sábado, 20 de fevereiro de 2010

VOO 1494 A FARDA DESTA FOTO CUSTOU 500$00!


Victor Sotero Cavaleiro
Sargº.Mor EABT
Damaia




Meu Comandante
Boa tarde, bem assim como a todos os "ZÉS" que nesta base estão "colocados"
Proponho-me para mais uma aterragem na pista desta Base onde depois de ter perfurado as nuvens, me encontro agora com a pista à vista e já iluminada com os célebres "candeeiros de torcida e a petróleo".
As sextas-feiras na B.A.2, eram sempre de muita ansiedade para quem podia passar o fim de semana junto das famílias (e não ficava de reforço de castigo). Outros, por serem de longe ou por qualquer outro motivo, por lá ficavam até ao nosso regresso de domingo à noite.
Junto à porta de armas, os autocarros por vezes mais de vinte
só para Lisboa, pertenciam à empresa Eduardo Jorge e eram amarelados. Á medida que cada um ia ficando cheio, lá iam direitos ao Marquês de Pombal, local onde toda a gente saia. Ao Domingo, era também a partir do Marquês de Pombal que se regressava à Base.
Como recruta, sempre utilizei este transporte. Eram 20 escudos ida e volta.
Como aluno, comprei a um "ZÉ" que já tinha a farda amarela, pois ia embarcar para o Ultramar, a farda cinzenta por 500 escudos. É verdade que não tinha sido feita por encomenda mas também não me ficava muito mal.
Comecei então a experimentar a "boleia".
Saia da Base com uma pequena malita de roupa suja e lá vinha eu pela recta fora até ao cruzamento. Tomava a direcção da vila de Ota e onde a estrada fazia uma pequena curva, ali ficava depois desta. Era um local escolhido estratégicamente.
Meu Comandante: Tanto para o lado de Lisboa como para o lado do Porto só se viam militares à berma da estrada a pedir boleia.
Eu, mal chegava e com um estilo muito próprio, o primeiro carro que passava era o que me levava. Muita sorte eu tinha.
Como não havia ainda auto estrada, os carros para Lisboa passavam pela estrada nº1 no mínimo iam entrar depois em Vila Franca de Xira.
Apanhei boleia nos melhores carros da época. Lembro-me de um Alemão com um Mazaratti. Ia descalço e foi a primeira vez que andei a 200Kms/hora.
Lembro-me também de uma rapariga que me levou no seu FIAT Neckar, com as portas a abrir para a frente, para sua casa algures em Odivelas. Foi ela que me lavou a roupa nesse fim de semana e não fui a casa.
Lembro-me ainda de muitas boleias que apanhei tanto com homens como com mulheres. Uma vez, até o Alves Barbosa me deu boleia num FIAT 1500.
Por vezes, nem sempre as boleias eram bem intencionadas por quem as dava. Então, pedia para pararem e lá ficava até apanhar nova boleia.
Uma vêz, um motorista de uma camioneta levou-me para Lisboa mas sem entrar na Auto Estrada. Continuamos pela Estrada nº 1.
Ao chegar a STA IRIA da AZOIA, parou a camioneta junto a um armazem e disse-me: "Ajude-me aqui a descarregar a camioneta que já o levo para Lisboa." Fiquei um bocado aparvalhado, mas lá o ajudei a descarregar sacos de farinha.
A partir daqui, fiquei sempre de olho aberto às camionetas.
Também não aceitava muito bem que um carro não tivesse rádio e um dia até recusei a boleia mas sinceramente, ainda hoje estou arrependido.
Devo dizer que logo que tive carro, também dava boleias mas sempre a militares. Hoje, não. Nem se vêem militares à boleia.
Os tempos é que eram diferentes.
Meu Comandante: Voltarei. As minhas boleias não ficam por aqui.
Para todos os "ZÉS" especiais que aqui aterram bem como para os nossos Comandantes, As minhas saudações aeronáuticas.

SOTERO

VB: De facto era uma vida engraçada,esta coisa da boleia.Como dizes,apanhava-se de tudo um pouco e até escolhíamos a viatura que queríamos,só ao domingo à noite é que era mais complicado,éramos muitos e tínhamos horas de entrar na base.