sábado, 20 de outubro de 2007

PRÓS E CONTRAS-COMENTÁRIOS AO DEBATE.



30-Mensagem do Inácio Silva
1ºCabo Exército AP.MET
Mansabá - Guiné 70/72



Caros Amigos e ex-camaradas:
Presenciei o debate na RTP 1,na passada segunda-feira(15.10.2007),sobre a Guerra do Ultramar,de principio ao fim.
Salvo as intervenções dos membros das associações de defesa dos ex-combatentes,o resto foi tudo "déjà vu":não vislumbrei nenhum interesse ,em especial.
Um debate em que maioria dos intervenientes são ou foram oficiais superiores ou generais.obviamente,só poderia versar sobre as questões belicistas ou politico-belicistas.Estes senhores não têm contas a pedir ao Estado,porque,sendo do Quadro Permanente,viram todas as suas regalias satisfeitas,na plenitude.Onde estavam os milicianos e os praças?Provavelmente na plateia.Alguém lhes perguntou alguma coisa?Disseram de sua justiça?Nada!
Todos sabemos que as guerras deixam sequelas de vária ordem;pais que viram desaparecer os seus filhos,esposas,namoradas e amigos que viram partir os seus entes queridos,filhos órfãos de pai,muitos deles nem sequer chegaram a ver o progenitor...Cidadãos deficientes que,com muito esforço,sobrevivem,tentando integrarem-se o melhor possível na sociedade,na esperança de serem reconhecidos e apoiados pelo Estado e por ela.Muitos deles são activos e intervenientes e,graças á sua acção,procuram que o seu presente e o futuro sejam passados com algema dignidade.

"O que é que interessa debater e resolver depois de uma guerra? Não será minimizar os danos e os traumas sofridos,tanto os de ordem material como os de ordem afectiva,psicológica,moral,social e,até,de cidadania?Nenhuma sociedade viverá em paz consigo mesma se não entender,profundamente,esta realidade!Não é enterrando a cabeça na areia,como faz a avestruz,fazendo de conta que o que aconteceu nada tem a ver consigo que os problemas são resolvidos..."

E o Estado português,representado pelos Órgãos de Soberania,órgãos estes titulados por cidadãos eleitos pela referida sociedade,o que têm feito?Mais de trinta anos decorridos desde o fim da guerra(colonial,do ultramar ou de libertação,como queiram),os ex-combatentes lamentam,diariamente,o divórcio do Estado,relativamente ás consequências danosas,de vária ordem,a que foram sujeitos e estão sofrendo na pele,por terem sido OBRIGADOS a combater em territórios que,na altura,os responsáveis por este Estado,entenderam classificá-los como "Províncias Ultramarinas"e,consequentemente,fazendo parte do espaço português!!!
A guerra nunca será esquecida,pelo menos por aqueles que a protagonizaram ou por os que,para ela,foram empurrados.Seria bom que os tais cidadãos,eleitos democraticamente,representantes dos Órgãos de Soberania não agissem com hipocrisia,isto é,reconhecessem o esforço,o sacrifício,a privação,o medo,a dor,a doença,a deficiência,a morte,a perda de empregos,o atraso ou a interrupção dos estudos,enfim,uma panóplia de prejuízos de valor incalculável,e reconhecessem em Lei,perante a sociedade que representam - antes que os ex-combatentes morram - que é necessário eliminar,de uma vez por todas,estas nódoas da guerra,que teimam em eternizar-se...
Se tal não for feito,os ex-combatentes morrerão com a magoa de terem combatido,em vão,sem o reconhecimento devido,do Estado,a quem serviram.Mas os políticos,titulares dos Órgãos de Soberania,eleitos pela sociedade de que os ex-combatentes são parte integrante,jamais repousarão em paz e serão,sempre,considerados,mesmo pelas gerações vindouras,como políticos incultos,insensíveis,autistas e hipócritas.
Em conclusão:como ex-combatente,não me revejo nesta forma de fazer politica.Desejo que fique claro que os políticos a que me refiro são todos os que Portugal,infelizmente,teve depois da instauração da democracia"
sistema politico em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos,baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade".
Sou democrata e não sou possuído por nenhum sentimento passadista ou saudosista.Mas fico indignado e triste por assistir a tanta indiferença e insensibilidade...

Cumprimentos a todos.
Inácio Silva