segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Encontros que nos despertam para um passado adormecido.

5-Mensagem do Joaquim Maurício
Melec/Av./Ins 3ª/69













Amigo Barata:
O documento é explícito,era utilizado como cábula de forma a falsificar as assinaturas dos responsáveis,dando cobertura a vários tipos de escapadelas.
Diz o ditado,que a necessidade aguça o engenho,ao pessoal que frequentou a sub-especialização Melec/Av/Ins entre Julho de 1970 e Maio de 1971 não lhe faltava expediente nem engenho.Nós cabos alunos furtávamo-nos ás duas formaturas diárias,misturando-nos com os cabos colocados na BA2,com livros e cadernos dentro da farda,iludia-mos a vigilância do Ten.Cor.Tomás,comandante do GITE,recordam-se desta viatura,Renault 4L AM-60-24?
De tal forma fomos bem sucedidos,que no termo do curso,o dito oficial desconhecia a nossa presença na Base,como recompensa prolongou o curso mais dois meses.
Permitam-me que lhes conte o seguinte episódio:

O Bilinhas,companheiro de recruta,curso de Paço D'Arcos e sub-especialidade na BA2,natural de Stª Maria ,Vila da Feira,fazia parte do grupo reduzido de cabos alunos que a determinada altura do curso,por mérito próprio,mas de forma ilegal,passou a ter prematuramente acesso aos testes de Electricidade e Instrumentos,assim como ás folhas para as respostas,permitindo a elaboração antecipada da prova.
No dia da prova,quando a oportunidade de proporcionasse,evitando a vigilância dos monitores, os testes eram substituídos pelos ilegais,havia o cuidado de falhar algumas respostas afim de não levantar suspeitas.

Uma parte dos que tinham acesso aos testes,limitavam-se a analisar as perguntas e estudar as respostas evitando a troca das folhas.
Acontece que o Bilinhas furou o esquema,utilizou o método da troca dos testes,respondendo a mais e melhor do que devia e sabia.
Levantou suspeitas!
À saída de um teste que coincidia com o fim do período da manhã,o Bilinhas,abeirou-se de mim e disse-me que não tinha tido oportunidade de fazer a troca dos testes,devido á apertada vigilância de um dos monitores,precisava da minha ajuda.

O que pretendes fazer?-Perguntei. Trocar os testes,respondeu-me ele.Como?!-Interrogou-me. Antes de sair da sala consegui abrir a janela que dava para o portão do hangar.
A minha missão orquestrada pelo Bilinhas,enquanto ele estivesse dentro da sala a efectuar a troca dos testes,era ficar de vigília junto ao portão do hangar,três toques significava que alguém se aproximava,eu escapulia-me para o pinheiral a poucos metros do último hangar do lado Sul,e só regressava quando o caminho estivesse livre,dando dois toques.
Argumentei que a situação gravíssima caso fosse-mos apanhados,e que ele deveria ter tido mais cuidado evitando levantar suspeitas.
De acordo com a sua maneira de ser entre o sério e o risonho,o Bilinhas foi concordando comigo,tinha errado,que não voltava a acontecer,mas era um grande favor que me pedia.
Decidida a coisa,aguardamos algum tempo,até nos parecer seguro levar a cabo a operação.
Quando o Bilinhas se escapuliu a atrás do portão e trepou á janela,os segundos pareceram-me eternidades,pedia a todos os Santos que não aparecesse ninguém.
Finalmente apareceu o Bilinhas sorridente,entramos no pinheiral a Sul do hangar e dirigimo-nos para as camaratas.
Mostrou-me o teste executado na presença do monitor,no essencial resumia-se a um relato de futebol.
O Bilinhas era um individuo pouco interessado na matéria do curso,mas determinado e desenrascado.
Terminada a sub-especialização perdi o rasto deste companheiro.




Joaquim Maurício