terça-feira, 1 de maio de 2012

Voo 2855 Uma passagem da minha vida na Guiné.







José Ribeiro
Esp.OPC
Lisboa




Mais uma vez, Boa Tarde, amigo Victor.
Como tenho por hábito e em primeiro lugar abrir a pasta a receber, abri a tua msg. Meditei sobre ela e de facto não tenho escrito nada, mas também não me tem vindo nada de novo à memória que mereça publicação, como já referi na msg anterior.
Todavia, entrando no Blog BA12, dei comigo a ler um msg antiga que te tinha enviado, sendo que nela há algumas incorrecções o que desde já peço desculpa, mas julgo que serão de menos importância.
Esta que te envio agora tem a ver com a foto que publicaste e que não  possui identificação das pessoas que lá estão, sendo que do lado esquerdo está um amigo que se chamava Andrade, senão estou em erro, e do lado direito, sou eu. Esse amigo, quando antes de eu me vir embora tinha sido colocado na Messe de especialistas, depois do falecido General Diogo Neto ter mandado embora da respectiva messe a antiga equipa que nos servia quase todos os dias cabeças de peixe e arroz. Cousa essa intragável, por isso deixamos de ir lá comer o que causou uma certa instabilidade, coisa essa, sanada com a melhoria do Bar e refeitório, em termos gerais, sendo que passamos a ser servidos com dignidade, coisa essa que não acontecia antes. Tivemos que encetar uma luta que se substanciava em não aparecer para almoçar, como já foi referido noutros voos.
Quando foi tirada essa fotografia ainda não podíamos andar à civil, sendo que somente mais tarde nos foi autorizado esse traje.
Era norma do pessoal, quando de folga, ou ir para Bissau ou então dar uma volta pelas cubatas adjacentes à base, donde eu possuía várias fotos, mas que, por incúria minha, estragaram-se.
De vez enquanto ia com o filho do General Diogo Neto, que encontrei em Palmela num encontro do NANAMUE, até ao Pilão e à Palhota de Bissalanca, beber uns grogues, julgo que é assim que se escreve.
Muitas vezes fomos comer uns camarões e umas ostras a Bissau e outro lugar que não me lembro o nome, mas que ficava próximo da Base, sendo que a passagem pelas meninas não ficava esquecido.
Eu tive azar porque apanhei paludismo, mas outra coisa não. Ainda me lembro dos porcos debaixo da tarimba, quando estávamos num trabalho "árduo", coisas essas que nunca mais esquece.





Legenda: As lavadeiras no rio lavando a roupa do pessoal.
Foto: Blog Luís Graça e Camaradas  da Guiné (direitos reservados)

Eu e um camarada, ia-mos muitas vezes à procura das negras nos charcos onde tomavam banho e lavavam a roupa. Muitas vezes fui com a Bajuda que me lavada a roupa militar, ver como ela o fazia. Fartava-me de rir, porque com aquele sabão macaco e na raiz da árvore batiam com tanta força que os botões saltavam, mas elas lá arranjavam outros. Quando me apresentei no EMFA ia levar uma "porrada" pelo Ch do Estado Maior da FA, apenas porque a farda de azul não tinha nada, passou a cinzenta. Disse-lhe que não tinha dinheiro para comprar uma nova e que a cor tinha ficado na Guiné, isto depois de ter regressado ao mesmo sítio. De uma luta tremenda com um capitão que queria que eu ficasse em Monsanto à força.
Certo é que passamos todas a trajar à civil no Estado Maior, mas em Monsanto onde dormir às vezes, tinha que andar fardado, situação essa que resolvemos com luta e dela participamos cinco operadores de comunicações - quatro ainda vivos e um falecido no Brasil -. Esta operação consistia em cortar a rede de arame protector do ex-GDACI, junto à torre da televisão e entrava-mos pelo buraco feito. Certo que de vez enquanto éramos surpreendidos por um sargento, sendo que o armamento que utilizava-mos eram pedras seguida de fuga para protecção (ele tinha a mania que era mau), até que o comando teve que torcer e autorizar que pudesse-mos sair à civil. Nós quando íamos para Lisboa cidade, deixava-mos a farda escondida na mata.
Outras coisas nós fizemos, como por exemplo sair de Monsanto fardamos à primor e ir pedir emprego a várias instituições, como à PIDE, Sindicado dos Pescadores de Bacalhau e a outras instituições que já não me lembro o nome. Logicamente que  levava-mos "sopa", mas era uma forma de não estarmos de acordo com os seis anos que nos obrigaram a cumprir. Na minha Caderneta Militar, apenas está escrito a lápis 6 anos, mais nada, ainda reclamei mas levei sopa. Perdi um bom emprego numa Empresa de Contabilidade que me ofereceu 3,5 contos por mês, depois de ter tirado um curso de mecanografia, sendo que por tal facto não conclui o curso de contabilista, já que não valia a pena gastar mais dinheiro com esse. Este era constituído por duas partes, a primeira mecanografia e a segunda contabilidade. Eram módulos diferentes, sendo que o primeiro permitia a actividade profissional de mecanógrafo.
Com isto termino. Se entenderes publicita.
Cumprimentos amigos e especiais.

José Ribeiro

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