Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa
Sargº.Môr EABT
Lisboa
Saúdo o “Comando”, a “Linha da Frente” e todos os “Zés” que nos vão espreitando.
No inicio da minha comissão, uma das primeiras coisas que fiz no serviço,
foi pegar numa folha A4 de papel branco e escrever o numero 730 (dois anos) e
em ordem decrescente, até chegar a 1. Cada dia que passava (e não me esquecia)
marcava sempre uma cruz. Sabia sempre quantos dias faltavam para terminar a
comissão.
Na minha secretária,
ao lado da máquina de escrever, presa ao tampo por fita cola, por lá se manteve
durante o tempo todo.
A folha, já quase
toda marcada com cruzes, estava quase no fim. Restavam poucos números para
marcar.
O Comandante da
Esquadrilha de Abastecimento, propôs-me um louvor.
O Pinto que era quem
fazia toda a correspondência da Esquadrilha, passou a limpo a proposta e deu-me
uma cópia que levei para o armário. Era segredo. Não disse nada a ninguém.
Entretanto,
sempre que possível, a caça.
Um dia, já com a
habitual equipa, munidos de algumas sandes e cervejas, lá fomos para o capim.
Por vêzes, o
cacimbo pregava-nos algumas partidas. Não foi o caso desta vêz mas sim uma
enorme trovoada com alguma chuva. Espectacular e a causar alguns arrepios.
Do chão, o
cheiro a ferro.
Uma mirada com
o farolim e ao longe os olhos de uma corça. Sinal ao condutor e lá partimos
para fora da picada com o capim muito rasteiro. Dois tiros e o animal tombou.
Paramos o jeep
para a trazer para dentro. Sinal para avançar, mas como? O jeep estava agora
atascado pela água que caia. Ramos e mais ramos para debaixo das rodas.
Com muito
esforço lá o conseguimos retirar do lamaçal onde nos tínhamos metido.
Regresso à
base. Nesta noite não valia a pena continuar apesar de um coelho mais afoito se
ter deixado apanhar com uma cacetada pela cabeça.
No outro dia,
após o serviço, “esfolar”, tirar a “cabeça” para embalsamar, as “unhas” para
cabides. A carne ia para a sanzala para ser vendida.
Foto: Victor Sotero (direitos reservados)
Jeep a
trabalhar e aí vou eu com uma balança e a carne direito a “Nova York” em
direcção da porta de armas.
Na porta de
armas o policia só levantava a cancela quando a viatura estava parada na sua
frente. Desta vêz, por mais que desse no pedal do travão o jeep não travou.
Para minha aflição continuou e lá se foi a cancela que ficou partida.
Verificou-se
depois que o atascamento do jeep tinha partido um pequeno tubo que
servia de conduta do óleo dos travões.
O meu louvor
não saiu. Serviu de pagamento ao estrago que tinha feito à cancela.
Pela folha de
papel que marcava os dias da minha comissão, as cruzes que ia fazendo
permitiam-me dizer e a ficar com pena que faltavam poucos dias para o final da
minha guerra.
Despeço-me meu
“Comandante”
Despeço-me do “Comando”, da “Linha da frente” e de todos os “Zés” que nos
visitam nesta base.
Até breve.
Sotero
MA:
Cá está mais uma passagem do nosso companheiro
Sotero, que podemos chamar de dois em um.
Companheiro continua afinado, para poderes fazer mais uns voos
com o estilo que já nos habituaste.
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