Fabricio Marcelino
Esp.MMA 1960 Guiné
Leiria
Esp.MMA 1960 Guiné
Leiria
Amigo Victor
Como já noutra altura referi, a minha viagem para a Guiné não decorreu da melhor maneira.
Um motor do SKYMASTER que nos transportou parou e, tivemos de voar cerca de 1h30, com o motor parado e, as hélices em passo de bandeira.Voltámos a Lisboa onde fizemos uma aterragem de emergência. Após a reparação do mesmo, de novo descolámos dia 01 de Novembro de 1962 e chegámos a Bissalanca às 03h00 do dia 02.
Os primeiros dias na Guiné também não foram bons, senão vejamos.
Aguardava-nos o oficial de dia, para nos avisar que às 09h00 (daí a 6 horas),tinham de se apresentar na parada para entrarem de serviço os seguintes militares: alferes pilav.Geada de oficial de dia, eu de mecânico de dia e, para meu ajudante, um colega de outra especialidade que não era M.M.A.!
Sem conhecermos a Base e sem fazermos assistência lá estávamos às 09h00 quase sem dormir.
Durante o dia recebi vários aviões,sem problemas, até que chegou um DC 6 comandado pelo Ten. Cor.ou Cor.? Abecassis.
Por desconhecimento,por antes nunca ter recebido um DC6,não mandei o meu ajudante ligar o put put, antes de parar o último motor.Quando chegou ao pé de mim aos gritos, pediu-me o nome, número e, informou-me que ia participar.Expliquei-lhe a razão da falha, mas ele irredutível apenas reafirmou que ia participar de mim.
Pensei para comigo, ontem parou o motor do avião e pregou um susto, hoje este quere-me dar uma porrada, está a correr bem para mim o primeiro dia na Guiné!Após falarmos com ele várias vezes,o oficial de dia e eu,lá resolveu ser um menino bonito e não participou.
Claro que aí pensei,vamos ver se fica por aqui!Mas não.No dia seguinte às 09h00 saí de serviço e fui de imediato para a linha da frente,porque não havia tempo para descanso.
Nesse dia 03,segundo dia na Guiné, a meia da manhã,foram chamados os 2 aviões de alerta e posteriormente outros 2, um dos quais o que me estava distribuído.
Chegou a hora do almoço e, ficou combinado, que eu ficava para receber os 2 aviões que não estavam de alerta.O colega do outro,foi almoçar em conjunto com o resto do pessoal a Bissau,onde estávamos hospedados em pensões e hotéis.
Os aviões chegaram,recebi os 2 e tive curiosidade em saber como tinha decorrido o primeiro voo a sério e o que tinha acontecido. O piloto,furriel Paz,(que posteriormente foi para comandante da TAP), contou-me tudo, porque para ele também era coisa nova, bombardear a sério sem ser apenas treino.
Fomos para Bissau almoçar e, ao chegar ao pé dos colegas,perguntaram-me o que se tinha passado,pois também eles estavam curiosos e, eu contei-lhes tudo o que o piloto me tinha dito.Na pensão estávamos hospedados especialistas da B.A.5,um furriel e um 2º sargento do exército e um indivíduo civil, que eu pensava ser familiar dos donos da pensão.
Logo que contei a história aos nossos colegas, o indivíduo civil chamou-me ao exterior da pensão, onde estava uma explanada com cadeiras de palhinha.Sentamo-nos e do interior de uma carteira mostrou um crachá e apresentou-se. Sou o inspector Silva da PIDE! Depois disse-me: você acabou de dar uma informação militar secreta,com a agravante de estarmos em tempo de guerra.Se eu quisesse ia de imediato para a prisão antes de almoçar! Corei e pensei, isto não me está a acontecer!
Se o 1º dia na Guiné tinha sido mau o 2º era pior! Falámos um pouco e ficou-se pelo aviso, que me serviu para sempre.
Contei o sucedido ao comandante do nosso destacamento 52,à data cap. Almeida Brito ( que Deus o tenha em bom lugar) e este, informou o pessoal que a missão dos inspectores da PIDE no nossos meio, era precisamente para nos protegerem.
A partir desse dia foi um grande amigo, a quem recorri passados cerca de 2 meses, para me ajudar a descobrir quem me tinha roubado da mala a minha carteira com todo o dinheiro.
No dia seguinte ao meu pedido, disse-me para não deixar a mala fechada à chave, porque a carteira seria lá colocada nesse dia.À noite lá estava a carteira com todo o dinheiro.
Depois disse-me quem a tinha roubado.
Quando terminei a missão, ainda lá ficou o amigo Silva
Fabrício Marcelino
VB: Caro Fabricio,realmente as tuas histórias continuam a encher o nosso espaço de recordações que não voltam.
Os teus tempos na Guiné,o inicio da guerra, devem ter sido de um vivência para nunca mais esquecer e nós cá estamos para ler essas tuas passagens que nunca nos cansamos de compartilhar contigo.