terça-feira, 5 de março de 2019

Voo 3504 O MEU ENTUSIASMO E ILUSÃO PARA IR PARA A FORÇA AÉREA,ERA IMENSO!






João Carlos Silva
Esp.MMA
Lisboa






Naquela altura, não se conseguia integrar nos estudos do curso complementar dos liceus. Porquê? Não sabia. Bom aluno até então, passando nos exames que tinha enfrentado ou dispensado dos mesmos no 5º ano do liceu, agora, entre sonhos e escapadelas nas salas de bilhar da velha Lisboa, apenas conseguia pensar naquele panfleto de recrutamento que tinha visto nas férias em casa do Jorge, em plena Praça Dr. Eugénio Dias, no Sobral de Monte Agraço.
E foi isso mesmo, tinha acabado de completar os 17 anos e o entusiasmo e a ilusão para tentar ir para a Força Aérea Portuguesa era imenso. Obtida a necessária assinatura dos Pais nos papéis do processo de candidatura, rapidamente se viu instalado no Depósito Geral de Adidos da Força Aérea, no Lumiar. Como se uma preparação fosse para vir a ser militar, ali aquartelou durante uma semana para os necessários e exigentes testes físicos e psicotécnicos. Tudo era novo e tudo enfrentou com entusiasmo e com aquela sensação de intranquilidade de não saber se estaria a ter, ou não, uma boa prestação nas provas apresentadas.
Por vezes, pensava que iria conseguir, outras vezes, pensava que não que entre tantos candidatos tal seria impossível.
As provas físicas, após muitos anos de práctica desportiva no Lisboa Ginásio Clube e particularmente no último ano em que tinha practicado Luta Greco-Romana e Luta Livre Olímpica, eram superadas com empenho, mas, com relativa facilidade, já nos psicotécnicos, coisa que nunca tinha feito, era diferente. Em primeiro lugar, a dificuldade dos mesmos e a incerteza quanto à qualidade do resultado. Depois, algum teste em especial em que se tinha a clara sensação que não tinha corrido bem. Um em especial em que era necessário identificar letras ou números no meio de círculos compostos por inúmeros pequenos círculos de cor em tons diferentes. Olhava e não conseguia identificar nada, quanto mais olhava menos via…
Dizia o avaliador:
- Então quer ir para mecânico de aviões e não consegue identificar a diferença de cores? Pega num molho de fios e não consegue fazer as ligações correctamente. Já viu o risco?
Sem palavras, o mancebo olhava e ia ficando lívido, pensando que iria “chumbar”!
- Vá, vá lá almoçar e venha cá depois de comer para repetir o teste. Disse o avaliador!
A verdade é que, depois de almoço, conseguiu ver tudo bem e passar esse teste. Não perguntem porquê… Que alívio!
Em suma, no final dessa semana, em que tudo foi novo, em que viveu uma experiência nunca antes vivida, o resultado foi muito positivo. Objectivo cumprido, a felicidade era imensa… difícil de explicar! Era uma mistura de sensações, talvez por ter passado bem por experiências únicas, por ter conseguido ultrapassar com sucesso as dificuldades, por… sentir que afinal até conseguia…
Daqui até áquela recta mítica que ligava a Estrada Nacional nº1 à então Base Aérea nº 2, na Ota, para transpor com toda a “cagança” a respectiva Porta de Armas como candidato a Primeiro Cabo Especialista da Força Aérea Portuguesa foi um ápice.


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