João Carrilho
2ºSargº.Mil.Melec/Inst./Av. Guiné
Vila Franca de Xira
Caríssimos, Amigos da linha da frente.
Para quem não sabe, vai fazer 35 anos, que tivemos um avião militar detido pelo governo espanhol, nas Canárias, quando estava em transito para a Guiné.Isto aconteceu no mês de Abril de 1974.
Fazendo um pouco de história, tinha eu, estado em Aldeia Formosa na Guiné, a colaborar na reparação da avaria do motor 1 do NORD 6425, nos dias 09,10, 11, regressando no dia 12 a Bissalanca, quando neste mesmo dia, fui solicitado para fazer parte da tripulação do NORD 6424, que iria ser inspeccionado nas OGMA em Alverca do Ribatejo.A partida deu-se no dia 13, para o continente, com chegada no mesmo dia, já tarde.
Passadas 2 semanas , foi dada como terminada a inspecção, assim como os ensaios em terra e no ar, sendo a aeronave registada como operacional para regressar à Guiné.
Estando previsto levar um FIAT-G91, o mesmo foi carregado e acondicionado devidamente dentro do NORD.
No dia 24, colocou-se o avião no AB1, já abastecido, sendo a partida programada para 25 de Abril de 1974, às 07h30m.A tripulação chegou com a devida antecedência ao AB1, afim de cumprir os requisitos inerentes à viagem, sendo a 1ª paragem nas Canárias.Achei muito estranho, na porta de armas, mesmo depois de feitas as identificações, haver ordens para não deixarem entrar ninguém. O comandante de bordo do NORD 6424, Sr. Capitão Carvalho, solicitou a presença do oficial dia de serviço, o que veio a acontecer, sendo permitida a entrada na unidade.
Nesta altura já havia bastante confusão, com as informações que iam chegando, e observava-se mesmo no local, visto que do lado de fora da vedação que separava a parte militar da civil, havia forças do exército , o que não era de todo normal.
Como o objectivo inicial, era levar o NORDATLAS para a Guiné, e não havendo indicações em contrário, o Pilav. Cap. Carvalho, foi fazer o plano de voo, sendo dada autorização ao NORD 6424, para iniciar a viagem, com escala nas Canárias, Cabo verde e por fim Base Aérea nº12., na Guiné.
Nesta altura o aeroporto da portela em Lisboa, já estava ocupado e terá sido segundo julgo saber, o único avião militar, autorizado a levantar voo nesse dia, do AB1.Pelas 07h30 do dia 25, lá levantamos, exigindo-se tudo aos motores do avião, pela carga que trazia.
Fomos ganhando altitude, progressiva e lentamente, até atingirmos os valores planeados, com rumo à ilha da Gran Canária.Durante a viagem de +/- 5horas, acompanhávamos as noticias pelo rádio, com as interrogações normais sobre o que se estava a viver no continente, e até a sensação que poderíamos ter sido atingidos quando sobrevoamos a capital, naquela altura tudo poderia acontecer.
Chegados às Canárias, reabasteceu-se o avião, e decidiu-se ir almoçar.
Quando regressamos, fomos abordados por militares espanhóis, devidamente equipados, dizendo eles, que tinham ordens do chefe das forças armadas de Espanha, para deter o avião e a tripulação.
A razão para tudo isto, é fácil de compreender que era política, devido às relações entre os dois países e pelo momento de instabilidade que se vivia em Portugal. Os pormenores não vim a saber.
Durante esse dia, ficamos dentro da base militar espanhola, de Gando, agregada ao aeroporto civil.
Falei com alguns militares espanhóis durante o tempo que estivemos nas Canárias, sobre as noticias e imagens vindas a publico, mostrando-se eles, receptivos a um processo idêntico, sem grandes comentários, como não poderia deixar de ser, porque o regime em Espanha, era semelhante ao que deixava de existir Portugal.
No dia 26, pelas 10h30, recebemos a autorização para seguir viagem.
Criadas as condições, arrancamos pelas 14h30m, com rumo à ilha do Sal em Cabo Verde, onde chegamos ao fim da tarde.
O Nordatlas estacionado na placa do aeroporto da Ilha do Sal
Foto cedida pelo João Carrilho ao Blog Especialistas BA12
Pernoitamos na ilha, e já no dia 27 pelas 08h30, colocamos os motores em marcha para a ultima etapa, com chegada à BA12 pela 12h00.
Na Guiné, já se vivia os acontecimentos, havendo mesmo alguma agitação, na população, com personalidades afectas ao anterior regime e até alguma sensação de insegurança, principalmente para quem tinha família a viver na cidade de Bissau.
Um grande abraço, para toda a família que viveu momentos inesquecíveis, e um bem haja a todos o que mantém este Blogue vivo, particularmente para o meu amigo Victor Barata que deu luz a todo este processo.
Estou a fazer todos os possíveis e impossíveis para estar presente em Vouzela.
Estou a fazer todos os possíveis e impossíveis para estar presente em Vouzela.
Estão em curso as negociações com um colega em gozo de férias, afim de vir fazer dois turnos das 00/08h.
O acordo está no bom caminho, confirmarei mais tarde a minha presença.
João Carrilho
VB. Pois muito bem meu caro companheiro EngºCarrilho,espero que consigas manter os pergaminhos que te conheci à 40 anos,de bom negociante a" matar" reforços,para que nos possas dar o prazer da tua companhia no dia 30 de Maio em Vouzela.