nos dois obstáculos, subida na vertical e Jacaré.

Foto: H das TP.


Legenda:
Falsa Baiana.

Foto: H das TP



Com muito força de vontade lá me ia aguentando como podia, tinha o fantasma de Elvas a pairar sobre a minha cabeça que me dava grande força anímica, aprendi que se queremos alguma coisa temos de lutar por ela, ia contando os dias quando chegava ao final da cada dia, embora estoirado, dizia que já se tinha passado mais um, por outro lado os que optavam por desistir, passavam o dia em cima do muro das osgas , claro que nas desistências havia os que eram devido a lesões, com muito suor algumas escoriações mesmo coxo, não dei parte de fraco, chegou o dia da última corrida e ainda tive força anímica para rebocar um camarada que ainda estava mais manco do que eu, depois as provas físicas finais, quem não atingisse os mínimos não ia para o avião e tinha de repetir tudo novamente, mas atingi mais que os mínimos.

Contentem-se com cheirinho a Tropa.

Saudações Aeronáuticas
A. Dâmaso