terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Voo 3594 CONTO DE NATAL.

 





Victor Sotero
Sargº.Mor EABT
Lisboa



Saúdo o “Comando”, a “Linha da frente” e todos os “Zés” que através desta “Base” nos vão visitando.
No Mundo completamente conturbado em que vivemos com guerras, injustiças, faltas de amor, lembrei-me de “imaginar” um país e escrever uma pequena história, o meu “Conto de Natal”.

Ano de 2020

A Igreja daquele país e as pessoas, estão prestes a passar as horas mais agitadas de toda a história . Aproxima-se o choque inevitável do povo com os militares.

Mês de Dezembro, 24.

Toda a terra se transforma dia após dia num manto de neve maravilhosamente extenso e belo.
As pequenas aldeias povoando a imensa estepe cobertas de gelo por todos os cantos aquecem o corpo e alma daquelas pessoas que vão esperando.
É numa pequena cabana que vivem, sofrendo todas as amarguras ocasionadas pela escassez de meios, uma velhinha e sua neta, cujos corações vagueiam no infinito.

 



A vida é amarga naquele lar. Nele se desenrola lentamente o drama de uma Cruz, e à medida que os dias vão passando, diminuem os géneros na dispensa, escasseia o correio e até mesmo a lenha para a fogueira vai sendo pouca. A velha senhora chora dolorosamente a sua desdita.
Naquele dia algo de anormal se passou. Para a velha avózinha era a morte que avançava a passo célere. Para a neta, era porém uma luz de esperança que renascia.
Pelo seu pensamento num frémito de entusiasmo passou uma imagem.
É véspera de Natal.
Recordou-se das palavras do avô. Recordou-se que lá longe, na Igreja, o velho sacerdote costuma distribuir roupas e alguns alimentos aos que mais necessitam.
Fita a avózinha...não pode mais. Naquela Igreja está a sua esperança.
Tem que trazer para a avó um consolo... e parte, contra a neve...contra o vento...contra o frio...desliza no imenso oceano gelado...faltam-lhe as forças mas ela não pode desistir.
Levanta o olhar e vê uma luz...talvêz a da Igreja e corre ainda mais em direcção aquele ponto. Os olhos recusam-se a acreditar no que vêem. A Igreja está transformada em fortaleza militar.
Já não há sinos. Nos seus nichos há agora canhões. No lugar da Cruz...o sacerdote “dorme” no seu sonho.
Grossas lágrimas correm pelo rosto da menina.
...e naquela noite, não houve “Ceia de Natal”.

Despeço-me meu “Comandan​​te”.

Despeço-me da “Linha da frente” e de todos os “Zés” que nos rodeiam.

Até breve

Sotero

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